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Melhora do mercado de trabalho estimula consumo e guia avanço da economia

Imagem: Getty Images/iStockphoto

Alexandre Novais Garcia

Do UOL, em São Paulo

07/06/2024 10h55

A combinação entre o aumento da renda, a queda do desemprego, a antecipação de precatórios e novos beneficiários do Bolsa Família foi determinante para o avanço da economia brasileira no início de 2024. A união entre os fatores estimulou o consumo das famílias, principal motor da alta do PIB (Produto Interno Bruto) no primeiro trimestre, conforme dados apresentados pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).

O que aconteceu

O PIB do primeiro trimestre de 2024 mostra que a economia brasileira cresceu. No período, a soma de bens e serviços finais produzidos em território nacional cresceu 0,8% na comparação com os últimos três meses do ano passado. Na análise com igual período do ano passado, a alta foi ainda maior, de 2,5%.

Resultado positivo foi impulsionado pelo aumento de gastos da população. Liderado pelo salto de 3% do comércio nas duas bases de comparação, o consumo das famílias cresceu 4,4% ante os três primeiros meses do ano passado. A variação é vista como determinante para o avanço do setor de serviços.

Mercado de trabalho aquecido explica melhora dos indicadores de consumo. A queda do desemprego e o aumento de vagas com carteira assinada no início de 2024 são vistas como determinantes para a evolução dos indicadores relacionados à demanda. No primeiro trimestre, a taxa de desocupação atingiu o menor nível dos últimos 10 anos. Ao mesmo tempo, foram abertos 720 mil postos formais de trabalho no período.

A questão dos empregos em alta ou desemprego em baixa ajuda bastante o consumo das famílias. O setor de serviços está em posição muito favorável, mas existem dúvidas sobre a continuidade do processo de redução da taxa básica de juros, interferindo em todas as outras taxas da economia.
Gilberto Braga, professor de economia do Ibmec RJ

IBGE também identifica evolução recorde da massa de rendimento salarial. A última divulgação da Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios) aponta que o salário médio dos brasileiros aumentou 4,7%, para R$ 3.151. Com a oscilação, a soma dos rendimentos nacionais alcançou R$ 313,1 bilhões, o maior valor da série histórica.

Liberação de precatórios e auxílios também contribuem. Outros fatores citados pelos especialistas como determinantes para o crescimento do consumo envolvem a antecipação do pagamento de R$ 30 bilhões em precatórios, o aumento do salário mínimo acima da inflação e a ampliação do número de beneficiários dos auxílios governamentais.

O aumento dos programas de transferências de renda elevam o poder de consumo, como foi observado, e reflete diretamente no comércio. Já o reajuste do salário mínimo acima da inflação traz um impacto também positivo, porque você pega um grupo de aposentados ou de pensionistas que não estão necessariamente no mercado de trabalho, mas que também consomem.
Alex Nery, professor da FIA Business School

Indústria ainda patina

Dados do IBGE revelam que o setor industrial sofre para crescer. Diferentemente da situação dos serviços, os números do PIB mostram uma situação ainda adversa para o segmento industrial. No primeiro trimestre, o ramo recuou 0,1% ante os últimos três meses do ano passado.

Indústrias de transformação foi a única a expandir no trimestre. O resultado negativo foi puxado pela retração de 1,6% das áreas de eletricidade e gás, água, esgoto e atividades de gestão de resíduos. Também registraram queda as áreas extrativas (-0,4%) e da construção (-0,5%).

Produção industrial voltou a cair no mês de abril. Após fechar o primeiro trimestre com duas altas mensais consecutivas, o setor responsável por quase 25% do PIB nacional recuou 0,5% em abril, segundo o IBGE. Braga reforça que o cenário é resultado de incertezas atuais. Ele reforça o patamar ainda elevado da Selic mesmo após a sequência de sete quedas da taxa, de 13,75% para 10,5% ao ano.

Se existem razoáveis dúvidas sobre a intenção do governo e as taxas de juros elevadas, é melhor não correr o risco de investir, contratar, produzir e ter que vender e cobrar sem saber se vai receber.
Gilberto Braga, professor de economia do Ibmec RJ

Indústria tem sido escanteada. Nery avalia que o resultado do setor no início de 2024 não é extremamente preocupante devido às altas apresentadas na comparação anual. Ainda assim, ele defende um olhar mais cuidadoso e políticas de estímulo para beneficiar o ramo. "A gente precisa sempre ficar de olho na indústria porque o Brasil tem esse histórico de ser um país muito voltado para a agropecuária e que não pensa tanto na nossa indústria."

Crescimento ameaçado

Bom desempenho do PIB não deve se repetir nos próximos trimestres. Com os juros ainda elevados e o impacto das enchentes no Rio Grande do Sul, as previsões apontam para a interrupção do avanço observado nos primeiros três meses deste ano.

Cumprimento da meta de zerar o déficit fiscal ainda é incerto. O mercado financeiro ainda aposta na promessa do Ministério da Economia para as contas públicas em 2024. Ainda assim, a posição esbarra em posições divergentes entre a pasta e membros do governo mais alinhados com o presidente Lula. "O que o governo vai fazer para cumprir a meta é a grande incógnita", diz Alex Nery.

Continua muito nebuloso para a gente conseguir fazer uma análise mais precisa do que vai acontecer lá para frente, porque as coisas vão mudando no meio do caminho.
Alex Nery, professor da FIA Business School

Consumo do governo fica estável após alta em todos os trimestres de 2023. Os gastos públicos não tiveram variação no primeiro trimestre ante os três meses anteriores. Na comparação com igual período do ano passado, houve alta de 2,6%, variação 0,4 ponto percentual inferior à do último trimestre de 2023.

Reformas são luz no fim do túnel. O andamento dos projetos apresentadas pelo governo federal na tentativa de elevar a arrecadação e manter o cumprimento da meta de redução de gastos é observado como determinante para o avanço do PIB. "O cenário requer esperar o avanço das reformas e como o governo vai se comportar", pontua Nery.

Perdas com o desastre no Rio Grande do Sul ainda são incalculáveis. Mesmo sem existir uma projeção final, o impacto negativo da tragédia no crescimento da economia é considerado certo já para o segundo trimestre. As enchentes devastaram cidades inteiras, interromperam o funcionamento de indústrias e prejudicaram a agropecuária.

É possível estimar que a perda econômica do Rio Grande do Sul represente uma avaliação de 0,2% a 0,5% de crescimento a menor no PIB desse ano.
Gilberto Braga, professor de economia do Ibmec RJ

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