Apreensivo, Bolsonaro contava com vitória mais folgada
Por Ricardo Brito
RIO DE JANEIRO (Reuters) - O presidente eleito Jair Bolsonaro (PSL) estava apreensivo na noite de domingo durante a totalização dos votos e contava com uma vitória mais folgada contra o adversário, o petista Fernando Haddad, enquanto acompanhava pela televisão de sua casa num condomínio de luxo na Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro.
Bolsonaro, o oitavo presidente desde a redemocratização que conquistou 57,8 milhões de votos --o equivalente a 55,1 por cento dos votos válidos--, só ficou mais tranquilo às 19h10, quando ele já estava matematicamente eleito, segundo pessoas que acompanham a apuração na casa dele.
"Acabou", gritou efusivamente o deputado federal reeleito e indicado por ele chefe da Casa Civil, Onyx Lorenzoni (DEM-RS), o mais empolgado na casa dele. O presidente eleito recebeu o primeiro cumprimento do filho, o deputado federal e senador eleito Flávio Bolsonaro (PSL-RJ).
Depois, aos gritos de "Glória a Deus", foi abraçado na sequência por Onyx, pelo senador Magno Malta (PR-ES), que não conseguiu se reeleger, mas Bolsonaro já disse que vai contar com ele no Palácio do Planalto, e pela mulher, Michelle.
O vice-presidente eleito, general da reserva do Exército Hamilton Mourão (PRTB), não esteve presente nos cumprimentos. Deveria ter chegado de avião de Brasília no Rio de Janeiro no fim da tarde, mas o voo foi cancelado. Só chegou no fim da noite, quando os principais aliados de Bolsonaro já tinham deixado a casa dele.
Em toda a campanha, Mourão chegou a ser enquadrado por Bolsonaro ao dar declarações polêmicas em relação ao pagamento do décimo terceiro salário e a sugerir a realização de uma Assembleia Constituinte formada por notáveis que não tenham sido eleitos em votação popular.
Mesmo sem o vice-presidente eleito, Bolsonaro fez um aceno a Magno Malta, a quem disse ter trabalhado para que fosse seu vice. Ele chegou a gravar um vídeo nas redes sociais para dizer que ele vai participar da equipe do futuro governo --Malta foi derrotado na disputa à reeleição ao Senado pelo Espírito Santo.
"Acredito que ele não foi, não teve sucesso (em se eleger), porque se dedicou mais à minha campanha do que a dele tamanha foi a vontade, tamanha foi a forma como ele mergulhou nessa nossa campanha. Do fundo do meu coração, meu agradecimento a Magno Malta, estará conosco sim no Palácio do Planalto, afinal de contas é um grande homem, um grande valor e tem muito a dar a essa pátria", disse Bolsonaro, sob choro de Malta.
O presidente eleito entrou numa maratona de falas, transmissões por redes sociais, meio que foi seu principal trunfo nas eleições. Recebeu cumprimentos do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e de outras lideranças mundiais.
Em uma das transmissões, Bolsonaro agradeceu a presença das milhares de pessoas que comemoraram a sua eleição na porta do condomínio, desculpando-se por não poder sair.
Bolsonaro não quis dar uma entrevista coletiva logo após a eleição. Em uma transmissão a um pool de televisões, que incluiu uma rápida entrevista, ele disse que vai respeitar a Constituição e pregar a unificação do país --após a campanha mais polarizada das últimas décadas, quando chegou a falar que iria "fuzilar a petralhada".
Após a maratona eleitoral, que ficou ainda mais conflagrada após o atentado que Bolsonaro foi alvo no início de setembro, a previsão era que o presidente eleito fosse para Brasília na terça-feira para falar com autoridades dos três Poderes. Contudo, o presidente em exercício do PSL e seu fiel escudeiro, Gustavo Bebianno, disse que a ideia é outra.
"Ele (Bolsonaro) vai descansar, eu vou à praia", disse. "Amanhã acho que vai descansar, dois, três dias", reforçou.
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