EUA são o 2º maior exportador para o Brasil; Brasil é o 18º para os EUA

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Há uma clara assimetria na relação entre Brasil e Estados Unidos, com maior peso para os americanos. Os EUA são o segundo maior parceiro comercial do Brasil, tanto em importações quanto em exportações. Já o Brasil é o nono país que mais importa dos EUA, e o 18º país que mais exporta para os americanos.
O presidente dos EUA Donald Trump disse nesta terça-feira (21) que são os brasileiros que precisam da economia americana. "Eles precisam de nós. Nós não precisamos deles. Todos precisam de nós", disse. Para especialistas ouvidos pelo UOL, é verdade que o Brasil precisa mais dos Estados Unidos do que eles precisam dos brasileiros, mas o papel do Brasil não deve ser desprezado.
Comércio entre Brasil e EUA
Os Estados Unidos são o segundo maior parceiro comercial do Brasil. Em 2024, o país teve uma participação de 12% nas exportações brasileiras e de 15,5% nas importações feitas pelo Brasil. Foram cerca de US$ 40,3 bilhões em exportações e US$ 40,5 bilhões em importações dos Estados Unidos no ano passado, segundo dados do governo brasileiro.
Relação comercial com os EUA cresceu no último ano. Em 2024, as exportações brasileiras para os Estados Unidos tiveram um crescimento expressivo de 9,2%. Já as importações cresceram 6,9%. Os Estados Unidos ficam atrás apenas da China, que é de longe o principal parceiro do Brasil, de onde importamos US$ 94,4 bilhões em 2024.
Brasil está em 18º lugar dentre os exportadores para os Estados Unidos. A importância do Brasil para os Estados Unidos é bem menor. O país foi o nono maior importador de produtos americanos em 2024 (até novembro), segundo dados do governo americano. Entre os exportadores, o Brasil cai para 18º lugar, atrás de países como Singapura, Malásia, Vietnã e Tailândia.
Brasil exporta petróleo bruto e importa máquinas. O principal produto exportado pelo Brasil para os Estados Unidos é petróleo bruto (14% das exportações em 2024). Seguido por produtos semiacabados de ferro e aço (8,8%), aeronaves (6,7%) e café não torrado (4,7%). Na outra ponta, o Brasil importou dos americanos principalmente motores e máquinas (15%), óleos combustíveis de petróleo (9,7%), aeronaves e suas partes (4,9%) e gás natural (4,1%).

Investimentos e turismo
Estados Unidos são o principal investidor estrangeiro no Brasil. Em 2022, os americanos respondiam por quase 30% do total de investimentos estrangeiros diretos no Brasil, com um estoque de mais de US$ 228 bilhões. Já em 2023 o número de investimentos de empresas americanas anunciados no Brasil foi 50% maior que o anunciado em 2022, o que mostra que o interesse dos americanos no país vem crescendo. Os principais focos de investimento são tecnologia e economia verde. Os dados são de um estudo da Amcham (Câmara Americana de Comércio para o Brasil) em parceria com a Apex (Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos).
Brasil é o quinto país que mais envia turistas aos Estados Unidos. O Brasil enviou 1,5 milhão de turistas aos Estados Unidos em 2024 (dados até outubro). Com isso, é o quinto país de outro continente que mais enviou turistas aos EUA, segundo dados do governo americano. A conta não inclui Canadá e México. O Brasil fica atrás de Reino Unido, Índia, Alemanha e Japão.
Estados Unidos são o segundo país que mais envia turistas ao Brasil. Ainda assim, o número absoluto é um terço do número de brasileiros que visitaram os EUA. Até outubro de 2024, cerca de 572 mil americanos visitaram o Brasil, o que coloca o país em segundo lugar dentre os que mais enviaram turistas ao Brasil em 2024. O primeiro lugar fica com a Argentina, que enviou mais de 1,5 milhão de visitantes ao Brasil no ano passado.
