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Brasil cresce 0,4% no 1º tri, dentro do esperado, mas greve ameaça atividade à frente

30/05/2018 09h10

Por Rodrigo Viga Gaier e Patrícia Duarte

RIO DE JANEIRO/SÃO PAULO , 30 Mai (Reuters) - A economia brasileira acelerou ligeiramente no primeiro trimestre deste ano, marcando o quinto período seguido no azul e favorecida pela agropecuária, mas o movimento pode ter sido abalado pela greve dos caminhoneiros, que afetou o abastecimento no país todo nos últimos dias.

Entre janeiro e março passados, o Produto Interno Bruto (PIB) do país cresceu 0,4 por cento sobre os três meses anteriores, informou o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) nesta quarta-feira. Sobre o primeiro trimestre de 2017, o avanço foi de 1,2 por cento. [nL2N1T10II]

Pesquisa da Reuters com analistas mostrou que, pela mediana, as expectativas eram de expansão de 0,4 por cento do PIB no trimestre passado em relação aos três meses anteriores e de 1,3 por cento sobre um ano antes. [nL2N1SW11B]

"Não podemos considerar isso crescimento, é quase uma estabilidade", disse a coordenadora de contas trimestrais do IBGE, Rebeca Palis.

Segundo o IBGE, o destaque positivo no trimestre passado ficou para a Agropecuária, com expansão de 1,4 por cento sobre o quarto trimestre de 2017 devido sobretudo à safra de soja, com os setores da Indústria e de Serviços crescendo 0,1 por cento cada no mesmo período.

A Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF), uma medida de investimentos, cresceu 0,6 por cento e pelo quarto trimestre seguido, mas perdendo fôlego sobre os dois trimestres anteriores diante da cena eleitoral deste ano marcada por fortes incertezas que têm minado a confiança. Com isso, a taxa de investimento foi a segunda menor da série para um primeiro trimestre desde 1996, a 16 por cento do PIB.

O Consumo das Famílias teve expansão de 0,5 por cento, em meio aos juros na mínima histórica e também ajudou na atividade no trimestre passado. Somente o Consumo do Governo mostrou retração no período, de 0,4 por cento, em meio ao forte ajuste fiscal diante das contas públicas no vermelho.

A greve dos caminhoneiros, que afetou a atividade econômica no país todo, coloca o cenário de curto prazo em risco. A pesquisa Reuters sobre o PIB com analistas, que captou apenas o início do movimento da categoria, mostrava que a economia poderia ganhar tração no segundo trimestre.

Mas essa sinalização pode ter sido colocada em xeque com a paralisação, que dura mais de uma semana e afetou o abastecimento no país, dependente de modal rodoviário para escoar sua produção.

"Os efeitos da greve dos caminhoneiros vão se dar em maio e se estender para o começo do junho porque vai demorar para tudo se normalizar" afirmou a economista da consultoria Tendências Alessandra Ribeiro. "Existe o risco de o segundo trimestre ficar mais fraco (do que o primeiro). Então coloca viés de baixa para o ano", acrescentou ela, para quem o PIB de 2018 deve crescer "algo na casa de 2 por cento".

As estimativas do mercado levantadas em pesquisa Focus do Banco Central para o crescimento do PIB já foram reduzidas na semana passada, a 2,37 por cento, sobre 2,50 por cento, intensificando um movimento que já vinha ocorrendo diante da baixa confiança dos agentes econômicos e desemprego elevado. No início do ano, as projeções chegaram a 3 por cento. [nL2N1SZ0F7]

"Os dados correntes domésticos estão vindo piores do que o esperado no segundo trimestre e há aumento da incerteza eleitoral. A greve dos caminhoneiros expõe o risco maior de pautas populistas e a incerteza com o que vai ser adotado pós-eleições aumenta. Além disso, no exterior, o risco também aumentou", afirmou a economista-chefe da ARX Investimentos, Solange Srour, para quem o que PIB deve fechar este ano com expansão entre 1 e 1,5 por cento.

REVISÃO

O Brasil cresceu um pouco mais do que o inicialmente projetado nos dois últimos trimestres do ano passado, revisou o IBGE. No quarto trimestre, o PIB registrou expansão de 0,2 por cento sobre os três meses anteriores, contra 0,1 por cento divulgado antes. Já no terceiro trimestre houve crescimento de 0,3 por cento, contra 0,2 por cento.

(Com reportagem adicional de Claudia Violante e Camila Moreira)