Após ata do Copom, economistas antecipam previsão para início de alta de juros
Por José de Castro
SÃO PAULO (Reuters) - Profissionais do mercado financeiro começaram a antecipar suas projeções de aumento de juros após a divulgação nesta terça-feira da ata da última reunião de política monetária do Banco Central, considerada por analistas ainda mais dura com a inflação do que o comunicado da semana passada.
Segundo o documento, alguns diretores defenderam que o Copom --colegiado do BC que decide os rumos da política monetária-- deveria considerar o início de um processo de normalização parcial da taxa básica de juros, reduzindo o grau "extraordinário" do estímulo.
Sobre a opção do Copom de abandonar o "forward guidance" --mecanismo pelo qual o BC se comprometia a não elevar os juros desde que algumas condições estivessem satisfeitas--, a ata reiterou que a decisão foi tomada porque as projeções de inflação já estavam suficientemente próximas da meta para o horizonte considerado relevante para a política monetária (até 2022).
O Itaú Unibanco --que 11 dias atrás já havia antecipado de agosto para maio a previsão para início da normalização da Selic-- passou a ver alta dos juros na próxima reunião do Copom, nos dias 16 e 17 de março.
"A ata do Copom, divulgada hoje pela manhã, elimina possíveis dúvidas sobre o senso de urgência das autoridades. Ela mostra que as autoridades consideraram um aumento de juros na reunião, e praticamente se comprometem com uma elevação em março (parágrafos 15-16)", disse o banco em nota.
O Itaú avaliou que a sinalização do BC decorreu do comportamento da inflação desde maio de 2020, quando o Banco Central decidiu que a conjuntura prescrevia "estímulo monetário extraordinariamente elevado", e da "contínua" piora no balanço de riscos, principalmente relacionada ao cenário fiscal "desafiador".
"Como resultado, esperamos agora um aumento de 0,25 p.p. em março, seguido por dois movimentos de 0,50 p.p. e uma alta final de 0,25 p.p., que levaria a taxa Selic para 3,5% (uma normalização parcial) ao final do ano", disse o Itaú. "O ritmo de elevação dependerá da evolução da atividade econômica, da inflação e da política fiscal."
O Bank of America também passou a ver alta da Selic em março, depois de na semana passada reiterar "call" de juro mais alto apenas no fim do primeiro semestre. O banco projeta acréscimo de 0,50 ponto percentual da taxa básica de juros em março, para 2,50%, e indo até 4% ao fim do ano, contra estimativa anterior de 3,25%.
"As taxas reais de juros estão em território negativo, e a inflação segue pressionada, apontando altas (dos juros) antes", disse o BofA, que também elevou o prognóstico para a Selic ao fim de 2022, de 4% para 5,25%.
"Na ata, o BCB se deu todos os graus de liberdade possíveis em relação às próximas decisões de taxas, incluindo a possibilidade de alta em março. O Copom se concentrará nas próximas divulgações de dados para decidir os próximos passos da política monetária", afirmou o banco.
A Quantitas é outra casa financeira que revisou para março o início das altas de juros --antes, previa que o ciclo começaria apenas no terceiro trimestre. Embora tenha antecipado o começo dos aumentos, a gestora segue vendo quatro altas de 0,50 ponto percentual, com orçamento total de 2 pontos percentuais em aperto monetário durante 2021.
"Dos 3 vetores (fiscal, atividade e inflação), acreditamos que até março todos eles estarão piores ou no máximo iguais", disse Ivo Chermont, sócio e economista-chefe da Quantitas, vendo um "auxílio emergencial 2.0" à frente.
"Se necessário, no início de 2022, (o Copom) volta a subir (os juros). Se formos agraciados com o milagre de uma Brasília reformista, talvez a gente possa ver o juro no final de ciclo em 4%", completou.
O Goldman Sachs ainda espera que o início dos aumentos de juros ocorra em maio/junho, com orçamento de 1,50 ponto percentual de altas em 2021. "(Mas), devido à linguagem 'hawkish' na ata, não descartamos uma elevação já no encontro de 17 de março", disse em nota Alberto Ramos, diretor de pesquisas econômicas do Goldman Sachs para a América Latina.
Ramos lembrou os riscos à perspectiva de inflação de 2022 --cada vez mais importante nos cenários do BC-- vindos da pressão sobre a taxa de câmbio, afetada pelo baixo retorno oferecido por juros reais em mínimas históricas.
"Em outras palavras, talvez mais do que a inflação, são as considerações de gestão de risco financeiro que justificariam a retirada de parte do atual nível excepcional de acomodação monetária mais cedo e/ou mais rápido do que o cenário de inflação e crescimento (conforme capturado pela tradicional Regra de Taylor) exigiria", comentou.
O UBS BB reconheceu as maiores chances de aumento da Selic em março, mas decidiu manter projeção de quatro altas de 0,50 ponto percentual a partir de maio.
"O BC também observou que não há vínculo mecânico entre um aumento da taxa e remoção do 'forward guidance', esperamos que o PIB retraia 0,7% no primeiro trimestre sobre os três meses anteriores, devido ao fim dos principais programas de transferência de renda e esperamos que o governo deva impedir uma renovação nas transferências de renda após as eleições para as lideranças do Congresso e o debate sobre o orçamento de 2021 em fevereiro", afirmou em nota o economista Fábio Ramos.
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