Quanto vale o Biscoito Globo? Entenda disputa por herança de fundador

Símbolo das praias cariocas, o Biscoito Globo enfrenta um processo na Justiça envolvendo a herança de um dos seus fundadores. Tramitando desde 2017, a ação ganhou novos capítulos recentemente, com a penhora dos bens da empresa e a perícia das contas. Entenda a disputa e por que os valores da marca estão sendo questionados.

O que aconteceu

Um dos quatro sócios-fundadores morreu em 2015. João Ponce Fernandes fazia parte da sociedade da Panificação Mandarino, dona da marca Biscoito Globo. Ele fundou a empresa ao lado dos irmãos Milton e Jaime em 1953.

A morte de João deu início a uma disputa pela herança. Ele deixou a viúva, Roberta Ponce, e uma filha, Gleice. João tinha ainda outras três filhas, fruto de um casamento anterior. Roberta e Gleice questionam na Justiça os valores de lucro da empresa a que têm direito. Elas discordaram da partilha e pediram uma perícia judicial. As outras três filhas não entraram com processo.

Tretas do processo

A empresa foi avaliada em R$ 360 mil no momento da partilha. As herdeiras de Fernandes receberam R$ 90 mil, o que corresponde a 25% da empresa, ou seja, a parte que cabe a João Ponce Fernandes, informou a advogada Mariana Zonenschein, do escritório Asseff Zonenschein, que representa a viúva, Roberta..

As herdeiras contestam este valor. Em 2017, elas entraram com ação para rever os cálculos. Em 2018, a Justiça determinou que fosse feita uma perícia para descobrir quanto a empresa vale. O processo corre em segredo de Justiça.

Elas dizem que o valor da empresa não inclui a marca "Biscoito Globo". Sem isso, o inventário estaria incompleto, argumenta a advogada de Roberta.

Viúva contesta valor mensal recebido pela participação do marido na empresa. São R$ 3.000 por mês, referentes ao lucro da empresa — o que ela considera pouco.

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A Panificação Mandarino, dona dos Biscoitos Globo, não pagou a perícia. Isso atrasou o processo, que esteve parado desde 2018.

A Justiça mandou congelar as contas da empresa. Em 21 de junho deste ano, o juiz Diego Isaac Nigri, da 2ª Vara de Família da Comarca Regional da Barra da Tijuca, na Zona Oeste do Rio de Janeiro, determinou a penhora das contas da empresa para pagamento de metade do valor dos honorários do perito judicial. Para a advogada, a perícia é uma etapa fundamental do processo. Se o valor definido pelo perito for maior que o informado pela empresa, a Justiça pode exigir o recálculo do montante pago aos herdeiros.

Após cinco anos de espera, a perícia foi marcada para verificar os valores da empresa. Na segunda-feira (7), a advogada Zonenschein confirmou que a perícia teve início e, agora, aguarda o resultado para dar andamento no processo. Segundo ela, não há prazo pré-determinado.

Não temos acesso à documentação interna da empresa para verificar qual o real valor da companhia, então esse fato precisa ser apurado pelos peritos do juízo.
Mariana Zonenschein, advogada do escritório Asseff Zonenschein

Viúva diz estar passando necessidades

Viúva diz estar desamparada e que plano de saúde foi cortado. Segundo a advogada da herdeira diz que Roberta dependia integralmente da receita do marido. "Depois que ele faleceu, a conduta dos sócios foi inapropriada, chegando a cortar o plano de saúde dela, que é uma mulher idosa", contou.

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Advogado da empresa alega que o corte do plano de saúde seguiu as regras de partilha da herança. "Após a morte de um sócio, os herdeiros recebem o valor correspondente à parte do sócio falecido. Mas após não terem mais vínculo com a empresa, o desligamento do plano de saúde é automático", justifica o advogado João Borsoi Neto.

Demora no processo afeta finanças da viúva. A advogada de Roberta afirmou que a viúva está passando por dificuldades financeiras por conta da demora.

Empresa contesta versão. O advogado da empresa, por sua vez, alega que a viúva tem recursos próprios de um ateliê de costura, e que vive uma vida de luxo. Segundo ele, a legislação exclui qualquer responsabilidade de sustento das herdeiras.

Vai faltar Biscoito Globo na praia?

Produção não foi afetada. Apesar da penhora de parte dos bens da empresa, o advogado João Borsoi Neto, que representa o Biscoito Globo, diz que a produção não foi afetada.

Nas praias, as vendas seguem normalmente. O consumidor não tem dificuldades de comprar a guloseima. Além da venda feita por ambulantes nas areias do Rio, o Biscoito Globo é vendido também no varejo, em supermercados e lojas especializadas. A compra pode ser feita tanto por pessoas físicas, quanto jurídicas. Além da entrega, há a opção de retirada diretamente na fábrica.

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Dá para comprar Biscoitos Globo de qualquer lugar do Brasil pelo site da marca. Os pedidos são feitos em caixas com 25 pacotes de biscoito Globo, que saem por R$ 55. O valor mínimo para entrega é de R$ 90.

Atualmente, a fábrica fica localizada no centro do Rio de Janeiro, na Rua do Senado. A produção é exclusivamente dos biscoitos de polvilho, nos sabores doce e salgado.

O que é o Biscoito Globo?

Biscoito de polvilho nos sabores doce e salgado. Há décadas, o Biscoito Globo é presença certa nas praias do Rio de Janeiro, do Leme ao Pontal.

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É um produto da Panificação Mandarino, que nasceu em São Paulo e chegou ao Rio em 1955. A primeira produção de biscoitos foi feita no bairro Ipiranga. João Ponce Fernandes fundou a empresa com dois irmãos, Milton e Jaime. O quarto sócio, Francisco Ferrão, entrou na empresa quando ela se mudou para o Rio.

O produto ficou conhecido nas embalagens de papel brancas, e hoje são de plástico. As cores diferenciam os sabores: amarela e verde para o salgado, e amarela e vermelha para o doce.

As embalagens são tão famosas que já viraram estampas de camisetas. Elas também estão em objetos de decoração, bolsas, entre outros itens.

Produção diária de 5.000 a 7.000 saquinhos de biscoito. Os dados estão em uma matéria do jornal Folha de S.Paulo, publicada em junho deste ano. A empresa não quis comentar os números de produção.

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