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Reportagens sobre imóveis do clã Bolsonaro vencem prêmio de jornalismo

A família Bolsonaro reunida em torno de Olinda, mãe do presidente - Arquivo Pessoal
A família Bolsonaro reunida em torno de Olinda, mãe do presidente Imagem: Arquivo Pessoal

16/11/2022 13h36

O UOL venceu o Prêmio Livre.jor de Jornalismo-mosca —que destaca reportagens feitas com dados públicos ou que promovam mecanismos de transparência— com a série de reportagens sobre as transações imobiliárias da família Bolsonaro, de autoria dos colunistas Juliana Dal Piva e Thiago Herdy.

O UOL também ficou com o segundo lugar na premiação com a série de reportagens sobre os cargos secretos no governo do estado do Rio de Janeiro, realizada pelos repórteres Ruben Berta e Igor Mello. O UOL recebeu ainda menção honrosa com o especial Mortes Invisíveis, dos repórteres Amanda Rossi, José Dacau e Saulo Pereira Guimarães.

Imóveis do clã Bolsonaro. Nas reportagens, Dal Piva e Herdy mostraram que o presidente, seus filhos, irmãos e suas duas ex-mulheres negociaram 107 imóveis, dos quais 51 foram comprados total ou parcialmente com dinheiro vivo.

As compras registradas nos cartórios com o modo de pagamento "em moeda corrente nacional", expressão padronizada para repasses em espécie, totalizaram R$ 13,5 milhões. Em valores corrigidos pelo IPCA, este montante equivale, nos dias atuais, a R$ 25,6 milhões.

Para o levantamento, o UOL consultou durante sete meses 1.105 páginas de 270 documentos requeridos a cartórios de imóveis e registros de escritura em 16 municípios, 14 deles no estado de São Paulo. Percorreu pessoalmente 12 cidades para checar endereços e a destinação dada aos imóveis, além de consultar processos judiciais que envolvem a evolução patrimonial da família Bolsonaro —25 imóveis suscitaram investigações.

A série de reportagens, publicada nos meses de agosto e setembro, teve enorme repercussão, pautando o debate das eleições presidenciais. Adversários do presidente Jair Bolsonaro (PL) utilizaram as revelações para criticá-lo durante debates e entrevistas. O presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT) utilizou amplamente o material para desconstruir o rival, criando spots de rádio e TV sobre o tema.

Diante da repercussão das reportagens, a família Bolsonaro fez um esforço para tentar censurá-las. O senador Flávio Bolsonaro (PL), um dos citados na reportagem, chegou a conseguir uma decisão liminar na Justiça do Distrito Federal para que a reportagem —assim como posts nas redes sociais de Dal Piva— fosse removida do ar. Contudo, o STF (Supremo Tribunal Federal) derrubou a censura e manteve as matérias no ar.

Cargos secretos no RJ. Ao longo de dezenas de reportagens, os repórteres Ruben Berta e Igor Mello desvendaram um esquema de corrupção que movimentou centenas de milhões de reais com a contratação de pessoas sem qualquer tipo de processo seletivo ou transparência em projetos realizados por órgãos do estado em parceria com a Fundação Ceperj (Centro Estadual de Estatísticas, Pesquisas e Formação de Servidores Públicos do Rio de Janeiro), espécie de IBGE fluminense.

Grande parte dos recursos recebidos pelos contratados —muitos deles indicados por políticos ligados ao governador Cláudio Castro (PL)— foram sacados na boca do caixa em agências do banco Bradesco.

Investigações do MP-RJ (Ministério Público do Rio de Janeiro), abertas com base nas reportagens do UOL, identificaram saques de R$ 248,4 milhões feitos dessa forma. As reportagens também revelaram o aparelhamento político dos programas com cargos secretos, usados para empregar cabos eleitorais de candidatos do grupo político de Castro.

O próprio governador, vários de seus secretários e aliados se tornaram alvos de diversas investigações abertas com base nas reportagens: o MP-RJ, a Procuradoria Regional Eleitoral, a PGR (Procuradoria- Geral da República) e o Tribunal de Contas do Estado abriram investigações com base nas revelações.

A investigação do MP-RJ constatou uma série de irregularidades apontadas pelo UOL e gerou uma ação civil pública, que resultou na suspensão de todos os repasses aos programas com cargos secretos.

Especial sobre desaparecidos. A reportagem —que recebeu menção honrosa na premiação— cruzou dados públicos para mapear 201 vítimas cujos corpos foram descartados em valas clandestinas no Rio de Janeiro e em São Paulo.

Segundo o levantamento, o crime organizado é o responsável pelos desaparecimentos forçados. Em São Paulo, 156 cadáveres foram enterrados em 33 valas clandestinas. Já no Rio, foram localizados 45 corpos escondidos desta forma.

Sobre o prêmio. O Prêmio Livre.jor de Jornalismo-mosca está em sua quarta edição e é promovido pela agência de jornalismo independente Livre.jor, sediada no Paraná.

De acordo com a organização, a premiação "tem como finalidade identificar, catalogar, reconhecer e certificar jornalistas e estudantes de jornalismo de todo o país cujo trabalho esteja indubitavelmente atrelado à promoção da cultura da transparência e do direito de acesso às informações de interesse público".

O UOL também ficou em primeiro lugar no prêmio em 2020, com a reportagem especial "A mão invisível da milícia", dos repórteres Igor Mello e Lola Ferreira.