ENTREVISTA-Itaú BBA vê Covid-19 como variável mais importante para bolsa por reflexo fiscal e no PIB
Por Paula Arend Laier
SÃO PAULO (Reuters) - A pandemia de Covid-19 é variável mais importante para analisar como será a performance da bolsa brasileira, em razão dos potenciais efeitos no crescimento econômico e o quadro fiscal do país, avalia o estrategista-chefe do Itaú BBA, Marcelo Sa.
Uma continuidade de aumento de casos e mortes em decorrência do coronavírus pode significar novas restrições, com potenciais reflexos no PIB, além de mais recursos para balancear os efeitos econômicos e no sistema de saúde, elevando o risco fiscal.
"A visão sobre a situação fiscal e o crescimento de PIB é o que vai ditar para aonde as ações vão", afirmou Sa, que assumiu a área em fevereiro.
Dados mais recentes do Ministério da Saúde, mostram que o total de mortos da doença no país alcançava até a véspera 279.286 pessoas, com o total de infecções em 11.519.609.
Enfrentando seu pior momento na pandemia, o Brasil é o país que registra atualmente os maiores números diários de mortes e infecções notificadas no mundo na média dos últimos sete dias, de acordo com contagem da Reuters.
Apesar do sentimento mais negativo para a bolsa no curto prazo, em meio à piora macroeconômica e expectativa negativa para a safra de balanços do segundo trimestre no país, por causa da pandemia, Sa espera um ambiente melhor no segundo semestre.
Na semana passada, a equipe de economia do Itaú Unibanco revisou projeção de crescimento do PIB para 3,8% em 2021 (ante 4%) e elevou a de inflação para 4,7% (ante 3,8%). Para a taxa de câmbio, a expectativa é de 5,30 reais por dólar no final do ano.
Entre os componentes que "jogam a favor" na segunda metade do ano, o estrategista destaca a recuperação na economia global em andamento, principalmente China e Estados Unidos.
No cenário norte-americano, ele cita a perspectiva de grande parte da população estar vacinada neste semestre, a aprovação do pacote econômico de 1,9 trilhão de dólares e manutenção, por ora, dos juros - quadro que tende a beneficiar commodities.
Em relação ao Brasil, ele destacou uma certa estabilização do risco fiscal com a aprovação da PEC Emergencial, assim como novos contratos para compra de vacinas contra o coronavírus, que devem chegar nos próximos meses.
"Quando aumentar o ritmo de vacinação, vamos começar a ver uma luz no fim do túnel, que é algo que hoje está difícil de verificar", afirmou.
O Itaú BBA prevê o Ibovespa a 135 mil pontos no final do ano, conforme estimativa divulgada no mês passado, que revisou a projeção anterior, de 118 mil. Nesta terça-feira, o Ibovespa oscilava ao redor dos 114 mil pontos.
BRASÍLIA
No que diz respeito à recente reviravolta na cena eleitoral para 2022, com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva recuperando direitos políticos, Sa destaca que ainda há muitas variáveis em aberto.
"Uma dúvida que se tem é se a entrada de Lula (na corrida presidencial) inviabiliza um candidato de centro, mas ninguém tem essa resposta ainda", afirmou.
Outro questionamento, que reforça o foco no quadro fiscal do país, acrescenta, é se o governo de Jair Bolsonaro buscará a pauta mais liberal ou se irá por um caminho com menor controle da parte fiscal para tentar buscar uma reeleição.
ESTRANGEIROS
Quanto às reformas, Sa observa engajamento para aprovar a administrativa, enquanto se diz "não tão otimista" para a tributária, que considera mais complexa. O que pode passar neste ano, estima, são microreformas, com a autonomia do Banco Central.
"Seria algo bem importante para investidores estrangeiros ter alguma reforma sendo aprovada", afirma o estrategista do Itaú BBA, após forte saída de capital externo da bolsa neste ano depois do episódio de interferência de Bolsonaro no comando da Petrobras.
"Os estrangeiros estão olhando a questão fiscal e os próximos passos."
Após saldo positivo de 23,6 bilhões de reais de capital externo no segmento Bovespa em janeiro, as saídas superaram as entradas em 6,8 bilhões de reais em fevereiro e continuam prevalecendo em março, em 2,1 bilhões de reais.
IPOs
Sa não descarta que novas empresas desistam de planos de IPO, em particular se o cronograma de precificação coincidir com momentos de maior volatilidade ou tensão nos mercados, mas enxerga um fluxo de operações ainda muito forte.
Nem a esperada elevação da Selic neste ano, na visão dele, tende a frear essas operações, assim como não deve reverter a tendência de migração de investidores para a bolsa, uma vez que o juro real continuará muito baixo.
O Itaú espera que o Banco Central eleve a taxa básica de juros Selic, atualmente em 2% ao ano, em 0,5 ponto percentual na quarta-feira, acelerando o ritmo ao longo do ano e terminando 2021 em 5,5% ao ano.
"Não acho que inviabiliza esse movimento de bolsa", afirmou. A B3 encerrou 2020 com 3,26 milhões de investidores ativos, quase o dobro do registrado um ano antes, com 407 empresas listadas, de 391 companhias no final de 2019.
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