Amazônia caminha para espiral de morte com salto no desmatamento em 2020
Por Jake Spring
BRASÍLIA (Reuters) - Uma área do tamanho de Israel foi desmatada no bioma da Amazônia no ano passado, quando a destruição aumentou 21% na região que se estende por nove países e abriga a maior floresta tropical do mundo, de acordo com a organização Amazon Conservation.
Sob esse índice acelerado, a floresta amazônica atingirá um ponto de inflexão em de 10 anos a 20 anos, após o qual entrará em uma espiral sustentada de morte e secará, transformando-se em uma savana, disse Carlos Nobre, cientista da Universidade de São Paulo.
Cerca de 17% a 18% do bioma já foi destruído, e com 1% a mais de desmatamento a cada três anos, o ponto de inflexão de 20% a 25% de destruição está se aproximando rapidamente, afirmou Nobre, que não faz parte da Amazon Conservation.
"É fundamental atingir o desmatamento zero em toda a Amazônia em menos de cinco anos", disse Nobre.
Um primeiro olhar da Amazon Conservation sobre o desmatamento no ano inteiro de 2020 mostra que cerca de 21 mil quilômetros quadrados de floresta de crescimento antigo foram cortados ou queimados, o equivalente ao tamanho de Nova Jersey, segundo as descobertas do grupo norte-americano sem fins lucrativos em sua análise de dados de satélite.
"Estes números são atordoantes", disse Matt Finer, que comanda o projeto de monitoramento amazônico da ONG.
O bioma da Amazônia é dominado majoritariamente pela floresta tropical, mas inclui outros ecossistemas que compartilham uma variedade semelhante de plantas e animais. Muitas partes da Amazônia sofreram com um clima mais seco no ano passado, e por isso ficaram mais suscetíveis a incêndios.
A Bolívia respondeu pelo maior aumento da destruição na comparação com 2019, já que incêndios enormes devastaram as florestas secas de Chiquitano, disse Finer. Muitos bolivianos usam táticas de corte e queima para liberar terras para o gado e a soja, e as chamas podem sair de controle e invadir a floresta em condições secas.
A Bolívia anunciou um estado de emergência em outubro, dizendo que 600 famílias haviam sido afetadas pelos incêndios.
Depois da Bolívia, Peru, Colômbia e Equador testemunharam aumentos menores do desmatamento.
O Brasil é o campeão de desmatamento, respondendo por 61% dos focos de incêndio na Amazônia como um todo, embora a destruição florestal de 2020 tenha sido semelhante à de 2019, segundo Finer.
"Acho que 2019 é visto como um ano muito ruim para a Amazônia brasileira. (O ano de) 2020 teve menos notícias e atenção, mas foi igualmente ruim, se não pior."
Os dados de 2020 se baseiam em uma análise preliminar de alertas de desmatamento gerados pela Universidade de Maryland, e as cifras definitivas serão confirmadas mais tarde neste ano.
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