Dólar dispara contra real em meio a aversão a risco e BC faz leilão à vista
Por Luana Maria Benedito
SÃO PAULO (Reuters) - O dólar encostou em 5,80 reais nesta quarta-feira e levou o Banco Central a intervir no mercado de câmbio com venda de moeda à vista, o que ajudou a arrefecer apenas levemente a alta da moeda norte-americana nesta manhã.
A disparada do dólar foi resultado da busca por segurança dos investidores em meio à forte disseminação da Covid-19 em grandes economias e à aproximação da eleição presidencial norte-americana, enquanto o cenário local refletia expectativa para a reunião de decisão de juros do Copom.
Depois que o BC vendeu mais de 1 bilhão de dólares em moeda à vista, às 10:49 o dólar avançava 0,65%, a 5,7194 reais na venda.
Mais cedo, na máxima da sessão, a moeda norte-americana foi a 5,7933 reais, seu maior valor desde 18 de maio, data em que chegou a superar a marca de 5,80.
O dólar futuro negociado na B3 subia 0,46%, a 5,7335 reais.
Esta quarta-feira era marcada por uma onda de cautela nos mercados internacionais, com o dólar subindo cerca de 0,5% contra uma cesta de moedas fortes, enquanto todos os principais pares do real operavam em queda.
Segundo nota do time econômico da Guide Investimentos, colaborando para a venda de ativos mais arriscados, "a agressiva segunda onda de coronavírus na Europa e a piora do quadro nos EUA adicionam forte incerteza a um ambiente que já conta com forte volatilidade em função da proximidade das eleições presidenciais nos Estados Unidos."
Entre os investidores, o principal temor diante de uma segunda onda da doença é a reimposição de lockdowns nas principais economias, que poderia minar uma frágil recuperação global diante do tombo causado pela pandemia. A França e a Alemanha, duas gigantes europeias, já consideravam a adoção de novas restrições à atividade.
Nos Estados Unidos, o cenário continuava nebuloso antes das acirradas eleições presidenciais, disputadas pelo atual presidente, Donald Trump, e seu adversário democrata, Joe Biden, enquanto a Casa Branca e o Congresso norte-americano continuam sem um acordo para mais medidas de auxílio fiscal, consideradas essenciais para a recuperação do emprego e da atividade empresarial nos Estados Unidos.
Por aqui, o foco dos investidores brasileiros recaía sobre a reunião do Comitê de Política Monetária do Banco Central, que será concluída nesta quarta-feira, após o fechamento dos mercados domésticos. A expectativa é de que o Copom mantenha a taxa Selic em sua mínima histórica de 2%.
O patamar extremamente baixo da taxa básica de juros tem sido apontado como um dos principais fatores para a desvalorização do real no ano de 2020, uma vez que afeta a rentabilidade de ativos locais atrelados à Selic. Um cenário fiscal e econômico incerto tem aprofundado ainda mais as preocupações domésticas.
"Percebemos que o Brasil saiu do radar do exterior já há algum tempo. Não temos juros, não temos perspectiva de crescimento de médio prazo factível", disse à Reuters Italo Abucater, gerente de câmbio da Tullett Prebon. "A 'cereja do bolo' é o Copom, com sinais de que não haverá aumento de juros tão cedo."
Na véspera, o dólar spot teve alta de 1,25%, a 5,6825 reais, seu maior patamar para encerramento desde 20 de maio (5,6902).
Além da intervenção extraordinária com moeda spot, o Banco Central anunciou para este pregão leilão de swap tradicional para rolagem de até 12 mil contratos com vencimento em abril e agosto de 2021.
Segundo Sidnei Nehme, economista e diretor-executivo da NGO Corretora, o BC tem apresentado estratégias pouco eficientes de intervenção no mercado de câmbio, evitando adoção de medidas como a venda de novos swaps para evitar passar uma imagem de preocupação com o cenário.
Em relação ao leilão à vista deste pregão, Nehme opinou que "é só uma sinalização de que o BC está atento. Você só age com o mercado a vista quando há um fluxo muito negativo."
(Por Luana Maria Benedito; Edição de Camila Moreira)
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