Vendas de consórcios crescem 14% em 2022. Vale a pena? Como funciona?
A alta da taxa básica de juros de 2% para 13,75% ao ano em um curto espaço de tempo - entre março de 2021 e o último mês de agosto - encareceu os empréstimos e tem feito aumentar a procura por consórcios. De acordo com dados da Abac (Associação Brasileira de Administradora de Consórcios), a modalidade vem registrando recordes no número de participantes neste ano. Entre janeiro e setembro de 2022, foram 2,95 milhões de novas cotas negociadas, ante 2,58 milhões de adesões em igual período do ano passado, uma expansão de 14,1%.
Esse movimento resultou no acréscimo de 9,1% no número de participantes ativos de consórcios no país em 1 ano, alcançando em setembro a nova marca recorde de 9,12 milhões de pessoas.
Apesar do avanço dos consórcios em diferentes nichos, a modalidade continua sendo usada principalmente por quem quer compra carro ou imóvel. Com uma fatia de 43,4% do mercado de consórcios, o segmento imobiliário teve avanço de 20,5% nas vendas de créditos comercializados entre janeiro e setembro, chegando a R$ 83,3 bilhões. Por sua vez, os consórcios de veículos, com uma participação de 56% do total, ampliaram as vendas em 15%, para R$ 93,2 bilhões.
O volume de crédito comercializado no ano pelas empresas já soma R$ 191,9 bilhões, o que corresponde a uma alta de 17,2% na comparação com os 9 primeiros meses de 2021. Mas vale a pena contratar um consórcio? Como funciona? Quais as vantagens e desvantagens? E o que o consumidor deve observar?
Como funciona? O consórcio funciona como uma poupança forçada, uma forma de juntar patrimônio para um objetivo específico. De maneira resumida, para fazer parte de um consórcio, a pessoa precisa contratar uma carta de crédito. Esse documento atesta que o consorciado tem direito a um valor 'x' na hora que for contemplado pela administradora ou após pagar todas as prestações.
Luciana Precaro, business owner de Consórcios da Sinqia, empresa que trabalha com o fornecimento de software para o mercado financeiro, diz que a modalidade parte do princípio da colaboração, o que faz com que o risco seja compartilhado entre todos os cotistas. Se há um problema de inadimplência, isso é dividido entre os beneficiários, por exemplo.
O consórcio não é um produto novo. O sistema é oferecido no mercado brasileiro desde 1961. Apesar do amplo uso para compra de veículos e imóveis, o segmento ampliou sua atuação para outros nichos da economia, como eletroeletrônicos, bens duráveis e até serviços como reformas residenciais, turismo e saúde.
Público alvo. Os consórcios costumam ser indicados para quem não tem dinheiro para comprar o bem à vista ou não tem urgência.
Quem precisa de um bem de forma imediata costuma recorrer a financiamentos, mesmo com juros que podem elevar a fatura de forma considerável ao longo do tempo. Já quem pode esperar mais até usufruir do produto tem o consórcio como uma boa opção, uma vez que não há a necessidade de arcar com os juros, afirma o presidente executivo da ABAC, Paulo Roberto Rossi.
Quais são as taxas e juros? Antes de entrar em um consórcio, o consumidor deve entender que o pagamento das parcelas possui uma taxa de administração, percentual cobrado dos cotistas para remunerar a atividade das administradoras. Essa taxa geralmente varia entre 15% a 20% do montante contratado, a depender do setor. Esses valores são cobrados de forma diluída ao longo do prazo do contrato.
Além disso, tanto a carta de crédito contratada quanto as mensalidades são corrigidas pelo IPCA, indicador que mede a inflação no Brasil, ou o INCC, que calcula a inflação da construção civil. Então, mesmo sem cobrança de juros, existe uma correção nos valores das parcelas.
Para quem é indicado? A planejadora financeira Paula Bazzo diz que o consórcio pode valer a pena, mas que isso depende da situação financeira do consorciado. Muitas pessoas veem o segmento como uma saída para ter acesso a bens que demandam bastante capital. Uma das vantagens é não ter a necessidade de oferecer 20% ou 30% de entrada, como em um financiamento.
Paula também menciona um comportamento importante para a forte adesão dos brasileiros aos consórcios. Com a dificuldade de planejamento financeiro, muitas pessoas acabam optando por este tipo de produto para 'se ver livre' da dívida. "A partir do momento em que a pessoa decide comprar alguma coisa, é muito mais difícil se organizar e guardar [o dinheiro] em um investimento para obter rentabilidade, do que pagar uma prestação", diz ela.
Consórcio é investimento? Tecnicamente, consórcio não pode ser classificado como investimento. Isso porque não há uma rentabilidade pelos pagamentos desembolsados a cada mês.
Vale lembrar que investimentos de renda fixa, como CDBs ou títulos do Tesouro Direto, oferecem atualmente retornos próximos a 12% ao ano bruto pelas aplicações. Ainda que o investidor tenha que pagar entre 15% a 22,5% de Imposto de Renda, ele teria hoje um ganho maior do que a inflação.
O que observar? Entre algumas das vantagens do consórcio, o presidente executivo da ABAC aponta:
- Parcelamento integral;
- Diversidade de prazos para pagamentos;
- Poder de compra à vista;
- Possibilidade mensal de obter o crédito por meio de sorteio;
- Utilização de até 10% do crédito para despesas com escritura, certidões e seguro.
Contudo, Rossi afirma que é preciso tomar alguns cuidados. Para quem desiste do consórcio no meio do caminho, por exemplo, há multas que podem variar entre 10% a 20% do total pago.
É necessário checar também se o valor do crédito e o prazo de duração do grupo estão definidos, as obrigações referentes à de taxa de administração, fundo de reserva e seguro, o critério de correção do crédito pela administradora e as garantias para receber o bem, assim como as regras de contemplação do sorteio e do lance.
Demora para conseguir o bem. Embora seja visto como uma opção mais barata que o financiamento, vale lembrar que quem contrata um consórcio pode ter que esperar o pagamento de todas as prestações para ter a posse do bem.
No consórcio, todos os meses há um sorteio que contempla integrantes do grupo. Também é possível obter o produto dando um lance, como se fosse um leilão. Caso o lance seja selecionado, o cliente recebe a carta antecipada. Para isso, precisa ter o valor do lance à vista. Normalmente, o lance pode chegar a entre 30% a 40% da carta de crédito. O valor pago no lance é descontado do custo final.
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