Lula nega que Brics queira ser contraponto ao G7 e aos EUA
(Reuters) - O presidente Luiz Inácio Lula da Silva negou nesta terça-feira que o Brics -- grupo formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul -- tenha a intenção de ser um contraponto ao G7, de países de economias desenvolvidas, ou aos Estados Unidos, afirmando que o bloco pretende organizar o "sul global".
"A gente não quer ser contraponto ao G7, a gente não quer ser contraponto ao G20, a gente não quer ser contraponto aos Estados Unidos, a gente quer se organizar. A gente quer criar uma coisa que nunca teve, que nunca existiu, o sul global", disse Lula em sua live semanal "Conversa com o Presidente", realizada diretamente de Johanesburgo, na África do Sul, onde o presidente participa da reunião de cúpula do Brics.
"Nós sempre fomos tratados como a parte pobre do planeta, como se nós não existíssemos, sempre fomos tratados como se fôssemos de segunda categoria. E de repente a gente está percebendo que a gente pode se transformar em países importantes."
Lula disse ainda ser favorável à entrada de novos países no Brics, citando especificamente Indonésia e Argentina, ao mesmo tempo que afirmou que a expansão do grupo precisa ser feita com critérios, para que o Brics não se torne uma "Torre de Babel".
"Para a gente possibilitar a entrada de novos países, a gente tem que limitar uma certa coisa que todo mundo concorde, porque se não tiver um grau de compromisso nos países que entram nos Brics vira uma Torre de Babel", disse Lula, acrescentando que a expansão do grupo será discutida na reunião na África do Sul.
Ao mesmo tempo, Lula disse que o Brics não pretende ser "um clube fechado", mas uma "instituição multilateral" e defendeu a existência de mais organismos multilaterais, citando por exemplo uma retomada da Organização Mundial do Comércio (OMC) e a necessidade de a Organização das Nações Unidas (ONU) deter poder de governança em temas como as mudanças climáticas.
Mais tarde, durante discurso no Fórum Empresarial do Brics, Lula voltou a defender a ampliação do grupo e a afirmar que o bloco tem aumentado sua relevância no cenário global.
"O Brics tem uma chance única de moldar a trajetória do desenvolvimento global", afirmou o presidente em seu discurso. "Essa relevância vai crescer com a entrada de novos membros plenos e parceiros de diálogo."
Em Washington, o assessor de segurança nacional da Casa Branca, Jake Sullivan, disse em entrevista coletiva que não vê o Brics se transformando num rival geopolítico dos EUA ou de qualquer outro país.
CONSELHO DE SEGURANÇA
Em sua live semanal, Lula defendeu também a entrada do Brasil, da Índia e de outros países no Conselho de Segurança da ONU como membros permanente, afirmando que as Nações Unidas praticamente não têm representatividade atualmente.
O presidente voltou a defender que o Brasil possa fazer comércio internacional em moedas alternativas ao dólar e mencionou que os negócios com a Argentina pode ser feita com o iuan, moeda da China, diante de o que Lula afirmou ser uma dificuldade do país vizinho em acessar o dólar.
No discurso que fez horas depois, no fórum empresarial, reiterou a defesa de uma alternativa ao dólar no comércio internacional.
"Para que o investimento volte a crescer e gerar desenvolvimento, precisamos garantir mais credibilidade, previsibilidade e estabilidade jurídica para o setor privado. Por essa razão tenho defendido a ideia de adoção de uma unidade de conta de referência para o comércio, que não substituirá nossas moedas nacionais", disse.
Lula também advogou por uma mudança nos organismos internacionais de crédito ao destacar o papel do Novo Banco de Desenvolvimento, também conhecido como Banco do Brics, atualmente comandado pela ex-presidente Dilma Rousseff.
"A falta de reformas substantivas das instituições financeiras tradicionais limita o volume e as modalidades de crédito dos bancos já existentes. A decisão de estabelecer o Novo Banco de Desenvolvimento representou um marco na colaboração efetiva entre as economias emergentes", disse.
"Nosso banco conjunto deve ser um líder global no financiamento de projetos que abordem os desafios mais urgentes de nosso tempo."
(Por Eduardo Simões, em São Paulo)
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