Dólar desce a mínimas desde julho passado com fluxo e exterior positivo
Por José de Castro
SÃO PAULO (Reuters) - O dólar seguiu perdendo valor e fechou numa mínima em seis meses e meio, na terceira queda seguida, com operadores reagindo a uma melhora global de ativos de risco após o banco central norte-americano evitar nova surpresa altista para os juros na ata de sua última reunião de política monetária nesta quarta-feira.
A manutenção do tom do Federal Reserve (Fed, banco central dos EUA) deu mais fôlego a um movimento já em curso de fluxos de capital ao Brasil e que mais cedo já havia deixado o real entre as divisas com melhor performance no dia, mesmo quando pares emergentes perdiam valor.
Um profissional da área de câmbio de um banco avaliou a ata do Fomc como "sem grandes novidades" e afirmou que os benefícios da combinação entre tônica do Fed, commodities em alta e vencimentos de contratos de opção e futuros na B3 se refletiram em aumento de liquidez na bolsa e queda do dólar pelo fluxo.
As vendas de dólar aceleraram na parte da tarde também em meio a um noticiário interno visto como benigno.
O Ministério da Economia disse à Reuters com exclusividade que o governo estuda isentar estrangeiros que investem em títulos privados do pagamento de imposto de renda sobre seus ganhos de capital, medida que poderia atrair, assim, mais dólares.
Aliás, o Banco Central informou nesta quarta ingresso líquido de 845 milhões de dólares na semana passada, elevando o total no acumulado de 2022 a 6,57 bilhões de dólares.
A possibilidade de que mudanças na tributação dos combustíveis em discussão no Congresso tenham menor amplitude, como deseja o ministro da Economia, Paulo Guedes, também foi comentada nas mesas de operação, que seguem a minimizar risco de cenários extremos independentemente do desfecho eleitoral.
O dólar à vista caiu 0,99%, a 5,129 reais na venda. É o menor patamar desde 29 de julho do ano passado (5,0795 reais).
A moeda ficou em baixa ao longo de todo o dia, oscilando entre 5,179 reais (-0,03%) e 5,128 reais (-1,01%).
Em três sessões consecutivas de baixa, o dólar perdeu 2,17%. Em fevereiro, a queda é de 3,33%, enquanto em 2022 já atinge 7,98%.
O real tem o melhor desempenho global tanto no mês quanto no ano. A virada no juro real brasileiro --que está positivo em cerca de 6,8% (taxa do swap DIxPré menos IPCA em 12 meses previsto na Focus) depois de fechar 2021 negativo em 5,2%-- tem sido o guia para a liderança da moeda doméstica no período.
A perspectiva melhor já leva inclusive a cenários de maior emissão de títulos denominados em reais e voltados para investidores de varejo do Japão, de quem o real no passado era a menina dos olhos.
"Acreditamos que os títulos uridashi denominados em real têm potencial para atrair alguns fluxos de investimento novamente daqui para frente devido aos recentes aumentos nos juros reais e ao desempenho superior do real, principalmente porque a lira turca parece fora da lista de favoritas", afirmaram estrategistas do Barclays em relatório.
Os uridashis são liquidados em ienes; portanto, quando a moeda de juro alto na qual o título é emitido se desvaloriza, o investimento pode sofrer prejuízo.
Desde as mínimas de dezembro passado, o real salta quase 14% frente à divisa japonesa.
Com a nova queda do dólar, algumas medidas de indicadores técnicos ficaram ainda mais esticadas. O índice de força relativa de 14 dias (IFR-14) --que mede quão fora de padrão está o movimento de preço de um ativo financeiro-- caiu para 24,9 nesta quarta, menor patamar desde outubro de 2018. Leituras abaixo de 30 costumam apontar que o preço do ativo (no caso, o dólar) está excessivamente baixo, o que poderia estimular alguma correção para cima.
Ao longo da última década, o IFR-14 operou nos patamares atuais apenas em outras cinco ocasiões --em quatro delas, o dólar entrou em rota ascendente em seguida ou poucas semanas depois de cair a esses níveis mínimos.
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