Investidores veem polarização e planos fiscais do Brasil como principais riscos após protestos
Por Jorgelina do Rosario e Rodrigo Campos
LONDRES/NOVA IORQUE (Reuters) - As hordas de apoiadores do ex-presidente brasileiro Jair Bolsonaro que invadiram os prédios dos Três Poderes em Brasília, no domingo, foram um cheque de realidade para os investidores na maior economia da América Latina.
A polarização política do Brasil está aumentando e será um desafio para o recém-empossado presidente Luiz Inácio Lula da Silva, após sua estreita vitória na eleição de outubro.
"Desconcertante para os investidores" é como o gerente de portfólio Samy Muaddi, da T. Rowe Price, descreveu os eventos em Brasília no domingo, quando bolsonaristas radicais invadiram e depredaram o Congresso, o Palácio do Planalto e o prédio do Supremo Tribunal Federal (STF).
"Provavelmente este é um choque temporário e os resultados dos investimentos serão determinados pela trajetória da política econômica sob Lula e pelas condições financeiras globais mais amplas", disse Muaddi.
Longe de ignorar os desafios de Lula para controlar os riscos deste choque institucional, os investidores e analistas disseram, no entanto, que o foco permanece nas questões fiscais ao avaliar o novo governo a longo prazo.
"Lula trabalhará para unificar uma coalizão de trabalho no Congresso para aprovar legislação, mas terá cuidado para não prejudicar sua popularidade com medidas fiscais impopulares, potencialmente atrasando o cronograma para anunciar medidas de ajuste fiscal", disse Katrina Butt, economista sênior da AllianceBernstein LP em Nova York, à Reuters.
Ela disse que uma inflação mais baixa pode permitir ao banco central começar a cortar os juros no segundo semestre do ano, impulsionando ainda mais a economia, "mas isto também está ligado ao novo arcabouço fiscal. Se os novos parâmetros forem considerados fracos pelo mercado, isso poder renovar os receios de domínio fiscal e impedir o BC de adotar afrouxamento."
As discussões sobre o novo arcabouço fiscal são fundamentais no governo Lula.
"Devido à rápida resposta do governo, o impacto no mercado tem sido limitado", escreveu em nota Elizabeth Johnson, diretora administrativa de pesquisa para Brasil na TS Lombard, acrescentando que a violência do fim de semana "pode reduzir a pressão sobre Lula para apresentar um plano econômico nas próximas semanas e pode também retardar a agenda de reformas".
Os credores estarão de olho na dinâmica política e social nas próximas semanas, de acordo com Alberto Ramos, economista-chefe para América Latina do Goldman Sachs Group Inc.
"As manifestações violentas atestam a profunda polarização social e política pré e pós-eleitoral", disse Ramos à Reuters. "O ambiente político instável e profundamente dividido e a alta tensão social relacionada mantêm altos os prêmios de risco e podem minar a governabilidade geral."
O spread da dívida em moeda forte do Brasil em relação aos Treasuries aumentou na segunda-feira para 262 pontos-base, afastando-se ainda mais dos níveis regulares pré-pandemia que atingiu no início de dezembro. Ele continua em uma tendência descendente ante a máxima em 2022 de quase 390 pontos.
Uma oposição mobilizada com o "potencial de se tornar violenta" é a principal conclusão dos protestos de domingo para o grupo consultivo de risco político Eurasia. A tensão social pode aumentar se o governo Lula perder o apoio popular em um contexto de maiores dificuldades econômicas, segundo um relatório liderado por Christopher Garman, diretor administrativo da Eurasia para as Américas.
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