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Governo e entidades pressionam, mas Copom mantém Selic em 13,75%

Do UOL, em São Paulo

21/06/2023 18h38Atualizada em 23/06/2023 10h52

O Copom (Comitê de Política Monetária) do BC (Banco Central) decidiu hoje manter a taxa básica de juros da economia, a Selic, em 13,75% ao ano.

O que aconteceu

Juros a 13,75% ao ano é o mesmo valor que foi fixado nos últimos oito encontros, desde agosto de 2022, considerando a primeira elevação da taxa e as sete manutenções até hoje.

O comitê responsabilizou a inflação para a manutenção da taxa novamente: "Medidas de inflação subjacente seguem acima do intervalo compatível com o cumprimento da meta para a inflação".

Entre os riscos de alta, o Copom falou que há "incerteza residual sobre o desenho final do arcabouço fiscal", que ainda deverá ser apreciado pelo Congresso.

"Sem prejuízo de seu objetivo fundamental de assegurar a estabilidade de preços, essa decisão também implica suavização das flutuações do nível de atividade econômica e fomento do pleno emprego", diz a nota.

A decisão era esperada por economistas e boa parte do mercado aposta em queda só a partir de agosto deste ano, com expectativa de que o Banco Central culparia a alta da inflação para explicar a manutenção dos juros a 13,75%.

Banco Central não sinaliza quando deve baixar os juros

O Copom, no comunicado, reforçou que segue adotando "cautela e parcimônia", já que a inflação não está em queda na velocidade desejada. Além disso, as expectativas de inflação ainda estão altas.

Nas últimas semanas o mercado e analistas aumentaram as apostas num início do ciclo de corte de juros já na reunião de agosto, o que não teve nenhuma sinalização de que irá acontecer. "O comunicado da decisão do Copom deve, na minha leitura, fazer com que parte desses analistas revisem para a reunião de setembro pela ausência no comunicado de uma menção explícita às condições para o início de um ciclo de corte de juros", diz Gabriel Fongaro, economista senior do Julius Baer Family Office.

"Quanto ao comunicado, o BC não aliviou em nada o tom das últimas reuniões e enfatiza que não basta inflação corrente em queda, mas expectativas (de inflação) ancoradas", afirma o economista André Perfeito.

Se mantiverem a coerência com a estratégia e com o conjunto de variáveis financeiras atuais, o Banco Central provavelmente irá cortar os juros "mais que o mercado espera", diz o economista André Perfeito. Ele tem perspectiva de corte de juros na próxima reunião com uma afrouxamento inicial de 50 pontos base e levando a SELIC a 11,75% ao final do ano.

O Comitê avalia que a conjuntura demanda paciência e serenidade na condução da política monetária e relembra que os passos futuros da política monetária dependerão da evolução da dinâmica inflacionária, em especial dos componentes mais sensíveis à política monetária e à atividade econômica, das expectativas de inflação, em particular as de maior prazo, de suas projeções de inflação, do hiato do produto e do balanço de riscos.
Copom após reunião de junho

Entidades pressionam por corte

13,75% é a maior taxa desde o reajuste estabelecido de dezembro de 2016 até 11 de janeiro de 2017, quando também estava em 13,75%. A última vez em que a Selic teve um valor mais alto do que esse foi no ciclo de 19 de outubro de 2016 até 30 de novembro de 2016, quando o índice foi a 14% ao ano.

Entidades do setor produtivo se juntaram ao governo Lula (PT) na pressão pela redução dos juros.

Em nota, a Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo) disse que "este é um momento crucial para a autoridade monetária decidir pelo início do ciclo de baixa da taxa de referência, dando fôlego à economia".

A Abrainc (Associação Brasileira de Incorporadoras Imobiliárias) afirmou que o alto valor da Selic compromete a geração de empregos e "torna inviável a compra de imóveis por milhares de famílias, comprometendo o desempenho de um setor que gera 10% dos empregos formais no Brasil".

Hoje, 51 membros do Conselhão publicaram uma carta aberta a favor da redução das taxas: "É urgente uma política monetária adequada". Entre os signatários, estão Josué Gomes, a empresária Luiza Trajano e o presidente da CUT (Central Única dos Trabalhadores), Sergio Nobre.

Lula e o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, fazem críticas à manutenção da taxa desde que assumiram os cargos no início do ano. Presidente do PT, Gleisi Hoffmann, chegou a chamar os juros de "genocidas" em maio.

O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, disse que as críticas de Lula demonstram "falta de conhecimento" sobre a autonomia da instituição. "Algumas declarações vão no sentido de não entender a regra do jogo", falou à Folha de S. Paulo em maio.

Nada justifica o Brasil seguir com o título de campeão mundial de juros reais [...] Famílias e empresas estão endividadas e o crédito está caro e escasso. Esse ambiente hostil compromete o futuro do Brasil".
Comunicado de Josué Christiano Gomes da Silva, presidente da Fiesp

Selic nas últimas dez reuniões

  • 21 de junho de 2023: 13,75% ao ano
  • 03 de maio de 2023: 13,75% ao ano
  • 22 de março de 2023: 13,75% ao ano
  • 01 de fevereiro de 2023: 13,75% ao ano
  • 07 de dezembro de 2022: 13,75% ao ano
  • 26 de outubro de 2022: 13,75% ao ano
  • 21 de setembro de 2022: 13,75% ao ano
  • 03 de agosto de 2022: 13,75% ao ano
  • 15 de junho de 2022: 13,25% ao ano
  • 04 de maio de 2022: 12,75% ao ano

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