Copom decide juros: expectativa é manutenção da Selic em 10,5% ao ano

O Comitê de Política Monetária (Copom) divulga hoje como fica a taxa de juros do Brasil após o fechamento do mercado. Será a quinta vez que o órgão do Banco Central se reúne este ano. Nas outras quatro vezes, houve corte de juros nas três primeiras reuniões e manutenção na última.

A expectativa do mercado é que a Selic permaneça inalterada, em 10,50% ao ano. "A expectativa de inflação não para de subir e, além disso, há uma pressão de desvalorização do real", diz Paulo Gala, economista-chefe do Banco Master.

O que está acontecendo

A elevação de juros é usada principalmente para conter a inflação. Medida pelo IPCA-15 (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo 15) — o índice mais recente, a inflação desacelerou a 0,39% em junho, após marcar 0,44% em maio, segundo dados divulgados na quarta-feira (26) pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).

O resultado ficou abaixo das expectativas do mercado financeiro. Analistas consultados pela agência Bloomberg projetavam nova variação de 0,44% em junho.

Mas em 12 meses o IPCA-15 ganhou força. Acumula inflação de 4,06%. Até maio, a taxa era de 3,70%.

Mesmo ganhando corpo, a inflação brasileira não é a segunda maior do mundo, como os juros. O Brasil tem hoje a 12ª maior inflação dentre os países do G20, segundo levantamento da Austin Rating.

Brasil tem uma das maiores taxas

Se a manutenção da taxa for confirmada, Brasil continua na vice-liderança do ranking das maiores taxas de juros do mundo. O levantamento é da MoneYou, com dados de junho e descontada a inflação de cada país.

Maiores taxas de juros do mundo:

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  1. Rússia 8,91%
  2. Brasil 6,79%
  3. México 6,52%
  4. Turquia 4,65%
  5. Indonésia 4,13%
  6. Hungria 3,60%
  7. Coreia do Sul 3,04%
  8. África do Sul 2,79%
  9. Hong Kong 2,66%
  10. Colômbia 2,66%

Fonte: MoneYou/Junho 2024

Quais são as maiores inflações?

  1. Argentina 271,5%
  2. Turquia 71,6%
  3. Venezuela 51,6%
  4. Rússia 8,5%
  5. Colômbia 7,2%
  6. África do Sul 5,2%
  7. Índia 5,0%
  8. Uruguai 5,0%
  9. México 5,0%
  10. Paraguai 4,4%
  11. Chile 4,3%
  12. Brasil 4,2%

Fonte: Austin Rating com IPC acumulado nos últimos 12 meses até 31 de junho.

Por que existe esse descompasso?

A questão aqui são os gastos do governo. Eles também contam para a alta de juros porque podem aumentar a inflação no futuro. Ou seja, quando o governo gasta mais do que arrecada, a política monetária — ou seja, os juros — precisa ser mais rígida.

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Na segunda (29), o Banco Central anunciou que o governo teve um déficit nominal de R$ 135,724 bilhões em junho. O total ficou levemente acima do que o mercado esperava. No ano até junho, o setor público acumula um rombo de R$ 498,225 bilhões, equivalente a 8,91% do PIB (Produto Interno Bruto). Em 12 meses, o total nominal chegou a R$ 1,108 trilhão, ou 9,92% do PIB.

Câmbio também conta

Da última reunião do Copom para cá houve uma piora nos riscos. "O dólar, há 45 dias, estava em R$ 5,30 e agora vem sendo cotado acima de R$ 5,60. Isso é traduzido como mais inflação no futuro. Pelo Boletim Focus, estamos vendo a expectativa de inflação batendo 4,10%, então em função dessa dinâmica, a gente imagina o Copom tendo um tom mais duro", explica Marcelo Bolzan, estrategista de investimentos, planejador financeiro e sócio da The Hill Capital.

A rixa entre o presidente da República Luiz Inácio Lula da Silva e o número 1 do Banco Central do Brasil, Roberto Campos Neto, só piora as coisas. "Tudo isso desancora algumas expectativas. Haddad (o ministro da Fazenda, Fernando Haddad) tem feito esforço em acalmar o mercado que fica nervoso com as falas de Lula, mas não é suficiente. Precisamos de mais detalhes sobre a responsabilidade fiscal. Na prática, não temos visto isso", diz Carlos Hotz, planejador financeiro e sócio-fundador da A7 Capital.

A queda recente dos preços de produtos básicos também entra na conta. Commodities, como ferro e petróleo, são os maiores produtos de exportação brasileira. "Como grande exportador de commodities, o Brasil experimenta flutuações nos preços dessas mercadorias, o que afeta a entrada e saída de moeda estrangeira. Esse fenômeno resulta em aumentos nos preços de energia, petróleo e alimentos e impulsiona a inflação", diz Anderson Ferreira, diretor de distribuição da W1 Capital.

Juros podem subir?

Já se fala no mercado de duas ou três altas de juros antes do fim do ano. "Embora a economia real esteja indo bem, com desemprego caindo, atividade econômica em expansão, os gastos do governo forçam a inflação para cima daqui dois ou três anos", explica Breno Bonani, analista da Alphamar Invest.

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O que pode mudar esse panorama?

O Federal Reserve (banco central americano), deve cortar os juros em setembro. O mercado tem a expectativa de que o Fed, que também vai rever sua política monetária nesta quarta, dê pistas que corroborem para essa previsão. "Se isso realmente acontecer, aí muda tudo. Os juros aqui também podem cair", diz Bonani.

Por que os juros dos EUA afetam os nossos?

Quando os EUA e outras economias importantes no mundo aumentam o juro, o do Brasil também sobe. É o que explica Ariane Benedito, economista especialista em mercados de capitais. "O Brasil precisa subir os juros quando os Estados Unidos mantêm uma taxa alta para concorrer com eles. Sem isso, o país perderia um fluxo de investimentos importante", explica ela. Por isso, se o Fed resolver dar sinais de que vai cortar as taxas, o Brasil deve seguir a mesma política em seguida.

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