Bolsa fecha em baixa e dólar sobe após deflação; entenda
A Bolsa de Valores de São Paulo fechou nesta terça-feira (10) em baixa, reagindo mal à primeira deflação (-0,02%) registrada pelo IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo) desde junho do ano passado (-0,08%). O Ibovespa terminou com queda de 0,31%, a 134.319 pontos. Para os investidores, a inflação pode fazer o Banco Central desistir de aumentar a taxa Selic — ou apenas fazer um ajuste menor. Isso diminuiria os ganhos do mercado com operações que apostam no diferencial de juros entre Brasil e países com taxas menores.
O dólar, pelo mesmo motivo, teve alta de 1,31%, indo a R$ 5,655. O dólar turismo fechou negociado a R$ 5,87.
O que aconteceu?
A inflação oficial do Brasil recuou 0,02% em agosto, ante alta de 0,38% em julho, segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). O mercado previa uma alta de 0,02%. A queda de 2,77% no preço das contas de luz em agosto foi o principal fator para o resultado. O IPCA acumulado em 12 meses recuou para 4,24% em agosto. A meta definida pelo CMN (Conselho Monetário Nacional) para a inflação deste ano é de 3%, com margem de tolerância de 1,5 ponto percentual (de 1,5% a 4,5%).
Por que isso fez a Bolsa cair?
O mercado quer que o Banco Central aumente o juros. Mas com o IPCA melhor que o esperado — e em deflação —, além do Federal Reserve, o banco central americano, e da Europa, ambos cortando juros, o BC brasileiro deverá agora ponderar se vale a pena ou não dar o aumento que o mercado está pedindo.
Assim o dólar teve uma valorização expressiva e a Bolsa, queda. "O mercado estava colocando no preço (do câmbio e da Bolsa) que o diferencial de juros entre Brasil e Estados Unidos iria aumentar bem mais, pois apostava que a Selic poderia subir 0,50 pontos base na reunião da semana que vem — apostas essas que estão sendo desmontadas agora. Assim, o diferencial de juros brasileiros e americanos não aumenta tanto. Então, num primeiro momento, o dólar sobe, como aconteceu hoje", diz Andre Fernandes, diretor de renda variável e sócio da A7 Capital.
Os investidores ganham com um grande diferencial de juros. Eles emprestam dinheiro em países onde a taxa de juros é baixa e aplicam no Brasil, onde ela é alta. Se a diferença de juros é menor, os ganhos também encolhem.
Para a economia real, entretanto, o dado da deflação é positivo. É o que diz Paulo Gala, economista-chefe do Banco Master. "O dado é muito bom, apesar de não mudar o cenário", diz ele. Isso porque com a seca e o acréscimo nas contas de luz, as próximas medições de inflação devem apontar alta. É por esse motivo que a subida de juros ainda está no radar do BC, segundo ele. Mas com essa deflação, o ajuste para cima pode ser menor.
Dólar também subiu lá fora
O principal motivo foi a China. Dados divulgados nesta madrugada mostram que as importações chinesas avançaram apenas 0,5% na comparação anual de agosto. O ritmo foi mais lento do que esperavam os analistas do mercado. "Essa desaceleração da economia chinesa — mais a queda do preço do petróleo — fizeram o dólar subir internacionalmente também", diz André Galhardo, consultor econômico da plataforma de transferências internacionais Remessa Online.
O preço do barril do tipo Brent recuou 3,69%, para US$ 69,19. A baixa aconteceu com a Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) baixando a previsão para a demanda global por petróleo em 2024. A previsão da Opep é agora de 2,03 milhões de barris por dia (bpd), contra os contra os 2,11 milhões anteriores. Para 2025, o cartel também cortou a projeção para o aumento na demanda no planeta, de 1,78 milhão de bpd para 1,74 milhão de bpd, o que levaria o total a 105,99 milhões de bpd.
Deste modo, as ações da Petrobras (PETR3 e PETR4) encolheram. PETR3 sofreu queda de 2,16%, indo a R$ 40,78 e PETR4 perdeu 1,63%, para R$ 37,34, conforme dados preliminares.
A perda de ritmo da economia chinesa também influenciou os preços do minério de ferro, que caíram nesta terça-feira. Consequentemente, desvalorizam-se as ações da Vale (VALE3), com baixa de 1,13%, para R$ 56,04, conforme dados preliminares.
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