Dólar tem recuperação ante real após perdas recentes; mercado monitora tensão geopolítica
Por Luana Maria Benedito
SÃO PAULO (Reuters) -O dólar subia ligeiramente ante o real nesta quinta-feira, recuperando-se de fortes perdas registradas nas últimas sessões em meio a juros domésticos atrativos, enquanto investidores acompanhavam com cautela o noticiário em torno das tensões nas fronteiras ucranianas.
Às 10:13 (de Brasília), o dólar à vista avançava 0,37%, a 5,1480 reais na venda. No pico do dia, a moeda foi a 5,1514 reais na venda (+0,44%).
Na B3, às 10:13 (de Brasília), o contrato de dólar futuro de primeiro vencimento subia 0,13%, a 5,1570 reais.
Alexandre Netto, chefe de câmbio da Acqua-Vero Investimentos, disse à Reuters que a atenção dos mercados nesta sessão estava sobre a movimentação militar russa na fronteira com a Ucrânia, com informações aparentemente divergentes sobre a retirada de tropas e notícias sobre supostos disparos.
Apesar da leve alta desta manhã, que Netto descreveu como "só volatilidade na abertura", a "tendência segue de apreciação do real, com fluxo de investidores tanto para a bolsa quanto renda fixa" brasileiras, afirmou o especialista.
O dólar vem de uma sequência de três pregões consecutivos de queda, período em que acumulou baixa de 2,17% contra o real. Na véspera, a moeda norte-americana spot fechou em 5,129 reais na venda, mínima desde 29 de julho do ano passado (5,0795 reais), o que representa desvalorização de quase 8% até agora em 2022.
O enfraquecimento recente do dólar tem sido atribuído por investidores ao patamar elevado da taxa Selic, atualmente em 10,75% ao ano. Um maior diferencial entre os custos de empréstimo de Brasil e grandes economias torna o real mais atrativo para estratégias cambiais de "carry trade", que buscam lucrar com divisas de juro maior.
Nos Estados Unidos, maior economia do mundo e destino considerado bastante seguro para investimentos, os juros reais estão em território negativo, apesar da indicação recente do banco central norte-americano de que começará a elevar as taxas de empréstimo no mês que vem.
Estrategistas do Citi também atribuíram a recente performance positiva da moeda brasileira a leilões da cessão onerosa --de áreas exploratórias de petróleo e gás-- no Brasil, que teriam ajudado a impulsionar o ingresso de fluxos estrangeiros no país na primeira metade de fevereiro.
Mas, em relatório desta quinta-feira, os especialistas do credor norte-americano afirmaram que esse comportamento pode não se manter a partir de agora, já que, historicamente, a segunda metade deste mês não é sazonalmente favorável à adoção de novas posições compradas em real.
O Citi alertou ainda para a permanência de incertezas no ambiente local: "existe uma chance não negligenciável de que algum tipo de flexibilização fiscal seja aprovado, de modo que os riscos domésticos podem ganhar força novamente."
Depois de já ter abalado a credibilidade das contas públicas no ano passado com a alteração da regra do teto de gastos, o governo do presidente Jair Bolsonaro têm preocupado os mercados com indicações de reajustes salariais para algumas categorias do funcionalismo público, o que elevaria as despesas da União.
No final do mês passado, já foi anunciado reajuste de 33,24% para o piso salarial dos professores, decisão que desagradou prefeitos e governadores pelo temor de pressão fiscal e efeito de bola de neve entre as demais categorias.
Além disso, tramitam no Congresso dois projetos que visam combater a alta nos preços dos combustíveis, tema que levantou temores de impacto negativo na arrecadação federal.
(Edição de Camila Moreira)
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