Estudo relaciona desmate na Amazônia a menores produtividades do milho no Brasil
Por Jake Spring
BRASÍLIA (Reuters) - O desmatamento na Amazônia brasileira e no bioma vizinho, o Cerrado, pode estar prejudicando as produtividades regionais de milho, de acordo com um novo estudo divulgado nesta segunda-feira.
Aproximadamente um quinto da Amazônia brasileira foi derrubada nos últimos 50 anos, quando o país passou de importador de alimentos a potência agrícola global. Em termos de milho, o Brasil é hoje o segundo maior exportador do mundo, só atrás dos Estados Unidos.
Mas a devastação da floresta, que inclui mais de metade da vegetação natural do Cerrado, tornou a região mais quente --e este calor está associado a menores produtividades de milho, relataram cientistas no periódico científico Nature Sustainability.
"A paisagem está ficando muito mais quente do que deveria", disse Stephanie Spera, coautora do estudo e cientista ambiental da Universidade de Richmond.
"Estamos mexendo tanto com o sistema que podemos acabar não conseguindo mais fazer agricultura, especificamente o milho."
Os pesquisadores ligaram o desmatamento a uma redução de 5-10% das produtividades de milho na maior parte do Mato Grosso, o Estado brasileiro que mais produz grãos.
As plantações de soja mostraram-se menos sensíveis que o milho às mudanças climáticas.
Em Mato Grosso, também o maior produtor de soja do país, produtores geralmente plantam a oleaginosa na primeira e maior safra, para a colheita no verão, e depois semeiam o milho, na segunda safra, a partir de janeiro e fevereiro.
Pelo calendário de cultivo, a soja tradicionalmente obtém melhores condições climáticas para se desenvolver, enquanto o milho é considerado uma cultura de maior risco, porque seu período de desenvolvimento avança para uma época em que chove menos no Estado.
Spera e seus colegas usaram simulações de computador para ver como várias projeções de desmatamento impactariam as condições climáticas locais e o rendimento das colheitas, e compararam estes casos com a maneira como as colheitas poderiam ter sido sem o corte de árvores.
O estudo apontou que, em 2016, as condições incluíram oito "noites quentes" a mais por ano, com temperaturas acima dos 24 graus Celsius, do que se a floresta tivesse permanecido intacta.
Estas temperaturas noturnas mais elevadas podem prejudicar o crescimento do milho.
Os pesquisadores também analisaram possíveis situações futuras, entre elas todo o Cerrado ou o sudeste da Amazônia desflorestado e convertido em terras de cultivo.
Nestes casos, previu-se que a produção de milho cairia até 20% em alguma áreas do Mato Grosso.
O mesmo desmatamento que prejudica as lavouras também pode danificar a floresta remanescente. A perda de cobertura vegetal pode diminuir a quantidade de umidade disponível para o ciclo de chuvas.
Alguns cientistas estimam que, se entre 20 e 25% do total da floresta tropical original é destruída, a Amazônia poderia entrar em uma espiral de morte, ficando sem chuvas e umidade suficientes, transformando-se em um cerrado.
"O desmatamento interfere nas chuvas e reduz a produtividade agropecuária", disse Raoni Rajão, professor de gestão ambiental da Universidade Federal de Minas Gerais.
O desmatamento na floresta amazônica brasileira acelerou para uma máxima de 11 anos em 2019, com mais de 10 mil quilômetros quadrados (2,5 milhões de acres) em 2019.
O desflorestamento aumentou mais 34% nos primeiros cinco meses do ano, em comparação com o mesmo período do ano anterior, mostram dados preliminares do governo.
Pesquisadores e especialistas acusam o presidente Jair Bolsonaro, que assumiu o cargo em 2019, de incentivar a derrubada de florestas revertendo as proteções ambientais.
Bolsonaro pediu mais agricultura e mineração em áreas protegidas da floresta tropical, argumentando que as atividades comerciais ajudarão a tirar a região amazônica do Brasil da pobreza e que a maior parte da floresta tropical permanece intacta.
"O futuro das mudanças climáticas já chegou, e a situação deve ficar pior", acrescentou o professor da UFMG.
ID: {{comments.info.id}}
URL: {{comments.info.url}}
Ocorreu um erro ao carregar os comentários.
Por favor, tente novamente mais tarde.
{{comments.total}} Comentário
{{comments.total}} Comentários
Seja o primeiro a comentar
Essa discussão está encerrada
Não é possivel enviar novos comentários.
Essa área é exclusiva para você, assinante, ler e comentar.
Só assinantes do UOL podem comentar
Ainda não é assinante? Assine já.
Se você já é assinante do UOL, faça seu login.
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Reserve um tempo para ler as Regras de Uso para comentários.