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Brasil quer união de Brics contra países ricos

Brian Winter

Da Reuters, em Nova Délhi

28/03/2012 14h22

O Brasil vai pressionar os países emergentes, incluindo a China, para em conjunto denunciarem o que considera uma política monetária injusta praticada pela Europa e pelos Estados Unidos, colocando em foco um confronto global sobre desequilíbrios econômicos. 

O ministro da Indústria e Comércio, Fernando Pimentel, afirmou à Reuters nesta quarta-feira que o Brasil deve buscar tal linguagem no comunicado que será divulgado após a cúpula na quinta-feira do Brics, grupo que reúne Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul. 

Pimentel também deu detalhes sobre uma nova iniciativa para reduzir os custos aos exportadores e importadores brasileiros, e deu uma ideia de como o país buscará lidar com os supostos desequilíbrios econômicos globais junto à Organização Mundial do Comércio (OMC). 

Autoridades brasileiras acusam países ricos de provocar um "tsunami monetário" ao adotarem políticas expansionistas como baixas taxas de juros e programas de compra de títulos. Tais políticas têm o objetivo de estimular as economias dos Estados Unidos e europeias, mas também provocaram uma onda de liquidez global que afetou mercados emergentes como o Brasil, tornando suas economias menos competitivas no exterior. 

O ministro afirmou em uma entrevista de 30 minutos na véspera da cúpula que os cinco mercados emergentes que formam o Brics "têm mais ou menos a mesma opinião sobre esse assunto." 

"Acho que haverá menção disso (no comunicado), com certeza", disse Pimentel.  

Uma frente unida entre os países do Brics não deve convencer as nações ricas a alterar suas políticas monetárias. Mas pode dar ao Brasil e a outros países condições políticas decisivas para buscar ações paliativas, ao elevar suas tarifas ou buscar mudanças em entidades globais como a OMC. O Brasil lidera uma discussão sobre câmbio nesta semana no órgão sediado em Genebra. 

O Brasil tornou-se uma das principais vozes em relação ao que considera desequilíbrios comerciais globais injustos. Suas palavras e ações, amplificadas por seu status de maior país da América Latina e de sexta maior economia mundial, provocaram temores de um crescente protecionismo entre mercados emergentes. 

Pimentel afirmou que a China estava cautelosa com a linguagem sobre os desequilíbrios monetários globais "porque eles achavam que poderíamos estar nos referindo indiretamente a eles." Muitos analistas acreditam que Pequim manipula artificialmente sua moeda. 

"(O problema) de hoje não tem a ver com a China. Tem a ver com o dólar e o euro", disse ele. 

O Brasil tem culpado o excesso global de liquidez pelo fato de o real ser uma das moedas mais sobrevalorizadas do mundo. Em meio às dificuldades da indústria local, a economia brasileira cresceu apenas 2,7% em 2011. 

Críticos afirmam que o Brasil e a presidente Dilma Rousseff estão usando países ricos como bode expiatório para a sua própria indústria ineficiente e outros problemas domésticos. Impostos e custos trabalhistas altos, além de uma infraestrutura pobre, contribuíram para tornar o Brasil um dos lugares mais caros e difíceis do mundo para fazer negócio.