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Bolsonaro quer dar fim ao "toma lá dá cá", mas começa a acenar a partidos

25/10/2018 19h38

Por Ricardo Brito e Maria Carolina Marcello

BRASÍLIA (Reuters) - Favorito na corrida presidencial no domingo, o deputado federal Jair Bolsonaro (PSL), sustenta a promessa de implantar uma nova forma de fazer política e fugir do chamado "toma lá dá cá" para construir sua base, mas tem dado indicações nos últimos dias que pode recorrer à oferta de cargos para aliados de partidos, como o DEM.

O presidenciável já declarou a intenção de reduzir à metade os atuais 29 ministérios na Esplanada, mas até o momento não definiu como executar o plano, que pode encolher a sua margem de negociação com aliados.

O candidato, que chegou a dizer que estava com as mãos na faixa presidencial, já fez acenos ao atual presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ) e deu sinais de que poderia dar respaldo à sua reeleição no posto. Também houve aproximação com outros integrantes da sigla.

"Eu acho que o partido está receptivo. Cem por cento do DEM vota nele. Eu não conheço ninguém do DEM que não vote nele", disse uma fonte da sigla, lembrando da proximidade do deputado Onyx Lorenzoni (DEM-RS) com Bolsonaro, ao ponto de ter sido anunciado como o futuro ministro da Casa Civil.

"Você acha que ele vai governar sem o DEM?", lançou.

Dentre os democratas com maior aproximação do favorito nas pesquisas está o deputado Alberto Fraga (DF), que não obteve votos suficientes para chegar ao segundo turno pelo governo do Distrito Federal. O que se ventila é que poderia ocupar um cargo que cuide da articulação com o Congresso Nacional.

Já o deputado Pauderney Avelino (DEM-AM), que não conseguiu se eleger no Amazonas, gravou vídeo em que o capitão da reserva, ao seu lado, garante a sua participação no governo, com a tarefa de atuar como interlocutor do governo federal com seu Estado.

"Pode ter certeza, ele fará parte, com toda certeza, do nosso governo e fará então a intermediação desse Estado próximo e maravilhoso, mas que precisa de alguns reparos para que vocês possam economicamente, e em outras áreas também, crescer na região", disse Bolsonaro no vídeo.

A aproximação com o partido também envolve a inclusão de Mendonça Filho (DEM-PE) na elaboração da política educacional do novo governo.

O ensaio em direção ao DEM pode ter reflexos também no grupo do qual a sigla faz parte, o chamado centrão, formado pelo PP, PR, PRB e Solidariedade, além do DEM.

O bloco, aliás, já havia fechado acordo prévio para reeleição de Maia em 2019. Imaginava, no entanto, que isso ocorreria sob a batuta do tucano Geraldo Alckmin, fora do segundo turno da corrida presidencial apesar da coligação formal com o grupo, que lhe conferiu o maior tempo de propaganda em rádio e televisão entre os candidatos à Presidência.

Duas fontes do partido consultadas pela Reuters apostam na recondução de Maia, e citam seu poder de articulação como um ponto a favor. Para alcançar o atual posto, Maia chegou a conversar e fechar acordos com partidos da oposição, como o PCdoB.

O aceno para a reeleição de Maia, no entanto, ainda não está certo e é preciso levar em conta um outro componente: os integrantes do PSL, segunda maior bancada da Câmara, com expectativas de ainda inflar por conta da cláusula de barreira. Seus parlamentares podem pleitear a vaga para o partido.

Segundo fonte do Congresso Nacional, quanto maior a margem de vitória do vencedor, mais inflados estarão seus aliados no Legislativo e menos campo de negociação estará disponível.

Lideranças do partido de Bolsonaro admitem que um nome de fora da sigla poderia ajudar a governabilidade. Outros defendem que a solução passaria pela prata da Casa, de forma a impedir que Bolsonaro, uma vez eleito, fique refém do presidente da Câmara.

Toda essa movimentação, avalia uma das fontes, pode gerar um clima de frustração na base, que espera postura diferente do candidato, em consonância com suas promessas de campanha. Pondera ainda que há acertos com o DEM, mas há outros partidos no espectro político.

"A conta pode não fechar", alerta.

Deputado federal eleito pelo PSL paulista, o empresário Junior Bozzella disse à Reuters que um eventual governo Bolsonaro não vai atuar na base da barganha política e ressaltou que não vê problema na escolha de quadros políticos, desde que atenda a critérios técnicos.

Para ele, a "era Bolsonaro" quer o "fim do toma lá dá cá, do balcão de negócios, da sopa de letrinhas que tem que arregimentar uma série de partidos".

"Não pode recorrer na velha prática. Se for caminhar por esses lados, que todos se acostumaram a fazer nos últimos anos, eu acho que vai ser mais do mesmo. Creio que não será a linha de atuação do governo. O governo deve conversar e mostrar que aquilo é bom para o país. Então assim, se é bom para o país, nós temos uma militância aguerrida que vai se comportar e interpretar os deputados de forma positiva, que vão querer contribuir", disse Bozzella.

A única coligação formalizada pelo PSL no primeiro turno foi com o PRTB, partido do vice de Bolsonaro, general Hamilton Mourão. No segundo turno, recebeu o apoio do PTB e do PSC. Também selou como aliadas as frentes parlamentares da agropecuária e evangélica.

REDUÇÃO DE MINISTÉRIOS

A montagem de um eventual governo Bolsonaro prevê um corte de 29 para cerca de 15 em números de ministérios e drástica redução dos cargos em comissão, a se concretizar a promessa do indicado para assumir a Casa Civil, deputado federal reeleito Onyx Lorenzoni, de pôr fim a 20 mil desses postos.

Essa nova configuração prevista diminui a margem de negociação do governo, sob pressão de interesses de políticos aliados, frentes parlamentares que já declararam apoio a ele e também de setores empresariais.

Até o momento, o candidato do PSL confirmou três nomes para o primeiro escalão: além de Onyx para a Casa Civil, o economista Paulo Guedes para um superministério da Economia e o general da reserva do Exército Augusto Heleno para o Ministério da Defesa.

Ou seja, haveria 12 cargos em aberto no primeiro time da Esplanada dos Ministérios. Essa equação tem ficado mais difícil de solucionar porque Bolsonaro já anunciou ter desistido de incluir a atual pasta da Indústria e Comércio Exterior, mais conhecida como MDIC, na superpasta de Guedes e ainda tem repensado se vai levar adiante a fusão dos Ministérios da Agricultura e do Meio Ambiente, após reação de lideranças do setor do agronegócio.

A ex-corregedora Nacional de Justiça e ex-ministra do Superior Tribunal de Justiça Eliana Calmon, que passou a defender publicamente voto no segundo turno em Bolsonaro, de quem se aproximou recentemente, disse que o importante é fazer um "ministério independente de indicações políticas e pela meritocracia, mas alguns cargos têm de ser políticos".

"Não podemos abrir mão das pessoas que têm experiência política e que podem mostrar o caminho como se fossem bússolas e isso precisa ser feito", disse Calmon à Reuters. Ela tem sido cotada para assumir o Ministério da Justiça, mas afirmou que não tem qualquer pretensão de assumir o posto e pretende contribuir fazendo interlocuções com os Poderes.

(Reportagem de Ricardo Brito e Maria Carolina Marcello)