IPCA
0,83 Abr.2024
Topo

Risco fiscal segue elevado apesar de melhora recente nos números, diz BC

Banco Central diz que risco fiscal segue elevado apesar de melhora recente nos números da economia - ADRIANO MACHADO
Banco Central diz que risco fiscal segue elevado apesar de melhora recente nos números da economia Imagem: ADRIANO MACHADO

Marcela Ayres

30/09/2021 10h30Atualizada em 30/09/2021 18h04

O risco fiscal brasileiro segue elevado apesar da melhora recente nas contas públicas, avaliou o Banco Central nesta quinta-feira, pontuando que há incerteza tanto do lado das receitas, cujo aumento recente pode não ser sustentável, quanto do lado das despesas, em meio a indefinições associadas ao Bolsa Família e à conta de precatórios.

Em seu Relatório Trimestral de Inflação, o BC afirmou que houve aumento "relevante" da curva de juros neste cenário, o que impacta o custo de financiamento da dívida pública no longo prazo. Mas destacou que, apesar disso, o mercado seguiu mais otimista quanto à evolução da dívida, considerando as estimativas coletadas pelo boletim Focus.

O BC pontuou que uma análise sobre as projeções entre o fim de 2020 e o momento atual mostra que a queda de 13,8 pontos esperada para a relação dívida bruta/PIB em 2021, ao nível previsto de 82%, ocorre fundamentalmente pela reavaliação positiva para o PIB nominal (-9 pontos) e melhor cenário para o resultado primário este ano (-4 pontos).

O BC alertou, nesse sentido, que apesar da forte contribuição de fatores alheios à dinâmica fiscal, essa melhora foi incorporada nas expectativas de médio e longo prazo: a estimativa para a dívida bruta em 2029 caiu 5,3 pontos em relação ao patamar apontado no seu relatório de junho.

"Nesse contexto, o Comitê de Política Monetária (Copom) reconhece que o risco fiscal segue elevado, apesar da melhora recente nos indicadores de sustentabilidade da dívida pública", afirmou.

"Caso as recentes dúvidas quanto à continuidade do processo de consolidação fiscal não sejam dirimidas, essa melhora recente pode não se manter", complementou.

O BC pontuou que, caso os agentes percebam possível mudança no regime fiscal —numa provável menção à regra do teto de gastos— poderá haver impactos "sobre prêmios de risco do país, a taxa de juros neutra, as expectativas de inflação e, consequentemente, a política monetária".

O alerta do BC vem num momento em que autoridades do Ministério da Economia têm ressaltado a forte melhora fiscal esperada para este ano, com a dinâmica do teto assegurando o direcionamento de receitas mais altas para o resultado primário e não para a formação de novas despesas.

Recentemente, o governo melhorou a projeção de déficit primário em 2021 a 139,4 bilhões de reais, equivalente a 1,6% do PIB. Em abril, a estimativa era de que o rombo no ano chegaria a 3,5% do PIB.

Em diversas ocasiões, o ministro da Economia, Paulo Guedes, repetiu a mensagem que os barulhos políticos estariam contaminando a economia, mas que o quadro fiscal brasileiro estaria "firme e forte".

No relatório, o BC ponderou haver "incerteza sobre quanto do recente aumento do nível das receitas é permanente". De um lado, a autoridade monetária afirmou que a neutralidade da reforma tributária —que já passou na Câmara dos Deputados, mas ainda depende do voto do Senado— não está assegurada.

O BC também lembrou do peso da decisão judicial da exclusão do ICMS da base do PIS/Cofins, com provável impacto para a arrecadação, e da influência recente de outros fatores considerados incertos sobre o aumento de receitas, como o aumento do preço das commodities em reais (que ajudaram as receitas com exploração de petróleo a subir 50% no acumulado até julho), e recolhimentos atípicos de Imposto de Renda e CSLL das empresas (com alta de 21 bilhões de reais no acumulado do ano).

Em relação ao cenário das despesas, o BC destacou indefinições sobre o financiamento do novo Bolsa Família, batizado pelo governo de Auxílio Brasil, além da maior despesa projetada com sentenças judiciais (precatórios) e a menor desaceleração da inflação no segundo semestre deste ano.

Todos esses fatores, ressaltou o BC, "são temas com impacto potencial sobre o conjunto de despesas programadas para 2022".