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Petrobras pode ter perdas com importação de diesel por parada na Replan, diz UBS

28/08/2018 14h07

SÃO PAULO (Reuters) - A interdição da refinaria de Paulínia, a maior da Petrobras, após uma explosão na unidade na semana passada, obriga a estatal a importar diesel "no pior cenário de preços", possivelmente com perdas, escreveram analistas do banco UBS nesta terça-feira.

A Petrobras informou na véspera que, em função da parada na Replan, vai comprar no exterior 1,5 milhão de barris de diesel para abastecer o mercado doméstico.

Mas a operação acontece em meio a preços maiores no mercado internacional devido à alta do dólar e com as cotações do combustível congeladas no mercado interno, em medida anunciada pelo governo após uma greve de caminhoneiros em maio.

Em tese, as perdas da estatal com a venda do diesel pelos preços congelados seriam bancadas por um programa de subsídio anunciado pelo governo federal, com validade até o final do ano, que promete ressarcir fornecedores em até 30 centavos de reais por litro.

Mas, com os preços internacionais em alta, a fórmula para os subsídios não tem sido suficiente para garantir a paridade de importação e uma margem para os agentes do mercado doméstico e importadores, mesmo após mudanças anunciadas pela reguladora ANP na segunda-feira, de acordo com o relatório do UBS.

"A Petrobras provavelmente irá importar o diesel abaixo de seu ponto de equilíbrio ('breakeven'), levando em consideração os preços internacionais e o teto de subsídios de 30 centavos por litro", apontaram os analistas do banco.

Eles lembraram que, além de possíveis perdas na importação, a Petrobras pode enfrentar outros custos associados ao incidente na Replan.

"As importações vão vir no pior cenário de preços... somados o possível custo de reparos pelos danos com o fogo, uma taxa baixa ou nula de utilização da refinaria (na sequência do incêndio) e as perdas com as importações, a Petrobras deve provavelmente enfrentar um terceiro trimestre desafiador", destacaram.

Os analistas ainda lembraram que a Petrobras não recebeu até o momento qualquer reembolso do programa federal de subsídios.

A Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) disse há duas semanas que foram aprovados pagamentos até o momento apenas a quatro empresas --Petro Energia, Sul Plata, Dax Oil e Refinaria de Petróleo RioGrandense. Segundo o regulador, há uma demora no processo devido à necessidade de conferência de grande volume de documentos.

"Nós acreditamos que a conta de recebíveis pode aumentar em 3 bilhões de reais até o final do terceiro trimestre, se a Petrobras não receber o pagamento da ANP", calcularam os profissionais do UBS.

A Petrobras tem dito que espera retomar a operação da Replan ainda nesta semana, com cerca de 50 por cento da capacidade. A ANP interditou a refinaria na sexta-feira, quando alegou a necessidade de checagens de segurança antes do retorno às atividades.

NOVA REGRA

Mudanças anunciadas na segunda-feira pela ANP na metodologia de cálculo dos preços de referência utilizados no programa de subsídio ao diesel, válidas a partir de 31 de agosto, foram vistas como "positivas" pelos analistas do UBS, embora ainda em nível insuficiente para permitir a venda no mercado interno por preço equivalente aos do mercado internacional mais uma margem, segundo eles.

A agência reguladora disse que a nova fórmula incluirá custos de movimentação e armazenagem nos terminais portuários e custos de logística interna para entrega em cada uma das regiões do país.

"Durante uma consulta pública, a maior parte dos grandes agentes reclamou sobre a proposta prévia divulgada pela ANP... nós não acreditamos que a fórmula (final) endereçou todas as questões; mas a maioria delas foi atendida... trazendo algum alívio às margens", explicaram.

A própria Petrobras chegou a alertar à ANP mais cedo neste mês que a fórmula inicialmente proposta pela autarquia poderia gerar risco de desabastecimento, ao reduzir os preços de referência sem levar em conta custos de internalização do diesel importado.

(Por Luciano Costa)