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Dólar tomba 2,6% ante real após eleição de Lula com alívio sobre transição de poder

31/10/2022 17h09

Por Luana Maria Benedito

SÃO PAULO (Reuters) - O dólar caiu quase 2,6% nesta segunda-feira e registrou a menor cotação para encerramento em dez dias, com investidores reagindo positivamente à redução de temores sobre possível contestação do resultado das eleições presidenciais, depois que apoiadores do presidente Jair Bolsonaro (PL), chefes de várias instituições brasileiras e líderes internacionais reconheceram a vitória de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) no pleito de domingo.

A moeda norte-americana à vista fechou em baixa de 2,59%, a 5,1652 reais na venda, maior depreciação percentual diária desde o último dia 3 (-4,03%) e cotação mais baixa para encerramento desde o dia 21 passado.

O tombo desta sessão fez o dólar aprofundar as perdas em outubro, mês marcado por aumento da volatilidade devido ao processo eleitoral, para 4,24% --maior queda mensal desde maio passado (-3,83%).

O dólar abriu em forte alta nesta segunda-feira, e chegou a saltar 2% nos primeiros negócios, a 5,4088 reais, mas foi perdendo força ao longo do dia em meio à percepção de relativa tranquilidade no cenário pós-eleitoral.

Investidores temiam que Bolsonaro desafiasse o resultado de domingo, já que vinha atacando há meses a credibilidade das urnas eletrônicas e do processo eleitoral como um todo, mas até agora o presidente não se pronunciou, enquanto vários de seus apoiadores reconheceram a legitimidade da vitória de Lula.

Bolsonaro (PL) fará um pronunciamento nesta segunda-feira à tarde, disse à Reuters o presidente em exercício do PP, deputado federal Cláudio Cajado (BA), em meio à expectativa de que o presidente possa reconhecer a derrota nas urnas.

Por trás da forte queda do dólar e da resiliência do Ibovespa, que fechou em alta de mais de 1% nesta sessão, alguns investidores também citaram a falta de surpresas em relação ao resultado eleitoral.

"Muita coisa já estava no preço", disse à Reuters Paulo Cunha, especialista em mercado financeiro e fundador da iHUB Investimentos. "Era auferida uma probabilidade maior de o Lula de fato levar essa eleição, desde a semana passada."

Alguns participantes do mercado disseram à Reuters que também colaborou para o enfraquecimento do dólar a percepção positiva de agentes internacionais sobre Lula, cuja agenda é vista como muito mais alinhada à governança ambiental, social e corporativa (ESG, na sigla em inglês) do que a de Bolsonaro.

"A gente sabe que nos últimos anos a questão ESG é algo que vem se tornado um tema super relevante, que tem influenciado a decisão de grandes investidores, então isso pode gerar no mercado uma expectativa de que esse fluxo vai vir" para o Brasil após a vitória de Lula, explicou Filipe Villegas, estrategista da Genial Investimentos.

Ele também citou preferência de agentes estrangeiros pelo histórico diplomático de Lula na comparação com o de Bolsonaro.

Passado o resultado das eleições presidenciais, com a confirmação de que não haverá grandes turbulências políticas, a indicação de Lula para a chefia de sua pasta econômica passa a ser uma das principais prioridades do mercado, principalmente em meio a temores persistentes sobre o futuro das regras fiscais do país.

"Eu acho que vai ser super importante o Lula dar algum direcionamento sobre qual vai ser a sua equipe ministerial, quem vai ser o ministro da Economia", disse Villegas. "Hoje o mercado precifica o fluxo que pode surgir, mas não vai adiantar nada (Lula) indicar algum nome que não agrade os investidores ou que possa, digamos, fazer com que o mercado relembre decisões erradas que foram tomadas" durante governos anteriores do PT, opinou o estrategista.

A Fitch Ratings disse nesta segunda-feira que a vitória de Lula provavelmente não resultará numa grande mudança na política macroeconômica do Brasil, mas avaliou que essa perspectiva depende de sinais mais claros sobre sua agenda fiscal.

Já a agência de classificação de risco Moody's avaliou que a eleição do petista por uma margem apertada no segundo turno afasta o risco de retirada dos esforços de consolidação fiscal por parte do próximo governo ou de reversão de reformas estruturais já aprovadas.