Celulares e TVs podem ficar mais caros com seca na Zona Franca de Manaus

O preço de celulares e televisões podem ficar mais caros devido à seca no Amazonas. Estes produtos têm alta concorrência, baixa margem de preço e, por isso, os produtores podem precisar repassar aumentos dos custos de transporte ao consumidor final.

O que aconteceu

A seca no Amazonas está dificultando o transporte na Zona Franca de Manaus. A maior parte da produção da região é feita por meio dos rios e, com o nível baixo da água, houve a suspensão do transporte via navios. Há um problema de entrada de insumos e de saída e produtos prontos para a venda. O El Niño intensificou a seca característica deste período do ano na região e reduziu o nível de água nos rios.

Para driblar o problema, as fábricas estão buscando transportes alternativos, que são mais caros. Humberto Barbato, presidente executivo da Abinee (Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica), afirma que produtos com a margem de preço mais apertada são os que correm mais risco de ter um aumento ao consumidor final. Os principais itens em risco são os celulares, televisões e, em alguns casos, computadores.

O setor evita repassar preços ao consumidor devido à alta competição, segundo Barbato. No entanto, ele afirma que alguns empresários podem ser obrigados a repassar o aumento para bancar os custos com logística.

As empresas estão tendo mais custos para enviar os produtos e para receber insumos. Barbato diz que as companhias estão trocando os navios pelos aviões — que são mais caros e carregam menos mercadorias por vez — e atrasando alguns prazos de entrega para lidar com a dificuldade de transporte.

Todo mundo evita aumentar preços, porque pode perder mercado para o concorrente, mas eu também não posso garantir para você que não vai haver aumento, porque, em função dessa grande competição, as margens são muito apertadas.
Humberto Barbato, presidente executivo da Abinee

Mudança na logística

A seca fez o setor eletroeletrônico alterar a programação de produção. "Está acontecendo um problema que é o aumento dos custos de logística, porque tudo é motivo para o aumento de preço. Quando você tem uma dificuldade em algum mecanismo, automaticamente vai ter aumento de custo. Muita coisa que chegava por navio está tendo que chegar por avião, e aí aumenta sensivelmente os preços", afirma Barbato.

O transporte por aviões é mais caro e comporta menos mercadorias do que os navios. O navio é mais econômico por si só do que o avião e ainda comporta mais mercadorias de uma vez. É preciso fazer um número menor de viagens de navio para levar a mesma quantidade de produtos em aviões.

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O que encarece é o fato de substituir o navio pelo avião. Evidentemente, isso já tem um aumento de custo muito considerável. Para não parar a fábrica, no momento que eu sou obrigado a alterar a minha forma de trazer insumos, naturalmente, o custo sobe em função disso. Humberto Barbato, presidente executivo da Abinee

Expectativas do setor

A seca piorou as expectativas do setor de vendas para 2023 que já não eram as mais otimistas. Barbato diz que o setor espera uma queda de 6% no faturamento em comparação ao ano passado, puxado pela queda de vendas. "31% [da empresas do setor] acreditam que vão ter vendas menores do que o ano passado e 24% acreditam em instabilidade [no volume de vendas]. A gente realmente não tem uma expectativa tão positiva. O próprio índice de confiança do empresário está baixo", afirma Barbato.

O setor de eletroeletrônicos teme que a produção de ar-condicionado e de televisões possa ser prejudicada para o Natal devido à seca no Amazonas. A demanda pelos produtos é alta no final do ano e os produtos precisam ser enviados pelo transporte fluvial.

Ar condicionado e televisão são os principais problemas no momento no nosso setor eletroeletrônico. No final do ano são os dois produtos mais procurados. Temos a produção de micro-ondas, lava-louça, computadores, celulares, tabletes, fones, mas esses dois são os produtos que temos a necessidade de escoar a produção via fluvial. Computador e celular dá para mandar por aviões, por exemplo.
Jorge Nascimento, presidente executivo da Eletros (Associação Nacional de Produtos Eletroeletrônicos).

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