Cofco compensa com milho parte da menor demanda por soja no Brasil
Por Roberto Samora e Marcelo Teixeira
SÃO PAULO (Reuters) - A Cofco International está parcialmente compensando a menor movimentação de soja no Brasil neste ano, devido à queda na demanda chinesa, com uma maior originação de milho, em meio a recordes nas exportações do cereal pelo país, disseram executivos da empresa chinesa à Reuters.
Assim, a Cofco deverá originar no Brasil entre 500 mil e 1 milhão de toneladas a menos de grãos em 2019 ante o ano passado, com a originação de soja caindo cerca de 2 milhões de toneladas e a de milho aumentando em 1,3 milhão.
Ao todo, o volume de soja originada pela chinesa no país ficará perto de 5 milhões de toneladas em 2019, e o de milho, em 3,8 milhões de toneladas.
Os números refletem o impacto da peste suína africana na China para as exportações de soja do Brasil, um fator que atingiu todo o setor, além da força das exportações de milho, beneficiadas pelo câmbio, boas margens e uma safra histórica de cerca de 100 milhões de toneladas no país.
"Houve uma antecipação na colheita de milho, que foi fantástica em termos produtividade, acabou gerando um grande excedente para exportação, e as margens passaram a ser interessantes tanto para o produtor quanto para o setor de trading", disse o managing director da divisão de grãos e oleaginosas da Cofco International no Brasil, Valmor Schaffer.
"Então a maior parte das empresas acabou migrando mais cedo para a exportação de milho. E aí tem a restrição no Brasil de que a maior parte dos portos não consegue trabalhar com os dois produtos (soja e milho) ao mesmo tempo, como a margem era melhor no milho, todo mundo antecipou", acrescentou.
Normalmente, o Brasil, maior exportador global de soja, embarca os maiores volumes da oleaginosa após a colheita no primeiro semestre, estendendo os embarques até o início da segunda parte do ano. Depois é a vez do milho, que tem no Brasil o segundo exportador mundial.
Mas neste ano o cereal entrou no fluxo mais cedo, conforme explicou Schaffer, ex-presidente para a América do Sul da companhia do agronegócio Archer Daniels Midland Co.
Para executivos da Cofco, o fato de a empresa ser chinesa não significa que a guerra comercial EUA-China beneficiou a companhia, que não recebeu "qualquer informação privilegiada". Mas a disputa sino-americana definitivamente favoreceu o produtor brasileiro, "porque ele pôde vender com um prêmio bom, e também aproveitou a variação cambial", disse o chefe da unidade de grãos e oleaginosas.
NOVA SAFRA
Essa situação, de certa forma, é um impulso para o produtor ampliar a área plantada em investir em tecnologias, o que pode permitir um aumento de 4 milhões de toneladas na produção brasileira em 2019/20, para 122 milhões de toneladas, segundo avaliação da diretora comercial e de trading de grãos e oleaginosas da companhia no Brasil, Carolina Hernandez Tascon.
Apesar de um atraso inicial no plantio de soja, a executiva disse que segunda safra de milho, plantada após a oleaginosa, deverá ser boa, possivelmente acima do recorde deste ano. Mas ela não quis estimar um número, enquanto ainda não está claro o impacto dessa semeadura mais lenta.
"Vemos um incremento considerável no ano que vem... incremento de área de soja e produtividade, incorporação de tecnologia da semente... E quanto a exportações também vemos uma recuperação", disse ela, acreditando em alguma melhora da demanda chinesa, com o país asiático começando a controlar a peste suína africana em algumas áreas.
"Com a recomposição do rebanho suíno na China, achamos que vai haver recuperação na demanda por soja em 2020. No segundo semestre, se tiver a peste suína controlada, achamos que as áreas na costa poderiam começar a ter reativação."
Outra questão que vai influenciar na demanda por soja é a guerra comercial. Mas a Cofco não vê grandes problemas no caso de a disputa entre as duas maiores economia do mundo prosseguir.
"Independentemente, se tivermos solução ou não, não vemos grandes impactos nos volumes. Se a guerra comercial continuar, a China continuará a ser o grande parceiro brasileiro e vamos ter reativação das exportações através da contenção do problema da peste suína", disse Carolina.
"Se tiver cenário de resolução de guerra comercial, vamos fazer trading com outras origens, e isso vai trazer demanda para o Brasil", acrescentou a executiva, lembrando que a disputa EUA-China deixou o produto brasileiro mais caro para importadores em relação ao produto dos EUA, que pôde vender mais para outros destinos que não os chineses.
"Esses fluxos deveriam se reacomodar se a gente voltar a ter as condições de mercados normais."
Questionado sobre preocupações relacionadas a incêndios na Amazônia, o executivo disse que os negócios do setor não sofreram problemas até o momento, destacando que os clientes no exterior sabem que a indústria de soja do Brasil adota há mais de uma década a chamada Moratória da Soja, que impede a compra e financiamento pelas tradings de safras cultivadas em áreas desmatadas na região amazônica após 2008.
FARELO
Questionado sobre recente anúncio de liberação de produtores de farelo de soja da Argentina para exportar à China, o executivo comentou que isso faz parte de um processo que se iniciou com vistorias de unidades, algo que aconteceu no Brasil na última semana, segundo ele.
"Após essa vistoria, eles podem decidir fazer aquisições ou não, dependendo na necessidade. Achamos que existe possibilidade de o Brasil também participar disso, se é que isso vai acontecer", comentou, em referência ao processo burocrático pela frente. Ele disse ainda que a Cofco estaria bem posicionada para atender a demanda de farelo chinesa a partir de Argentina e Brasil.
Na Argentina, a Cofco conta com três unidades de processamento de soja, duas delas em porto, enquanto no Brasil conta com uma, dentro de complexo industrial ferroviário de Rondonópolis, em Mato Grosso.
(Por Roberto Samora e Marcelo Teixeira)
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