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Yellen agora se diz aberta a pagamentos de dividendos e recompra de ações por bancos dos EUA

24/03/2021 12h51

Por Ann Saphir e David Lawder

(Reuters) - A secretária do Tesouro dos Estados Unidos, Janet Yellen, disse nesta quarta-feira que os bancos norte-americanos parecem saudáveis ​​o suficiente para poderem pagar dividendos e recomprar ações, uma avaliação atualizada que reflete a crescente confiança das autoridades econômicas na recuperação da pandemia do coronavírus.

Yellen fez seus comentários no segundo dia de depoimento no Congresso ao lado do chair do Federal Reserve, Jerome Powell. As audiências fazem parte de uma avaliação econômica trimestral que eles devem fazer.

Questionada pelo presidente do Comitê Bancário do Senado, Sherrod Brown, se ela se opunha ao pagamento e recompra de ações por bancos, Yellen disse que antes era contra a recompra de ações, mas que as instituições financeiras parecem mais saudáveis ​​agora e "deveriam ter alguma capacidade de, obedecendo às regras, dar retorno aos acionistas".

Yellen e Powell --em comentários preparados que espelharam os feitos na terça-feira perante o Comitê de Serviços Financeiros da Câmara dos Representantes-- ofereceram uma perspectiva otimista para a economia, alimentada por expectativas de progresso contínuo contra a pandemia, na esteira da distribuição de vacinas e da aprovação de um pacote de 1,9 trilhão de dólares para alívio econômico.

"Será um ano muito, muito forte no caso mais provável", disse Powell em resposta à pergunta de um senador sobre as perspectivas econômicas.

A recuperação econômica dos EUA está evoluindo mais rapidamente do que o esperado, mas ainda enfrenta riscos da pandemia, de um lado, e de potencial inflação, do outro, à medida que um apoio fiscal maciço penetra na economia.

A resposta federal à crise, incluindo gastos de cerca de 5 trilhões de dólares e apoio considerável do banco central dos EUA, preparou o terreno para uma retomada que agora está se firmando à medida que o programa de vacinação contra a Covid-19 ganha impulso e as restrições à pandemia são suspensas.

No entanto, ainda não está claro com que rapidez milhões de trabalhadores ainda desempregados encontrarão seu caminho de volta aos empregos, se o Fed pode manter os mercados equilibrados em meio a inflação e rendimentos de títulos em alta e se o progresso inicial contra a pandemia pode ser sustentado.

ASSISTÊNCIA INTERNACIONAL

Assim como na terça-feira, Yellen foi pressionada por republicanos sobre seu apoio a uma alocação de reservas de emergência do Fundo Monetário Internacional (FMI) para ajudar países mais pobres duramente atingidos pela pandemia a evitar cortes de gastos.

Vários dos parlamentares também expressaram preocupações de que a expansão levasse a novos encargos para os contribuintes dos EUA, o que gerou uma discussão hostil entre Yellen e o senador republicano John Kennedy, da Louisiana.

Kennedy alegou que o plano envolvendo os direitos especiais de saque (SDR, na sigla em inglês) exigiria que o Tesouro emitisse 180 bilhões de dólares em novas dívidas para fornecer recursos a países, que então converteriam o SDR para suas respectivas divisas.

Os SDRs, a unidade de câmbio do FMI, são baseados em uma cesta de moedas que inclui dólares norte-americanos, euros, libras esterlinas, ienes japoneses e iuanes chineses.

Yellen refutou essa ideia, dizendo que não haveria nenhum custo líquido para os contribuintes e que os juros sobre quaisquer títulos do Tesouro emitidos seriam compensados ​​pelos juros auferidos na carteira de SDR.

"Eu encerro meu caso!" Kennedy disse.

Yellen retrucou: "Não há dinheiro a ser devolvido. Não importa. Os juros que ganhamos sobre qualquer excesso de SDRs compensam o custo de emissão de títulos do Tesouro, e fica essencialmente uma coisa pela outra."

"Sem desrespeito, mas acho que você está errada. Acho que vamos ter que pegar emprestados todos os 180 bilhões de dólares disso", rebateu Kennedy.

"Não sei de onde você tirou um número assim", respondeu Yellen.

PREOCUPAÇÕES CLIMÁTICAS

A adoção pelo governo Biden de uma política climática que incentive investimentos em atividades de baixo ou nenhum carbono também foi questionada novamente, com republicanos expressando preocupações de que o Tesouro e o Fed possam começar a desencorajar ativamente os bancos de fornecer financiamento para empresas de energia.

Kennedy, que representa um dos principais Estados produtores de energia do país, disse a Powell que lhe preocupava que os bancos centrais de outros países estivessem adaptando sua política monetária para levar em conta questões "fiscais" como pegadas de carbono ou preços de habitação.

"Algumas pessoas vão bater em você, senhor chairman, como você roubou o Natal para se envolver na política social sob o disfarce de política econômica. E para a saúde de longo prazo do Federal Reserve, você precisa resistir a isso", disse o senador.

Powell, com a maneira cortês de sempre, concordou.

"Sair de nossa base e desviar-se de nosso mandato é algo que colocará a independência em risco a longo prazo", disse Powell. "Se vamos jogar em todas as questões, a defesa da nossa independência enfraquece."