O que é o Brics, qual a importância do grupo e sua influência no Brasil
Começa mais uma cúpula do Brics nesta terça-feira. O grupo composto por Brasil, Rússia, Índia, China, África do Sul, Egito, Emirados Árabes Unidos, Arábia Saudita, Etiópia e Irã. O encontro ocorrerá na cidade de Kazan, na Rússia, e se estenderá até o dia 24 de outubro. Após uma queda no domingo, presidente Lula (PT) não viajou para o encontro e deve participar por videoconferência.
Antes da reunião, durante um fórum de negócios do Brics realizado em Moscou, o presidente russo, Vladimir Putin, afirmou que os países do bloco são "os principais motores do crescimento econômico global".
A ex-presidente Dilma Rousseff, que atualmente preside o Novo Banco de Desenvolvimento (NBD) do Brics, também destacou que os países-membros já representam 31,5% do Produto Interno Bruto (PIB) mundial.
Veja a seguir o que é o Brics, o que ele representa atualmente e quais impactos a cúpula iniciada hoje pode ter para o Brasil.
O que esperar da reunião
Discussões relevantes sobre a dependência do dólar. Segundo Juliana Inhasz, coordenadora da graduação em economia no Insper, "essa é uma das pautas centrais da cúpula, pois envolve a busca por alternativas mais independentes, fortalecendo as economias internas dos países membros". Além disso, estão em debate medidas para fortalecer instituições que possam ser alternativas às tradicionais, como o FMI (Fundo Monetário Internacional) e o Banco Mundial.
Pressão sobre o Brasil deve ser considerável. O Brasil é um dos atores principais dentro do bloco e sua posição será essencial para que essas mudanças aconteçam. O país, de acordo com Inhasz, poderá ser alvo de fortes pressões para adotar uma postura alinhada às metas do grupo, especialmente no que tange à redução da dependência de instituições financeiras internacionais e do dólar.
A entrada de novos membros também será um ponto de destaque na cúpula. A possível entrada da Venezuela no grupo pode trazer implicações políticas e econômicas complexas. Segundo Hugo Garbe, professor de Ciências Econômicas da Universidade Presbiteriana Mackenzie, de um lado, "a Venezuela poderia trazer questões complexas, dado o cenário de crise econômica e política que o país enfrenta", o que geraria desafios na conciliação de interesses econômicos e diplomáticos dentro do bloco. Por outro lado, Garbe destaca que "a Venezuela é um país rico em recursos energéticos", o que poderia fortalecer a influência do Brics no mercado global de energia, especialmente no setor de petróleo. No entanto, o Itamaraty, pelo fato de o Brasil não reconhecer o governo de Nicolás Maduro, foi orientado a se posicionar contra a adesão venezuelana, apesar do apoio de China e Rússia.
Impacto do Brics hoje
Reunião dos Brics levanta dúvidas sobre sua efetividade devido à falta de liderança e projetos concretos. O economista André Perfeito aponta que a ausência de propostas sólidas dentro do bloco transmite a sensação de falta de direção e visão estratégica, o que pode limitar o alcance de suas ações no cenário internacional.
Influência econômica da China é o ponto central das discussões sobre o Brics. Já Leonardo Trevisan, economista e professor de relações internacionais da ESPM, destaca a importância que a China tem e exerce sobre o bloco neste momento. De acordo com ele, muitos países que demonstram interesse no Brics veem, na verdade, as oportunidades ligadas à China, especialmente sua vasta capacidade de investimento. Esse fator torna a China o principal motor econômico dentro do grupo, atraindo a atenção de economias emergentes como o Brasil.
Novo Banco de Desenvolvimento (NBD), criado em 2015, é a principal ferramenta de investimento do Brics. Para o economista, mesmo com a ex-presidente brasileira Dilma Rousseff na presidência do NBD desde 2023, é a China que utiliza o banco para mobilizar recursos destinados a projetos de infraestrutura e desenvolvimento nos países do bloco e em outras economias emergentes.
A China hoje detém cerca de 90% dos recursos disponíveis para investimentos, totalizando aproximadamente US$ 6 bilhões por ano, uma quantia expressiva no cenário econômico.
Leonardo Trevisan, economista e professor de relações internacionais da ESPM
Nesse cenário, Brasil mantém postura diplomática neutra. "O Brics representa uma importante plataforma econômica para o Brasil. O comércio especialmente com a China, tem um impacto significativo nas exportações brasileiras, particularmente de commodities como soja e minério de ferro", explica o professor do Mackenzie Hugo Garbe. Apesar de buscar os investimentos chineses e querer fortalecer sua posição no Sul Global, o Brasil opta por não romper seus laços históricos com as economias ocidentais, como os Estados Unidos.
O que é o Brics
Brics teve sua origem em 2009. Brasil, Rússia, Índia e China formaram inicialmente o bloco, que se chamava Bric. A inclusão da África do Sul em 2011 resultou na mudança do nome para Brics. O grupo tem realizado reuniões anuais, buscando maior coordenação em temas de segurança, economia e cultura.
Em 2024, o bloco se expandiu com a adesão de cinco novos membros. Egito, Emirados Árabes Unidos, Arábia Saudita, Etiópia e Irã se juntaram como membros plenos.
O Brics não é como a União Europeia. Não há uma união econômica formal no Brics, contudo o grupo busca, através da cooperação, influenciar a governança global e criar alternativas às instituições financeiras dominadas pelo Ocidente, como o FMI.
O impacto econômico do Brics já é significativo. Segundo o FMI, até 2028 o bloco representará entre 35% e 40% do PIB global ajustado por paridade de poder de compra, que considera o custo de vida e o poder de compra dos países. Em contraste, a participação do G7 — formado por Estados Unidos, Canadá, Reino Unido, França, Alemanha, Itália e Japão — que cairá para 27,8%.