Preços do diesel e gasolina na Petrobras mudam hoje; como fica na bomba?
Começa a valer neste sábado (21) a redução do preço da gasolina em 4,1% nas refinarias da Petrobras e o aumento do diesel em 6,6%. Entenda o impacto esperado nas bombas e as perspectivas para os preços dos combustíveis no Brasil em meio a um cenário de alta do petróleo.
O que esperar para os preços nas bombas
A Petrobras anunciou uma redução de R$ 0,12 no litro da gasolina e um aumento de R$ 0,25 no litro do diesel. Ambos os preços são para as distribuidoras. Apesar do preço mais caro para o diesel, a estatal destacou que que a variação no ano acumula redução de R$ 0,44 por litro. No caso da gasolina, a redução é de R$ 0,27 por litro no ano.
O economista Étore Sanchez, da Ativa Investimentos, calcula que o impacto na bomba deve ser de +3,7% para o diesel e de -2% para gasolina. O que deverá representar, em média, uma alta de R$ 0,20 no litro do diesel R$ 0,20 e uma redução de R$ 0,10 no litro da gasolina. A gasolina comum no país foi vendida esta semana com preço médio de R$ 5,74, segundo levantamento da ANP. Já o do diesel S-10 ficou em R$ 6,18
Postos têm autonomia para definirem os preços que vão cobrar. Os reajustes nas refinarias não significam, necessariamente, repasses imediatos para os consumidores. Outros fatores também influenciam o preço final, como impostos, mistura de biocombustíveis e a margem de lucro da distribuição e da revenda. Rodrigo Zingales, diretor executivo da Abrilivre (Associação Brasileira de Revendedores de Combustíveis Independentes e Livres), diz ser difícil estimar o impacto médio porque os valores variam muito de acordo com a localidade. Mas partindo do histórico, ele diz que distribuidoras podem praticar preços acima do novo valor médio anunciado pela Petrobras. Com isso, para o preço do diesel nas bombas, seria esperada uma alta de ao menos R$ 0,25 por litro. Para a gasolina, ele avalia que uma queda de R$ 0,06 por litro.
Por que o diesel subiu e gasolina caiu?
Desde o início do ano, a Petrobras não pratica mais o PPI (preço de paridade internacional). Com isso, existe uma defasagem entre os valores praticados no mercado doméstico em relação aos preços do exterior. Os dados mais recentes da Abicom (Associação Brasileira dos Importadores de Combustíveis) mostram que a defasagem média de preço maior é a do diesel, de -13%. Para a gasolina, é de -5%.
No comunicado de reajuste dos preços, a estatal destacou que os movimentos dos combustíveis são distintos. "Para a gasolina, o fim do período sazonal de maior demanda global significa maior disponibilidade e desvalorização do produto frente ao petróleo. Por outro lado, para o diesel, observa-se uma demanda global sustentada, com expectativa de alta sazonal, resultando em valorização do produto frente ao petróleo", afirmou, em comunicado.
A maior dependência de importação de diesel também ajuda a explicar o reajuste no preço. A defasagem em relação à paridade internacional era consideravelmente maior e a Petrobras importa mais diesel do que gasolina — cerca de 24% da demanda interna. Dados da ANP mostram que o Brasil importou 1,3 milhão de m³ do combustível em agosto.
A implementação da estratégia comercial, em substituição à política de preços anterior, incorporou parâmetros que refletem as melhores condições de refino e logística da Petrobras na sua precificação. Em um primeiro momento, isso permitiu que a empresa reduzisse seus preços de gasolina e diesel e, nas últimas semanas, mitigasse os efeitos da volatilidade e da alta abrupta dos preços externos, propiciando períodos de estabilidade de preços aos seus clientes.
Petrobras, em comunicado
A gasolina vai ter que subir em algum momento?
Com o reajuste da gasolina, aumentou a defasagem frente a paridade de preço de importação. Amance Boutin, analista da Argus, empresa especializada na produção de relatórios e análises de preços, avalia que não existia espaço para redução neste momento. Já a alta no diesel, segundo ele, conversa melhor com o atual cenário internacional. Segundo Sanchez, o corte de 12 centavos na gasolina amplia a defasagem para algo próximo de R$ 0,30. Já a alta do diesel ainda deixa resíduo altista de cerca de R$ 0,35. "Em outras palavras, o preço da gasolina precisaria subir R$ 0,30 e o diesel R$ 0,35, para se equiparar aos níveis internacionais", diz.
Ainda é cedo para saber o quão mais caros os combustíveis podem ficar em função da guerra entre Israel e Hamas. Especialistas avaliam que tudo depende da escalada do conflito — principalmente se houver o envolvimento de algum país que seja um grande produtor da commodity, como é o caso do Irã.
Desde o início da guerra no Oriente Médio, no começo do mês, o barril tipo Brent acumula alta de cerca de 10%. No dia 6, véspera do primeiro ataque do Hamas, o barril era cotado a US$ 84,58. Nesta sexta-feira (20), o petróleo chegou a US$ 93. Se as altas do petróleo perdurarem, é muito provável que os preços reflitam nos combustíveis no médio prazo, diz Walter de Vitto, sócio da Tendências Consultoria.
Para analistas, o preço praticado pela estatal não é sustentável no longo prazo. Fabio Silveira, sócio-diretor da MacroSector Consultores, avalia que o que está impedindo uma alta ainda mais forte é o período de desaceleração econômica pelo qual o mundo todo passa hoje. O economista diz que o movimento de queda no preço da gasolina neste momento foi possível visto que a defasagem era menor. Mas ele também acredita que a decisão mirou a inflação de alguma forma, já que o ano está terminando e a ideia é que o governo consiga ficar abaixo do teto da meta. Ele avalia que isso pode comprometer cortes na taxa de juros em 2024.
Isso vai trazer problemas mais adiante. Você remunerando a gasolina e óleo diesel na refinaria aquém do [valor] vigente no mercado internacional, a Petrobras vai ter um desconto nos preços das ações. Se a gente tiver uma piora nas condições políticas no Oriente Médio, para mim, não há dúvida de que gasolina e diesel teriam aumento de pelo menos 10%, 15% ou 20%. Se estender essa política [de preços] por muito tempo, vai comprometer a rentabilidade [da companhia] de 2024.
Fabio Silveira, sócio-diretor da MacroSector Consultores
Deixe seu comentário