Apesar de deflação em agosto, BC deve aumentar Selic neste mês
A inflação de agosto recuou 0,02% em agosto, a primeira deflação em 14 meses. O dado é um dos principais que será avaliado pelo Copom (Comitê de Política Monetária), do Banco Central, para decidir qual o rumo da taxa básica de juros do país, mas não o único. Especialistas ouvidos pelo UOL afirmam que, apesar do dado positivo, isto não significa que o BC vai mudar sua política monetária.
Outros dados relevantes serão considerados, como o avanço do PIB acima das expectativas e o desemprego em queda no país — que apontam para uma inflação mais persistente. Para os especialistas, o BC deve considerar mais as pressões de inflação do futuro e não o que aconteceu em meses anteriores. A nova taxa básica de juros será definida na próxima semana, em 18 de setembro. A expectativa do mercado é de que haja um aumento de 0,25 ponto percentual.
O que aconteceu
Selic está estável há duas reuniões. Depois de várias quedas consecutivas, o Copom decidiu manter a taxa básica em 10,5% ao ano nas reuniões de junho e julho, e não sinalizou qual seria o movimento para a reunião da próxima semana. De acordo com o boletim Focus desta semana, o mercado prevê um aumento de 0,25 ponto percentual da taxa neste mês.
Expectativa é de que Selic chegue a 11,25% ao ano até dezembro. O dado, do boletim Focus, mostra um aumento de 0,75 ponto percentual, já que a estimativa anterior era de que a taxa se manteria inalterada em 10,5% ao ano.
Decisão do Copom
Inflação de agosto é importante, mas não deve ser indicador principal. Especialistas ouvidos pelo UOL dizem que o Copom deve analisar diversos indicadores, como outros dados de inflação que saíram (IPCA de julho e IPCA-15, por exemplo), o PIB e o desemprego no país. Para eles, um resultado isolado só teria a capacidade de mudar o conceito do BC se viesse muito diferente das expectativas — o que não aconteceu.
Resultado do IPCA deve ter influência pequena no Copom desta semana. André Braz, coordenador dos índices de preços do FGV/IBRE, afirma que o dado de agosto ainda não prevê algumas questões preocupantes para a inflação, como aumento da conta de luz (que deve ser precificada apenas em setembro).
Temos o mercado de trabalho aquecido, um crescimento além do esperado do PIB, e projeções ainda mais otimistas de continuidade de crescimento. Tivemos desvalorização cambial expressiva, que se sustenta, e ainda temos uma incerteza fiscal grande. Existem situações que são mais favoráveis a um cenário de maior persistência da inflação do que o contrário.
André Braz, coordenador dos índices de preços do FGV Ibre
Mesmo com a deflação, outros indicadores mostram que a inflação deve ser mais persistente. Em agosto, por exemplo, o IPCA teve deflação puxado pela queda na conta de luz. Para setembro, há expectativa de aumento nas contas, já que a Aneel determinou a mudança para a bandeira tarifária vermelha 1, uma das mais caras.
BC precisa avaliar o que está pressionando a inflação. Braz diz que se, por exemplo, a pressão vem do preço dos alimentos, que ficam mais caros pela falta de chuvas, não adianta promover um aumento da Selic, já que não haverá influência para baixar o dado. Agora, se a inflação é pressionada por aumento de consumo, uma elevação na taxa tem efeitos para derrubar a inflação.
BC aponta que decisão sobre juros depende dos dados. Caio Megale, economista-chefe da XP Investimentos, diz que o Copom tem reforçado a necessidade de observar os dados para tomar uma decisão, como o câmbio, o desemprego e o PIB. "O IPCA é importante, talvez seja o mais importante [dos indicadores], mas vai ser analisado com os demais", afirma Megale.
Cenário está mais desafiador. Silvio Campos Neto, economista e sócio da consultoria Tendências, afirma que o BC deve seguir um processo de aperto monetário moderado a partir deste mês. Apesar disso, Campos Neto considera a inflação "bem-comportada".
Não é uma inflação fora de controle ou excessivamente alta, mas é mais persistente, que não mostra, pelo menos por ora, sinais de que vai recuar muito além do que já recuou.
Silvio Campos Neto, economista da Tendências
Impactos da Selic na economia
A Selic é chamada de taxa "básica" porque serve como referência para outros juros do mercado, como os cobrados em empréstimos e financiamentos. Juros menores deixam o crédito mais barato, favorecendo o consumo; quando estão mais altos, o efeito é o contrário.
Os juros também afetam a geração de empregos. Quando a taxa está alta, o custo de operação de uma empresa é maior, o que desestimula investimentos e contratações. À medida que a Selic cai, empresários ficam mais dispostos a tomar riscos e crédito para crescer e, consequentemente, gerar empregos.
A Selic influencia ainda nos investimentos financeiros. Com juros baixos, as aplicações de risco, como ações, tendem a ser mais buscadas. Os juros altos favorecem produtos de renda fixa, como títulos do Tesouro, CDB e LCI.
Selic demora para fazer efeito na economia. Uma possível alta na taxa na semana que vem deve demorar de seis a nove meses para trazer impactos na economia e conter a inflação.
Expectativas estão desancoradas, segundo Silvio Campos Neto. Isto significa que o mercado tem dúvidas se será possível cumprir a meta de inflação, gerando incertezas. Alguns motivos que levam a desancoragem são a política fiscal, com o aumento dos gastos públicos, incertezas sobre a condução da política monetária com a mudança da presidência do BC, temor que diminuiu com a indicação de Gabriel Galípolo, e a redução da meta de inflação, que gera incertezas sobre a possibilidade de chegar ao resultado proposto.