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Mensagem principal do BC é que precisamos de mais tempo para avaliar cenário, diz Campos Neto

28/03/2019 11h54

Por Marcela Ayres

BRASÍLIA (Reuters) - A mensagem principal do Banco Central é de que seu balanço de riscos ficou simétrico, mas que necessita de mais tempo para avaliar o cenário antes de eventuais mudanças na condução da política monetária, afirmou nesta quinta-feira o presidente do BC, Roberto Campos Neto.

"Não temos como tomar nenhuma medida no curto prazo", ressaltou ele, em sua primeira entrevista coletiva no cargo, por ocasião da publicação do Relatório Trimestral de Inflação.

Campos Neto ressaltou que a nova diretoria não buscou mudar nada na forma como o BC vinha atuando, com a preocupação de manter a narrativa que vinha sendo adotada sob a batuta de seu antecessor no cargo, Ilan Goldfajn.

Nesse sentido, o BC continou olhando três fatores para tomar sua decisão sobre os juros: a ociosidade na economia, o cenário externo e a perspectiva de reformas na economia no Brasil.

"Nós tivemos opiniões diversas sobre os diversos fatores, de tal forma que o conjunto das opiniões sobre o conjunto dos fatores levou a uma conclusão de que era mais simétrico", afirmou o presidente do BC, após ser questionado sobre o que exatamente mudou na visão do BC para o balanço de riscos ter passado ao equilíbrio. Antes, ele pendia para maior risco inflacionário.

"Não tenho como determinar qual foi o fator (mais preponderante) porque existiram opiniões distintas sobre cada fator e qual é a simetria e o quanto cada um pesava", afirmou.

Desde a semana passada, quando manteve os juros na mínima histórica de 6,5 por cento ao ano, o BC já havia indicado que, em meio à retomada econômica abaixo do esperado, o balanço de riscos para a inflação passou a ter pesos iguais tanto para cima quanto para baixo.

A decisão tirou o impedimento explícito que o BC vinha apontando para eventualmente diminuir os juros à frente. Mas o Copom indicou que seguirá atento ao desenrolar da atividade econômica antes de qualquer mudança de rota, numa avaliação que será feita com cautela e que lhe tomará tempo.

"Que tempo é esse eu não tenho como quantificar agora", disse o presidente do BC.

Sobre a lentidão da atividade econômica, Campos Neto afirmou ser crucial entender os impactos de choques ocorridos no ano passado, em referência à greve dos caminhoneiros, crise em emergentes e incertezas ligadas às eleições presidenciais no país, indicando que esse quadro ainda está turvo.

"Quando você tem choques dessa natureza, muitas vezes se comportam como um aperto monetário temporário. Você precisa de um tempo para ver como isso vai se dissipar e qual é o timing que vai dissipar", afirmou.

"Tivemos no ano passado vários fatores que produziram esse aperto. Tivemos crise nos mercados emergentes, tivemos Estados Unidos com inicialmente expectativa de alta (nos juros), que depois se reverteu. Existe hoje um medo de uma desaceleração global mais forte."

"Na Europa, entre um Copom e outro, teve uma revisão de expectativa de crescimento para baixo bastante forte. Tem o tema da China muito importante, que eles anunciaram várias medidas para conter a desaceleração que, hoje, nós não sabemos se vão surtir efeito ou não, tem toda uma parte externa. E tem a parte local", elencou Campos Neto.

Nesta quinta-feira, o BC piorou sua projeção de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil em 2019 a 2,0 por cento, contra 2,4 por cento antes, citando a fraqueza observada na atividade no fim de 2019, consequências da tragédia de Brumadinho (MG) e menor perspectiva para a safra agrícola neste ano.

O BC reconheceu que o ritmo mais fraco de recuperação econômica também teve um papel nas suas reestimativas, mas menor na comparação com os demais fatores.

PREVIDÊNCIA

Quanto à reforma da Previdência, considerada crucial para o reequilíbrio das contas públicas, Campos Neto afirmou que o BC não tem como ter uma projeção sobre o momento de aprovação da proposta, mas que está confiante que ela será chancelada pelo Congresso.

O importante para a autoridade monetária é como o andamento desse processo irá afetar o canal de expectativas para a inflação, sublinhou o presidente do BC.

Após as turbulências envolvendo a falta de articulação política para a reforma terem azedado o humor dos mercados, ele pontuou que o Copom tenta se abstrair dessa alta frequência e desse nível de ruído, priorizando uma análise de médio e longo prazos.

Campos Neto pontuou ainda que a autoridade monetária não realizou nenhuma alteração na estratégia para o câmbio depois do anúncio do leilão de linha na véspera em meio à alta do dólar frente ao real, embalada pelo conturbado clima para tramitação da PEC da Previdência.

"Câmbio é flutuante e nós vamos sempre fazer as intervenções visando suprir liquidez, sempre entendendo qual é o instrumento que é mais demandado. Não existe nenhuma estratégia de trocar linha por swap", disse.

"A gente entendeu que o cupom cambial estava relativamente com um comportamento disfuncional e entendemos então que o leilão de linha era veículo apropriado e que o timing era apropriado para fazer isso", acrescentou.