Política monetária perde força e demorará mais para estimular economia
SÃO PAULO, 13 Jan (Reuters) - A política monetária brasileira perdeu força e vai levar mais tempo para se refletir integralmente na atividade econômica, em meio ao cenário de forte recessão e baixa confiança tanto das famílias quanto das empresas.
Especialistas ouvidos pela agencia de notícias Reuters foram unânimes ao afirmar que o atual ciclo de cortes nos juros básicos no país vai ajudar, de imediato, os agentes econômicos a renegociarem suas dívidas, mas acreditam que a volta do consumo e do investimento mais consistentes vai demorar mais.
Nos ciclos de afrouxamento monetário passados, famílias e empresas estavam com o orçamento mais ajustado e, assim, respondiam de forma mais rápida.
"Agora as famílias e as empresas dependem de um ciclo de redução da Selic para renegociar dívidas com condições mais favoráveis", afirmou a economista e sócia da consultoria Tendências, Alessandra Ribeiro. "A decisão de novo consumo e investimento deve acontecer apenas mais para frente".
A queda dos juros básicos é considerada uma das principais armas do governo Michel Temer para conseguir estimular a economia. O ciclo de redução da Selic começou em outubro do ano passado, levando a Selic de 14,25% aos atuais 13%, com expectativas de que ela possa ir a um dígito ainda neste ano.
Na noite de quarta-feira, citando a fraca atividade, o Banco Central surpreendeu e intensificou o ritmo de corte da taxa de juros a 0,75 ponto percentual.
Famílias endividadas
O debate sobre o impacto da queda da taxa de juros sobre a atividade é bastante recente e vem ganhando corpo dentro de consultorias e institutos de pesquisas. Por isso, sua mensuração ainda está sendo calculada.
Em condições normais, a economia brasileira demorava, em média, de seis a nove meses para responder integralmente aos cortes ou elevações da Selic. Mas, na conjuntura atual, esse prazo pode ser maior. Nas contas da Tendências, cada corte de 0,25 ponto na Selic costumava gerar crescimento de 0,1 ponto percentual no Produto Interno Bruto (PIB) ao final de quatro trimestres.
Mas o cenário hoje, segundo dados do BC, mostra que o comprometimento da renda das famílias com dívidas tem recuado pouco nos últimos dois anos, sempre acima de 40%.
Do lado das empresas, 48,7% das companhias com capital aberto tinham geração de caixa insuficiente para cobrir as despesas da dívida no terceiro trimestre do ano passado, segundo o Centro de Estudos do Instituto Ibmec. Em 2010, eram 22,7% nesta situação.
"A reação tende a ser mais lenta, mas a queda do juro é parte da solução. É um instrumento clássico e que permite que empresas refinanciem as suas dívidas em condições muito melhores", disse o economista-chefe do Banco Safra e ex-secretário do Tesouro Nacional, Carlos Kawall.
Risco de mais recessão
A fraqueza do impacto da política monetária na atividade é ainda mais perversa porque há quem avalie que a economia ficará estagnada ou até mesmo ainda em contração neste ano.
Esse cenário retroalimentaria a já baixa confiança no geral, que tende a retardar e/ou diminuir os efeitos da política monetária. Em dezembro, os indicadores de confiança dos setores da construção, de serviços e da indústria, além dos consumidores, recuaram para o menor patamar desde meados de 2016.
Outra variável que continuará sendo monitorada sobre a capacidade de a política monetária ajudar a atividade econômica será o comportamento do spread bancário --diferença entre o custo de captação do banco e a taxa efetivamente cobrada ao consumidor final--, que costuma crescer, ou recuar de maneira mais demorada, em momentos de grande incerteza e piora na avaliação de risco na economia.
Mesmo com a Selic estável em boa parte de 2016, para começar a recuar nos meses finais, o spread médio geral havia subido 4,9 pontos no acumulado do ano até novembro, segundo últimos dados do BC. Assim, os juros finais também subiram, encarecendo o crédito e dificultando o consumo.
"O ciclo de queda dos juros é muito importante, mas o impacto que essa redução vai ter sobre a demanda pelo crédito ainda é incerto", resumiu o pesquisador do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre/FGV), Livio Ribeiro.
(Edição de Patrícia Duarte e Alexandre Caverni)
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