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EUA e China assinarão acordo comercial para aliviar guerra comercial

Encontro dos presidentes dos EUA, Donald Trump, e da China, Xi Jinping - Kevin Lamarque
Encontro dos presidentes dos EUA, Donald Trump, e da China, Xi Jinping Imagem: Kevin Lamarque

David Lawder

15/01/2020 07h31

A guerra comercial entre Estados Unidos e China deve entrar em uma nova fase mais calma hoje, quando o presidente norte-americano, Donald Trump, e o vice-premiê chinês, Liu He, assinarem um acordo inicial que busca aumentar as compras chinesas de produtos manufaturados, agrícolas, energia e serviços dos EUA.

A fase 1 do acordo encerra 18 meses de conflitos tarifários entre as duas maiores economias do mundo, que afetou centenas de bilhões de dólares em produtos, prejudicando os mercados financeiros e canais de oferta e desacelerando o crescimento global.

Trump e Liu vão assinar o documento de 86 páginas em um evento na Casa Branca diante de mais de 200 convidados do setor empresarial, do governo e de círculos diplomáticos.

Uma tradução do texto para o chinês ainda estava sendo finalizada ontem, enquanto Liu se encontrava com o representante de Comércio dos EUA, Robert Lighthizer.

O ponto central do acordo é uma promessa da China de comprar mais US$ 200 bilhões em produtos dos EUA ao longo de dois anos para reduzir o déficit comercial bilateral dos EUA que chegou a US$ 420 bilhões em 2018.

Uma fonte com conhecimento do acordo disse à Reuters que a China prometeu comprar mais US$ 80 bilhões em produtos manufaturados dos Estados Unidos ao longo dos próximos dois anos, incluindo aeronaves, carros e autopeças, maquinário agrícola e aparelhos médicos.

A China também aumentará as compras de energia em cerca de US$ 50 bilhões e serviços em US$ 35 bilhões, enquanto as compras agrícolas subirão US$ 23 bilhões nos dois anos, tudo comparado com um cenário básico de exportações dos EUA à China em 2017, disse a fonte.

Quando combinado aos US$ 24 bilhões em exportações agrícolas em 2017, o total chega perto da meta anual de Trump de US$ 40 bilhões a US$ 50 bilhões em vendas agrícolas anuais à China.

Embora o acordo possa ser um grande impulso para produtores agrícolas, para a Boeing e para montadoras e fabricantes de equipamentos pesados dos EUA, alguns analistas questionam a capacidade da China de transferir importações de outros parceiros comerciais para os EUA.

"Acho que uma mudança radical nos gastos chineses é improvável. Tenho expectativas baixas para o cumprimento das metas apresentadas", disse Jim Paulsen, estrategista-chefe de investimento do Leuthold Group.

Tarifas ficarão

A Fase 1 do acordo, alcançada em dezembro, cancelou as tarifas planejadas dos EUA sobre telefones celulares, brinquedos e laptops fabricados na China e reduziu pela metade, a 7,5%, a tarifa sobre cerca de US$ 120 bilhões em outros produtos chineses, incluindo televisores de tela plana, fones de ouvido Bluetooth e calçados.

Mas os Estados Unidos vão manter tarifas de 25% sobre uma vasta gama de US$ 250 bilhões em bens e componentes industriais chineses usados pela manufatura norte-americana.

Existem evidências cada vez maiores de que essas tarifas elevaram os custos de insumos para as indústrias norte-americanas, prejudicando sua competitividade.

Lighthizer e Mnuchin agiram para eliminar as sugestões de que os EUA e a China poderiam rever a possível remoção de mais tarifas após as eleições norte-americanas de novembro, emitindo uma declaração conjunta de que não houve acordos escritos ou verbais para futuras reduções tarifárias.

Mnuchin disse posteriormente a repórteres que Trump poderia considerar uma redução nas tarifas se as duas maiores economias do mundo agirem rapidamente para selar a Fase 2 de sequência do acordo.

A Fase 1 também deixa de responder às principais queixas dos EUA sobre as práticas comerciais e de propriedade intelectual da China que levaram o governo Trump a pressionar Pequim por mudanças no início de 2017.

O acordo não contém disposições para limitar subsídios galopantes para empresas estatais, que o governo culpa pelo excesso de capacidade em aço e alumínio e afirma ameaçar indústrias de aeronaves a semicondutores norte-americanas.

Também não aborda as restrições comerciais digitais e os onerosos regulamentos de segurança cibernética da China que atrapalharam as empresas de tecnologia dos EUA com unidades na China.

Mnuchin e Lighthizer disseram que essas questões são as principais prioridades dos EUA para a segunda fase de negociações com a China.