A economia americana
Economia americana é de longe a maior do mundo. O PIB americano é de US$ 28 trilhões, enquanto o brasileiro é de US$ 2 trilhões, destaca o professor de relações internacionais da ESPM, Leonardo Trevisan. "Se desconsiderar a China, cujo PIB é de cerca de US$ 19 trilhões, é preciso somar o PIB dos oito países seguintes e ainda não chegamos no PIB americano. Eles são o grande comprador do mundo, os mais ricos", diz.
Estados Unidos são muito mais importantes para o Brasil do que o Brasil para os EUA. Os dados evidenciam a assimetria existente na relação entre Brasil e Estados Unidos, com maior peso para os americanos, diz Lucas Ferraz, coordenador do Centro de Estudos de Negócios Globais da FGV EESP.
Se analisar do ponto de vista econômico e geopolítico, é evidente que há uma assimetria que explica a declaração de Trump. Os EUA são muito mais importantes para nós do que nós para eles.
Lucas Ferraz, coordenador do Centro de Estudos de Negócios Globais da FGV EESP
Tarifas de importação brasileiras são maiores que as cobradas pelos EUA. Segundo Ferraz, há hoje na relação Brasil-EUA uma assimetria tarifária. "As tarifas de importação brasileiras são muito maiores do que as que eles cobram de nós. Isso foi mencionado pelo Trump em campanha e o Brasil tem que estar atento a possíveis medidas protecionistas", diz.
Estados Unidos têm força para buscar substituição de produtos brasileiros. Para o professor da FGV, os produtos exportados pelo Brasil podem ser substituídos pelos EUA. "Para uma economia tão grande quanto a americana, é difícil ser zero a possibilidade de substituição. Não dá para ficarmos tranquilos e achar que temos produtos únicos que exportamos para os Estados Unidos", diz.
O papel do Brasil
Brasil é um aliado histórico e tem papel importante para empresas americanas. Ainda que a economia americana seja gigantesca, o Brasil tem papel importante na cadeia de produção de empresas americanas, que fabricam partes de seus produtos aqui. Dentre os setores nos quais o Brasil atua estão a indústria automobilística e a de equipamentos eletrônicos.
Empresários americanos que têm relações de negócios com o Brasil não repetiriam a frase de Trump. O Brasil tem um histórico de décadas de integração de cadeias produtivas e isso é muito importante para os dois lados. Ele poderia encontrar isso em outro lugar, mas pagaria mais caro e abriria mão de décadas de relacionamento. Seria um incômodo significativo.
Leonardo Trevisan, professor de relações internacionais da ESPM
Trump já ameaçou taxar produtos estratégicos vindos do Brasil, mas voltou atrás. Em seu primeiro mandato, Trump ameaçou aumentar a taxação do aço e do alumínio vindos do Brasil. Os produtos estão entre os principais itens da relação comercial entre os dois países. Após conversa com o então presidente Bolsonaro, o republicano voltou atrás. Americanos têm interesse em investir em energia limpa e tecnologia no Brasil. Trevisan destaca também o interesse de investidores americanos em atuar no Brasil, e diz que, caso o país deixe de investir aqui, há o risco de o espaço ser ocupado pelos chineses. "Os americanos têm feito bons negócios aqui. Precisaria perguntar a eles se estão interessados em ficar longe do hidrogênio verde do Brasil e das cadeias de infraestrutura e telecomunicações. Se eles não entrarem, os chineses vão entrar, e os EUA não querem isso", diz.
Brasil pode aproveitar o momento para estreitar laços com outros países. Para Ferraz, da FGV, o momento de maior conflito comercial promovido por Trump pode gerar oportunidades para o Brasil. Um exemplo é a maior disposição da União Europeia para fechar um acordo com o Mercosul. Outros mercados que podem estar no radar do Brasil são Canadá e México. "Existem riscos, mas também podemos aproveitar esse momento e diversificar as nossas exportações e aumentar o acesso a novos mercados", diz.
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