Para analistas, não há espaço para corte de juros após prévia da inflação

A desaceleração da prévia da inflação, apresentada nesta quinta-feira (25) pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), não é vista por analistas como determinante para alterar a postura do BC (Banco Central) em relação à taxa básica de juros. A virada de chave imprevista poderia motivar na queda da Selic na próxima quarta-feira (31). O encontro entre os diretores da autoridade monetária será o primeiro desde interrupção do ciclo de cortes, em junho.

O que aconteceu

O IPCA-15 avançou 0,3% em julho, ante alta de 0,39% em junho. Apesar da perda de força, o desempenho acumulado do índice em 12 meses subiu de 4,06% para 4,45%, encostando no limite da meta para 2024, fixado em 4,5%.

Banco Central reforça compromisso de cumprir a meta de inflação. Na ata da última reunião, o Copom (Comitê de Política Monetária) diz que "não se furtará" da missão de alocar os preços no limite firmado da meta de 3% definida pelo CMN (Conselho Monetário Nacional) em 3%, com margem de tolerância de 1,5 ponto percentual (entre 1,5% e 4,5%).

O comentário surgiu da decisão de manter a taxa Selic inalterada. O veredito do Copom interrompeu o ciclo de quedas e manteve a taxa básica de juros em 10,5% ao ano. Agora, a variação dos preços é vista como determinante para a retomada da trajetória de redução da taxa Selic.

O Comitê avalia que o cenário prospectivo de inflação se tornou mais desafiador, com o aumento das projeções de inflação de médio prazo, mesmo condicionadas em uma taxa de juros mais elevada.
Ata do Copom, divulgada em 25 de junho

Mercado financeiro vê a Selic inalterada até o fim deste ano. Conforme as expectativas, os próximos quatro encontros do Copom tendem a manter a taxa básica no mesmo patamar até a entrada de 2025, sem variações positivas ou negativas.

Apesar da inflação apresentar alta, a política monetária permanece em patamar bastante restritivo e avaliamos que ainda não é um cenário para alta de juros pelo Copom.
Rafaela Vitória, economista-chefe do Inter

Histórico ainda pesa contra a inflação no Brasil. Enrico Cozzolino, head de análise da Levante Investimentos, observa que o resultado do IPCA-15 ainda é mais alto desde 2021 para meses de julho. "O que preocupa é o avanço em todos os núcleos que o Banco Central acompanha", destaca ao explicar que a análise excluí eventuais choques específicos.

Olhando dado a dado os próximos IPCA, os outros índices de inflação e não apenas os núcleos, cabe um corte de juros talvez ainda neste ano.
Enrico Cozzolino, analista da Levante Investimentos

Desempenho do índice superou as expectativas do mercado financeiro. Apesar de a taxa mensal do IPCA-15 ter sido a menor desde maio (+0,21%), a alta esperada figurava abaixo de 0,25%. "A leitura de hoje não é suficientemente ruim para mudar a postura do Banco Central na decisão de juros semana que vem", prevê Beto Saadia, economista e diretor da Nomos.

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Fiscal preocupa

A atenção ao andamento das contas públicas será determinante. Mesmo com o recente anúncio do congelamento de R$ 15 bilhões do orçamento público, o mercado avalia que o cenário ainda requer cautela.

Equilíbrio fiscal é outro ponto de atenção para a definição dos juros. Nas últimas atas do Copom, a disciplina fiscal é citada como determinante para as futuras definições sobre a condução a política monetária.

Políticas monetária e fiscal síncronas e contracíclicas contribuem para assegurar a estabilidade de preços e, sem prejuízo de seu objetivo fundamental, suavizar as flutuações do nível de atividade econômica e fomentar o pleno emprego.
Ata do Copom, divulgada em 25 de junho

Elevação dos gastos públicos é principal sinalizador de risco. O é visto determinante para a manutenção das incertezas. "Caso o governo mantenha o patamar de expansão fiscal, que vem impactando tanto a taxa de câmbio, devido à percepção de maior risco pelos investidores, como estimulando a demanda em um ambiente de crescimento do PIB próximo do potencial", diz Rafaela Vitória, do Inter.

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