Teich diz não saber quando será pico de coronavírus e reitera alinhamento com Bolsonaro
Por Maria Carolina Marcello
BRASÍLIA (Reuters) - O ministro da Saúde, Nelson Teich, afirmou nesta quarta-feira, em audiência virtual no Senado, que ninguém sabe quando será o pico de contaminação do novo coronavírus uma vez que ainda são necessárias mais informações sobre a doença, e reiterou estar alinhado com o presidente Jair Bolsonaro.
"Não sei e ninguém sabe", disse Teich em resposta a questionamento de um parlamentar durante a audiência sobre quando será o pico da doença, repetindo o que tem dito nos últimos dias que ainda é preciso obter mais informações.
Segundo ele, as projeções são feitas a partir de suposições com base em modelos, e não é possível elaborar um plano de longo prazo devido às incertezas que cercam a pandemia. Teich também ressaltou que as diferentes regiões do país terão momentos distintos de auge dos casos.
Teich, que assumiu o cargo em 17 de abril no lugar de Luiz Henrique Mandetta, ainda não apresentou um plano de ação abrangente para enfrentar a pandemia. Ele tem insistido na necessidade de se colher dados para definir diretrizes.
"Falta de informação é uma coisa que não te permite enxergar o que está acontecendo", afirmou, ressaltando, no entanto, que o ministério está trabalhando. "A gente trabalha e tem ação o tempo todo, e ao mesmo tempo continua colhendo informação."
O ministro foi convidado à sessão remota do Senado desta quarta-feira, por videoconferência, para falar das ações da pasta no combate à crise do coronavírus, incluindo as providências tomadas em relação a Estados e municípios.
No início da fala, Teich anunciou os novos números da pandemia no Brasil: mais 449 mortes, totalizando 5.466, e um recorde diário de 6.276 casos, o que eleva o total de infecções no país para 78.162.
O ministro também anunciou que será apresentado na quinta-feira o novo plano de testagem de coronavírus do ministério. Segundo ele, mais 2 milhões de testes serão enviados para diferentes locais do país na segunda-feira para ampliar a capacidade de testagem --um dos problemas enfrentados pelo país no combate à pandemia.
COBRANÇAS
Teich foi bastante cobrado por parlamentares por ainda não ter apresentado um plano de ação para o enfrentamento à doença e por uma posição pessoal mais clara sobre a questão do isolamento social --defendido pelos especialistas em saúde pública como melhor forma de conter o avanço da pandemia, mas criticado por Bolsonaro.
Sobre o isolamento --tema que levou à demissão do ex-ministro Mandetta por discordar da posição de Bolsonaro a favor de um afrouxamento--, o ministro ponderou que é necessário avaliar particularidades regionais.
Mesmo reconhecendo que o distanciamento é uma medida conhecidamente eficaz para diminuir o risco de contágio, Teich lembrou que vai apresentar em breve as diretrizes do governo federal para os Estados abordarem o possível afrouxamento das medidas de isolamento.
Questionado diretamente se é favorável à política de isolamento, afirmou que o Ministério da Saúde nunca mudou sua orientação original a favor da manutenção do distanciamento, que foi emitida durante a gestão do ministro anterior.
"A gente, como ministério, nunca se posicionou para a saída do distanciamento", afirmou.
O ministro também reiterou seu alinhamento com Bolsonaro, dizendo que se deve à preocupação do presidente com as pessoas e a sociedade.
“O presidente, ele está preocupado com as pessoas, ele está preocupado com a sociedade, não vou discutir comportamento. Mas eu posso dizer que ele está preocupado”, afirmou, acrescentando ser essa uma das razões de ter aceitado assumir a pasta.
Na véspera, Bolsonaro reagiu com desdém ao ser indagado sobre o número recorde de mortes em 24 horas pelo Covid-19, doença respiratória provocada pelo novo coronavírus, no Brasil e disse que, embora lamentasse, não podia fazer nada a respeito.
"E daí? Lamento. Quer que eu faça o quê? Eu sou Messias, mas não faço milagre", respondeu o presidente a jornalistas ao chegar ao Palácio da Alvorada, fazendo referência ao seu nome do meio.
A fala do presidente foi criticada por diversos parlamentares durante a audiência do ministro.
(Reportagem de Maria Carolina Marcello)
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