Revisão contábil leva Caixa Econômica a prejuízo no 4º tri; CEO mira mercado de capitais
Por Aluisio Alves
SÃO PAULO (Reuters) - A Caixa Econômica Federal teve prejuízo no quarto trimestre, com o presidente-executivo Pedro Guimarães liderando ajustes contábeis para alinhar o banco estatal a práticas de mercado em preparação para listar quatro subsidiárias em bolsa.
Um pacote de medidas incluindo revisão para baixo do valor de imóveis retomados, piora na classificação de risco de crédito para grandes empresas, amortização acelerada de alguns ativos próprios, provisão para cobrir possível perda de rentabilidade em fundos do FGTS e maiores perdas com algumas transações de financiamento imobiliário fez a Caixa ter prejuízo de 1,1 bilhão de reais entre outubro e dezembro.
Com isso, o lucro líquido acumulado do ano, que era de 11,5 bilhões de reais até setembro, fechou 2018 em 10,36 bilhões de reais, mostrando queda de 17,1 por cento contra o ano anterior.
O movimento confirma reportagem da Reuters publicada em fevereiro, citando fontes, antecipando que Guimarães faria um ajuste contábil bilionário sobre o balanço de 2018, o que deveria ter importante impacto sobre o lucro.
Guimarães, que assumiu em janeiro, negou que os ajustes sejam uma ingerência sobre o balanço executado pela gestão anterior, destacando que as mudanças representam um alinhamento às melhores práticas do mercado.
Apesar da queda no resultado líquido, o lucro recorrente do ano passado, de 12,7 bilhões de reais, cresceu 40,4 por cento.
A diretiva de Guimarães faz parte dos esforços para tornar o banco comparável com rivais privados, enquanto prepara a venda parcial de negócios de seguros, de cartões, de gestão de recursos e de loterias.
"A Caixa tem função social, mas é um banco e banco tem que ganhar dinheiro", disse o executivo a jornalistas.
As medidas ilustram a dramática mudança de rumo do banco, que foi o ícone de uma campanha estatal no começo da década para estimular a economia do país com empréstimo barato, inclusive para grandes conglomerados.
Nos últimos anos, diante dos efeitos da recessão de 2015-16, o banco vem saindo de linhas tidas como de maior risco, voltando a se concentrar na carteira imobiliária.
Assim, em 2018, o estoque de empréstimos da Caixa encolheu pelo segundo ano seguido, chegando a 694,5 bilhões de reais, um declínio nominal de 1,7 por cento sobre o ano anterior.
Em contrapartida, as provisões para perdas com inadimplência caíram 22,5 por cento, para 14,9 bilhões de reais.
Em outra frente, o banco reduziu a despesa com folha de pagamento em 3,6 por cento, enquanto as receitas com serviços e tarifas cresceram 7,2 por cento, a 26,85 bilhões de reais.
Segundo Guimarães, as receitas com serviços devem ser o carro-chefe do crescimento do resultado nos próximos, à medida que o banco amplia a oferta de produtos na rede, incluindo seguros e cartões nas lotéricas, além de mais alternativas de investimentos a clientes pessoa física, e se lança fortemente no mercado de capitais para assessorar a captação de recursos para empresas.
O vice-presidente de finanças da Caixa, André Laloni, disse na coletiva que o banco formou uma equipe de cerca de 40 funcionários para coordenar o trabalho de banco de investimento.
"Já há cerca de 40 transações que estamos coordenando", disse Laloni.
Os executivos sinalizaram que o banco deve obter receitas extraordinárias com a venda de alguns ativos, incluindo ações de grandes empresas, como da Petrobras, e de imóveis próprios, que podem ser alocados em fundos de investimento.
(Com reportagem adicional de Gabriela Mello e Carolina Mandl)
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