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Inflação acumulada atingirá pico até maio, volta a patamar confortável depende de reformas, diz BC

26/03/2019 08h28

Por Marcela Ayres

BRASÍLIA (Reuters) - O Banco Central antecipou que a inflação acumulada em 12 meses deve atingir um pico em torno de abril ou maio, para depois recuar para patamar abaixo do centro da meta deste ano, mas ressaltou que a consolidação desse "cenário favorável" depende do andamento das reformas e ajustes na economia brasileira.

Em ata da última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) divulgada nesta terça-feira, o BC também jogou mais luz sobre sua leitura para a lenta atividade econômica ao avaliar que os choques sofridos em 2018 produziram impactos cujos efeitos persistem mesmo após cessados seus choques diretos.

No documento, o BC detalhou que esses choques do ano passado decorreram da greve dos caminhoneiros, pior ambiente externo para emergentes a partir do segundo trimestre e elevada incerteza sobre rumos econômicos do país em meio às eleições.

"Os membros do Copom avaliam que esses choques devem ter reduzido sensivelmente o crescimento que a economia brasileira teria vivenciado na sua ausência", apontou a ata.

"Uma aceleração do ritmo de retomada da economia para patamares mais robustos dependerá da diminuição das incertezas em relação à aprovação e implementação das reformas – notadamente as de natureza fiscal – e ajustes de que a economia brasileira necessita", completou o BC.

Com isso, a autoridade monetária reforçou mais uma vez a necessidade de mudanças estruturais na dinâmica das contas públicas, num momento em que embates públicos sobre a articulação para a reforma da Previdência têm levantado preocupações quanto à sua aprovação.

Em relatório, a equipe da Infinity Asset avaliou que as mensagens da ata evidenciam que as reformas são essenciais para uma eventual retomada do corte dos juros.

"A cautela do comitê na condução da política monetária tem foco bastante centrado na questão interna brasileira e no avanço da reforma da Previdência, evidenciando os danos possíveis por uma versão da reforma que não seja aprovada, ou aprovada em versão distorcida", disse a nota da Infinity enviada a clientes.

Para o economista-chefe do Banco Fator, José Francisco Gonçalves, o BC indica com a ata que uma parte relevante de atividade econômica ainda está pendurada em efeitos de choques vistos no ano passado, dando a entender que, à medida em que isso for absorvido, o crescimento exibirá trajetória diferente.

Gonçalves, contudo, segue acreditando em redução da Selic em 2019, a partir do segundo semestre, encerrando o ano em 6,0 por cento.

"Eu acho que a atividade está tão ruim e a economia mundial piorou tanto no sentido desinflacionário que é esquisito você jogar nas tais das reformas a sustentação de um cenário simétrico", afirmou.

RISCOS

Na semana passada, o BC manteve a taxa de juros no seu piso histórico de 6,5 por cento e indicou que, diante da retomada econômica aquém das expectativas, o balanço de riscos para a inflação ficou simétrico, com pesos iguais tanto para cima quanto para baixo.

A decisão, a primeira com Roberto Campos Neto no comando da autoridade monetária, tirou o impedimento explícito que o BC vinha apontando para possivelmente diminuir os juros à frente.

Isso porque o risco de o nível de ociosidade na economia produzir perspectiva de inflação abaixo do esperado se equiparou ao peso dos riscos que, na visão do BC, podem pressionar a inflação para cima -- estes últimos ligados à eventual frustração sobre a continuidade das reformas econômicas e deterioração do cenário externo para países emergentes.

Mas o Copom já havia assinalado que seguiria atento ao desenrolar da atividade econômica para a decisão de seus próximos passos na condução da política monetária, num processo que tomará tempo. O tom foi reiterado nesta terça-feira.

Na ata, os membros do Copom ponderaram que a queda nas projeções de mercado para o Produto Interno Bruto (PIB) neste ano refletem o nível mais baixo para o PIB ao fim de 2018, sob efeito do chamado “carregamento estatístico", além de indicadores preliminares disponíveis para os primeiros meses deste trimestre.

Apesar de a Selic estar estacionada há um ano no mesmo patamar, a economia vem mostrando dificuldades para ganhar fôlego. A inflação, por sua vez, segue em níveis confortáveis, cenário que vem embasando tanto apostas de aperto monetário mais demorado e suave à frente quanto de eventual corte nos juros para dar impulso à atividade.

Considerado uma prévia da inflação oficial, o IPCA-15 subiu 4,18 por cento nos 12 meses até março, divulgou o IBGE nesta terça-feira, numa aceleração em relação à alta acumulada no mês anterior (+3,73 por cento), mas ainda abaixo do centro da meta de inflação deste ano, que é de 4,25 por cento pelo IPCA, com margem de tolerância de 1,5 ponto para cima ou para baixo.