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PF prende governador Luiz Fernando Pezão por esquema de corrupção no RJ

29/11/2018 07h16

Por Pedro Fonseca

RIO DE JANEIRO (Reuters) - O governador do Rio de Janeiro, Luiz Fernando Pezão (MDB), foi preso pela Polícia Federal nesta quinta-feira por suspeita de receber ao menos 39 milhões de reais em propina em valores atualizados, em mais um desdobramento das investigações da operação Lava Jato sobre um gigantesco esquema de corrupção no Estado.

A Procuradoria-Geral da República (PGR), que apresentou a petição ao Superior Tribunal de Justiça (STJ) que resultou na chamada operação Boca de Lobo, afirmou que Pezão integra o núcleo político de uma organização criminosa que cometeu vários crimes contra a administração pública, com destaque para corrupção e lavagem de dinheiro, ao longo dos últimos anos.

Segundo a procuradora-geral, Raquel Dodge, o governador assumiu a liderança do esquema de corrupção no Estado após a prisão do ex-governador Sérgio Cabral, que coordenava o esquema anteriormente, e continuou a cometer crimes apesar do andamentos das investigações, em especial a lavagem do dinheiro obtido de forma ilegal.

"Mesmo depois das prisões já feitas em relação aos que lideravam até recentemente esse esquema criminoso, houve uma nova liderança, e é nessa perspectiva que reponta a atuação do atual governador do Rio de Janeiro, que assume a liderança desse esquema e nele inclui novos atores, o que evidencia que houve uma sucessão com novos participantes sob uma nova liderança", disse Dodge em entrevista coletiva na sede da PGR, em Brasília.

Além de Pezão, outras oito pessoas tiveram a prisão decretada por envolvimento no esquema, incluindo secretários do governo estadual fluminense, empresários e pessoas ligadas a Pezão. Foram expedidos ainda 30 mandados de busca e apreensão nas cidades do Rio de Janeiro, Piraí, Juiz de Fora, Volta Redonda e Niterói.

A investigação teve como base acordo de delação premiada de Carlos Miranda, apontado como principal operador do esquema milionário de corrupção comandado por Cabral, de quem Pezão foi secretário de Obras e vice-governador entre 2007 e 2014. Cabral está preso desde novembro de 2016 condenado em diversas ações de corrupção.

De acordo com a PGR, investigações revelaram que Pezão operou um esquema de corrupção próprio, e o pedido de prisão teve como objetivo interromper a prática de atividade criminosa.

"A novidade é que ficou demonstrado ainda que, apesar de ter sido homem de confiança de Sérgio Cabral e assumido papel fundamental naquela organização criminosa, inclusive sucedendo-o na sua liderança, Luiz Fernando Pezão operou esquema de corrupção próprio, com seus próprios operadores financeiros”, disse a PGR em comunicado.

O governador nega as acusações. “Óbvio que eu nego tudo“, disse Pezão, escoltado por agentes da Polícia Federal, antes de deixar a sede da PF em direção a um presídio.

Para a PGR, a prisão do governador era necessária porque, solto, Pezão poderia dificultar a recuperação de valores desviados, além de dissipar o patrimônio adquirido por meio de prática criminosa.

Segundo o Ministério Público Federal, há registros documentais do pagamento em espécie a Pezão de mais de 25 milhões de reais no período de 2007 a 2015, o que equivale a pouco mais de 39 milhões de reais em valores atualizados --quantia que foi alvo de sequestro determinado pelo STJ.

O governo do Rio de Janeiro informou, em nota, que o vice-governador Francisco Dornelles assumiu a chefia do Poder Executivo após a prisão de Pezão, de acordo com a Constituição estadual.

"O governador em exercício afirma que o Governo do Estado do Rio de Janeiro manterá todas as ações previstas no Regime de Recuperação Fiscal (RRF) e dará prosseguimento aos trabalhos de transição de governo, reiterando o seu maior interesse na manutenção do bom relacionamento com os demais Poderes do Estado", informou o governo.

Pezão, de 63 anos, tomou posse como governador em abril de 2014 depois que Cabral renunciou ao cargo, e foi reeleito naquele mesmo ano. Em 2016, o governador ficou 6 meses afastado para passar por tratamento de um câncer, e ao retornar negociou um acordo de recuperação fiscal com o governo federal para aliviar a crise financeira atravessada pelo Rio de Janeiro.

O governador eleito do Rio, Wilson Witzel (PSC), que tomará posse em 1º de janeiro, disse em nota após a prisão de Pezão que a transição não será afetada.

(Reportagem adicional de Rodrigo Viga Gaier, no Rio de Janeiro, e Ricardo Brito, em Brasília)