Como a pior seca dos últimos 70 anos no Brasil deve impactar a inflação

O Brasil passa pela maior seca em extensão e intensidade em 70 anos, segundo o Cemaden (Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais). Já são 5 milhões de quilômetros atingidos pela seca, o que equivale à cerca de 58% de todo o território nacional. Mas quais são os impactos econômicos e como a maior seca da história recente do país afeta o bolso dos brasileiros?

Alimentos

Já são mais de 120 dias de seca em 2024, em muitas regiões do Brasil. Segundo o Cemaden, os impactos já podem ser vistos na agropecuária, especialmente nas safras de milho e feijão, além da qualidade das pastagens, que reflete também na pecuária extensiva. Especialistas ouvidos pelo UOL explicam que a diminuição da produção pode gerar escassez desses alimentos, fazendo com que eles fiquem mais caros nos supermercados.

A diminuição da produção pode gerar escassez ou, pelo menos, uma baixa na oferta, gerando aumento de preços. A atividade agrícola, dependendo da seca ou do desequilíbrio ambiental, de uma forma geral, pode ser afetada, porque chover demais ou alagar também são problemas graves que não se restringem a um ciclo produtivo. Havendo a desestruturação do solo, a sua recuperação não depende apenas da normalização do efeito direto, mas de reconstituir as propriedades do terreno para poder ser novamente produtivo.
Gilberto Braga, economista e professor de finanças do Ibmec.

Energia

Conta de luz mais cara. O aumento da conta de luz é mais um reflexo das secas no país e a Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica), já anunciou no dia 4 deste mês um aumento da tarifa para o mês de setembro com o acionamento da bandeira vermelha patamar 1 para os consumidores. Nesse patamar serão cobrados R$ 4,463 para cada 100 quilowatt-hora consumidos.

Reservatórios baixos. O economista explica que a geração elétrica brasileira tem uma matriz predominantemente hídrica e se não chover o suficiente para encher os reservatórios, há perda da capacidade de produção energética.

Isso implica em complementar a geração com o acionamento de usinas movidas por derivados de petróleo. Como essas fontes têm custos mais caros, o excedente é repassado aos consumidores sob a forma bandeira tarifária, ou seja, como acréscimo na conta de energia.
Gilberto Braga, economista e professor de finanças do Ibmec

Acionamento de termelétricas. Gilvan Bueno, especialista em finanças, explica que em períodos prolongados de seca, as usinas hidrelétricas têm sua capacidade de geração de energia reduzidas, fazendo com que seja necessário o uso das termelétricas.

A seca vai influenciar todo um ecossistema. As termelétricas produzem uma energia mais cara, elevando os custos. A ausência das chuvas prejudica a capacidade dos rios e o período de hidrovias, ou seja, das águas estarem com maior capacidade para os barcos poderem elevar o custa da produção.
Gilvan Bueno

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Logística

Impacto na logística. As secas afetam diversos elos da cadeia econômica, inclusive a questão da logística, podendo elevar o valor do combustível e dos transportes. Diferentemente de outros países desenvolvidos, a matriz logística brasileira é rodoviária, com uma grande circulação de pessoas e carga por meio de estradas, hidrovias, cabotagem e ferrovias.

O custo mais caro da energia elétrica não interfere diretamente no preço dos combustíveis, mas de forma indireta. A seca afeta a navegabilidade dos rios, limitando o escoamento da produção para os corredores de exportação e para os principais centros consumidores internos. Quando isso ocorre, o agronegócio precisa se socorrer com a logística rodoviária, que é mais dispendiosa, o que implica em repasse do aumento do custo para o produto final ofertado aos consumidores.
Gilberto Braga, economista e professor de finanças do Ibmec

Juros e inflação

Reflexo nos preços. O impacto das secas no Brasil na produção agrícola, na geração de energia e no transporte, podem contribuir para a alta da inflação de diferentes formas, além de pressionar os preços de bens e serviços, podendo deixar os alimentos mais caros nas gôndolas dos supermercados. Em agosto, houve deflação de 0,02%.

Com a questão da seca, o custo produtivo do alimento começa a ter que ser repassado ao consumidor. Então, basicamente, a seca vai trazer inflação e, nesse caso, o Banco Central precisa fazer uma política monetária contracionista para descer a inflação e levar para o centro da meta ou deixar em um preço mais acessível, já que as famílias de baixo poder aquisitivo não conseguem acompanhar o ritmo inflacionário.
Gilvan Bueno

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A inflação é um dos grandes vilões da economia no mundo inteiro do momento. Gilvan Bueno recorda que quando começaram os conflitos geopolíticos da Rússia com a Ucrânia, os brasileiros presenciaram um preço elevado em alguns alimentos, como o trigo e consequentemente, uma alta no preço da energia.

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