Dólar tem maior queda em 6 semanas com BC, vacinas, PEC e exterior
Por José de Castro
SÃO PAULO (Reuters) - A quarta-feira foi de queda do dólar no mundo, e no Brasil desta vez não foi diferente. A moeda norte-americana caiu mais de 2%, na maior baixa em seis semanas, e voltou ao patamar de 5,65 reais, numa sessão em que operadores analisaram duas intervenções do Banco Central, o discurso do ex-presidente Lula, esperanças de manutenção do texto da PEC Emergencial e a aprovação final nos EUA de um pacote trilionário de estímulos.
O dólar à vista caiu 2,39%, a 5,6542 reais na venda, depois de oscilar entre 5,6452 reais (-2,55%) e 5,8152 reais (+0,39%).
É a maior baixa percentual diária desde 26 de janeiro (-2,82%).
A cotação tocou as máximas ainda no começo do pregão e foi perdendo força no restante do dia, indo às mínimas já perto de 17h.
O mercado foi surpreendido já antes das 10h pelo leilão de até 1 bilhão de dólares em swaps cambiais tradicionais. No começo da tarde, o BC de novo atraiu olhares ao anunciar operação de venda de moeda no mercado spot, que resultou em colocação de 405 milhões de dólares.
Ambos os leilões chamaram atenção pelo "timing" de dólar fraco --sobretudo a venda no mercado à vista, quando a cotação já caía cerca de 0,9%.
"Acho que o BC está 'panicando' com a inflação", disse um gestor. Segundo ele, o BC estaria preocupado com a alta rápida do dólar nos últimos dias, que levou a moeda para níveis próximos de 5,90 reais e pode alimentar um maior repasse cambial aos preços da economia.
Esse debate ocorre num momento em que várias instituições financeiras já preveem inflação acima da meta neste ano e com riscos de furar o objetivo em 2022.
Profissionais do mercado comentaram ainda sobre as sinalizações dos leilões-surpresa desta quarta para a política monetária, enquanto o BC caminha para, daqui a uma semana, promover o primeiro aumento da taxa Selic em quase seis anos.
"O BC vendendo dólar em dia de baixa (da moeda) mostra o quanto estão preocupados com a inflação e tentando não ter de dar (alta de) 0,75 ponto percentual" no juro na semana que vem, disse Sérgio Machado, gestor na TRÓPICO Latin America Investments.
Analistas do Morgan Stanley, contudo, alertaram que o processo de alta de juros pode não oferecer o benefício esperado para o real, uma vez que a moeda segue afetada pelo risco idiossincrático do lado fiscal.
Outra explicação para as inesperadas intervenções cambiais do BC nesta sessão, segundo o gestor mencionado primeiramente, está relacionada a uma correção na percepção de risco. De acordo com o profissional, com a expectativa de aprovação da PEC Emergencial na Câmara sem grandes remendos, o prêmio de risco relacionado ao Brasil ajusta para baixo e, assim, não justificaria um dólar nos patamares recentes.
"Se o câmbio piora com o Brasil pior, tem que deixar (o dólar subir). Mas, do contrário, em caso de melhora no fundamento, então é aí que acho que o BC tem de agir."
Apesar de alguns ruídos, a Câmara dos Deputados aprovou na terça a admissibilidade da PEC Emergencial. Nesta quarta, depois de ter aprovado na madrugada o texto-base da proposta, a Câmara manteve no texto gatilho que veta reajustes salariais e progressões de carreira para o funcionalismo público em caso de restrições fiscais, numa vitória para o governo e o ministro da Economia, Paulo Guedes. A PEC, contudo, ainda precisa passar por um segundo turno de votação.
Ao longo do dia, analistas avaliaram também o discurso do ex-presidente Lula destacando a necessidade de vacinação em massa e aplicação de medidas de segurança contra a Covid-19.
Enquanto isso, o ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, reafirmou a vacinação ampla da população, e o presidente Jair Bolsonaro exaltou o esforço do governo federal na compra de vacinas contra Covid-19. A fala de Bolsonaro chamou atenção por revelar preocupação com a chegada de imunizantes ao país, depois de o próprio presidente chegar a duvidar publicamente da eficácia das vacinas.
De forma unânime, analistas de mercado dizem que uma imunização em massa é necessária para a economia brasileira engatar uma recuperação consistente, o que ajudaria a reduzir pressões do lado fiscal, uma vez que haveria menor demanda por gastos para combate à pandemia.
Por fim, o câmbio reagiu já na reta final do pregão à aprovação nos EUA de um dos maiores pacotes de estímulo econômico na história norte-americana, no montante de 1,9 trilhão de dólares, para enfrentamento do coronavírus.
O índice do dólar frente a uma cesta de moedas de países ricos caía 0,19% no fim da tarde, perto das mínimas do dia e revertendo alta de 0,26% de mais cedo. A moeda dos EUA caía ante 27 de 33 rivais.
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