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Ambev se alia à Volkswagen para usar 1.600 caminhões elétricos até 2023

Gabriela Mello e Marcelo Rochabrun

20/08/2018 11h52

SÃO PAULO (Reuters) - A fabricante de bebidas Ambev firmou parceria com a alemã Volkswagen Caminhões e Ônibus para adoção de 1.600 caminhões elétricos por todos os 20 operadores logísticos que trabalham com a empresa até 2023, em uma estratégia que coincide com a entrada em vigor da tabela de fretes rodoviários no país.

Um primeiro veículo da linha de caminhões elétricos, com autonomia para rodar até 200 quilômetros com energia 100 por cento renovável, deve chegar às ruas da capital paulista até o fim de setembro, disse à Reuters o diretor de sustentabilidade e suprimentos da Ambev, Guilherme Gaia.

"Este ano iniciamos testes com um caminhão para tornar o projeto mais assertivo... Esse caminhão é considerado leve, a ideia é termos caminhões grandes também", disse Gaia.

Atualmente, a Ambev utiliza cerca de 4.800 caminhões pesados e semipesados em toda a sua cadeia de distribuição, composta por 120 operações no Brasil. O e-Delivery, segundo o diretor de sustentabilidade, será inicialmente usado para rotas mais curtas e abastecido com energia solar gerada por painéis instalados em um dos nove centros de distribuição da empresa em São Paulo. Em todo o Brasil, a empresa tem mais de 100 centros de distribuição direta.

O presidente Michel Temer sancionou em 9 de agosto a tabela de fretes rodoviários, uma das soluções encontradas às pressas pelo governo para encerrar a greve dos caminhoneiros em maio e que atraiu fortes críticas do setor produtivo do país por gerar aumento nos custos de transporte.

Apesar da certa coincidência do anúncio ser feito alguns dias após a sanção presidencial, Gaia afirmou que o projeto de caminhões elétricos, que não estão sujeitos à tabela de fretes segundo informação da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT), não tem relação com a paralisação nacional dos caminhoneiros.

"Esse movimento (a greve dos caminhoneiros) é relativamente recente, temos acompanhado como toda a sociedade, mas o caminhão elétrico é maior que isso, é um fenômeno, um projeto anterior a esse movimento que vimos recentemente", afirmou Gaia.

O presidente-executivo da Volkswagen Caminhões e Ônibus, Roberto Cortes, também mencionou coincidência ao ser questionado sobre o momento escolhido para o anúncio da parceria. "Óbvio que uma greve dessa natureza chama a atenção para a necessidade de se ter produtos alternativos ao diesel... Mas esse produto só começará em linha de produção mesmo em 2020. Não estamos contemplando nenhuma venda especificamente por causa da decisão do ministro Fux."

Cortes se referiu ao ministro do Supremo Tribunal Federal, Luiz Fux, que suspendeu ações contrárias à tabela de fretes e deve tomar uma decisão sobre a legalidade do tema a partir do dia 27 deste mês.

Gaia, da Ambev, ressaltou que as conversas com a Volkswagen para renovação de parte da frota parceira com caminhões elétricos ocorrem há mais de cinco anos. Com a parceria, cerca de 35 por cento da frota que atende a cervejaria será composta por veículos movidos a energia limpa, reduzindo as emissões de poluentes no ar em mais de 30,4 mil toneladas de carbono por ano, segundo o grupo de bebidas.

Desafios de localização

A Volkswagen Caminhões e Ônibus lançou o Delivery, a diesel, em setembro do ano passado, em estratégia para ingressar no segmento de caminhões leves urbanos, voltados a aplicações como a buscada pela Ambev. O caminhão custa entre 135 mil a 175 mil reais e a versão elétrica do produto sai por duas a três mais atualmente.

Apesar de ter um custo de operação até 50 por cento mais barato que o diesel, segundo Cortes, o valor de compra do modelo elétrico é mais elevado por causa de itens como a bateria, que é importada e "hoje é equivalente quase ao preço de um caminhão em si". O motor do e-Delivery é produzido pela brasileira WEG e a montagem do veículo é feita na fábrica da Volkswagen Caminhões e Ônibus em Resende (RJ).

Cortes afirmou que para reduzir o custo, a montadora estuda alternativas que incluem leasing da bateria junto a grupos locais. Com isso, ao final do ciclo de uso da bateria, em cerca de cinco anos, o usuário pode devolvê-la para ser recuperada e instalar uma nova no veículo.

Além disso, a montadora alemã quer discutir com o governo federal incentivos para localização da produção das baterias no Brasil e para financiamentos de aquisição dos veículos, disse Cortes.

"Queremos que o custo total de caminhão elétrico seja igual ao de um caminhão a diesel em ambientes urbanos. Hoje é de duas vezes", disse Cortes, referindo-se a uma conta que inclui a compra do veículos, mais custo de operação e manutenção e financeiro, menos o valor da revenda.

Questionado sobre o custo de cada veículo para a Ambev, Gaia disse ser "prematuro entrar em detalhes nesse momento", por se tratar de um protótipo. O acordo com a Volkswagen Caminhões e Ônibus envolve intenção de compra, disse Cortes.

"Eventualmente o caminhão pode custar mais caro, mas a composição do custo não é necessariamente o mais importante, e sim o custo operacional do projeto", disse o diretor de sustentabilidade e suprimentos da Ambev.

Gaia também não quis divulgar o valor desembolsado pela Ambev na instalação de painéis solares nos centros de distribuição, destacando que as obras fazem parte do compromisso do grupo multinacional de usar energia renovável em 100 por cento das cervejarias até 2025.