Crescimento lento e inflação alta deixam BCE em situação difícil
Por Francesco Canepa e Belén Carreño
FRANKFURT/MADRI (Reuters) - A economia da zona do euro mal está crescendo, mas a inflação no bloco continua alta, deixando o Banco Central Europeu com pouca escolha a não ser infligir mais problemas financeiros às famílias e empresas para controlar os preços.
Já sofrendo há mais de um ano os impactos do aumento nos preços dos combustíveis que se seguiu à invasão da Ucrânia pela Rússia, os habitantes da zona do euro agora estão começando a sentir os efeitos do aumento maciço de juros pelo BCE.
A produção econômica na região aumentou apenas 0,1% nos primeiros três meses do ano, conforme o consumo doméstico estagnou em muitas economias, um sinal de que o aumento da inflação e a queda da renda real estão afetando os consumidores.
O crescimento veio principalmente das exportações, resultado de um renascimento no comércio global com a reabertura da China para negócios após a pandemia.
Mas os dados nacionais mostraram que o crescimento dos preços caiu lentamente, provavelmente deixando o BCE sem escolha a não ser continuar aumentando as taxas de juros.
"Os dados de inflação de cada país mantêm a pressão para o Banco Central Europeu permanecer agressivo na reunião da próxima semana, apesar de o crescimento em todo o euro não estar muito longe da estagnação", disse Charles Hepworth, diretor de investimentos da gestora de ativos GAM Investments.
Espera-se que o BCE eleve as taxas pela sétima reunião consecutiva em 4 de maio, com os formuladores de política monetária avaliando outro aumento de 0,50 ponto percentual contra os méritos de desacelerar o aperto para 0,25 ponto.
Os dados de inflação de sexta-feira mostraram que o progresso foi lento.
A inflação na Alemanha caiu para 7,6% em abril, de 7,8% no mês anterior. Enquanto Portugal e Irlanda registraram quedas mais acentuadas no crescimento dos preços, este manteve-se muito acima do objetivo de 2% do BCE.
A inflação aumentou também na França e na Espanha, em grande parte como resultado da redução ou eliminação gradual de alguns subsídios à energia. Mas em um vislumbre potencialmente positivo para o BCE, houve alguns sinais de que os preços dos alimentos estão diminuindo nos dois países, assim como na Alemanha.
O aumento das contas de supermercado tem sido um dos principais impulsionadores da inflação geral na zona do euro nos últimos meses, alavancadas por custos mais altos de combustível, clima desfavorável e alguma expansão de margem por parte das empresas.
Os dados de inflação para a zona do euro como um todo serão divulgados em 2 de maio, junto a uma pesquisa do BCE com os bancos que as autoridades monetárias considera críticos para a decisão.
FMI PEDE MAIOR AUMENTO DE JUROS
Os mercados monetários precificam atualmente 0,7 ponto percentual de aumento de juros do BCE até outubro, possivelmente seguidos por cortes já no início do próximo ano.
O Fundo Monetário Internacional desafiou essas expectativas na sexta-feira, pedindo ao BCE que continue aumentando as taxas de juros até meados de 2024.
A instituição também disse que os ministros das finanças da União Europeia devem apertar a política fiscal em uma ação para reduzir a inflação elevada, o que provavelmente reduzirá ainda mais o consumo.
"Na segunda metade do ano, os aumentos maciços das taxas pelos bancos centrais em todo o mundo devem frear o crescimento", disse o economista sênior do Commerzbank, Christoph Weil.
A maior economia da zona do euro, a Alemanha, já estava estagnada, pois uma queda no consumo do governo e das famílias compensou um aumento nas exportações e no investimento de capital.
As economias do sul da Europa Itália, Espanha e, em menor medida, Portugal foram as principais beneficiárias de um impulso no comércio, crescendo 0,3% a 0,5% de janeiro a março em comparação com os últimos três meses de 2022.
Mas Espanha e Portugal, onde uma alta proporção de hipotecas de taxa flutuante torna o aumento das taxas de juros particularmente doloroso para as famílias, viram o consumo privado cair ou desacelerar.
"Todo o crescimento (espanhol) vem do setor externo devido a uma enorme recuperação nas exportações", disse Angel Talavera, economista da Oxford Economics.
(Reportagem adicional de Miranda Murray, Maria Martinez, Andrei Khalip, Geert de Clercq, Gavin Jones e Padraic Halpin)
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