PIB do Brasil supera expectativas no 1º tri com melhor desempenho do agro desde 1996
Por Camila Moreira e Rodrigo Viga Gaier
SÃO PAULO/RIO DE JANEIRO (Reuters) - A economia brasileira voltou a crescer no primeiro trimestre deste ano e superou as expectativas com o melhor resultado para a atividade desde o final de 2020, refletindo o desempenho mais forte do setor agrícola em quase três décadas.
A performance melhor do que o esperado de alguns setores da economia no início deste ano, incluindo a de serviços, se deu a despeito da política monetária restritiva, mas a expectativa de economistas é que o impacto dos juros altos pese com mais intensidade à frente, contendo o crescimento no ano.
O Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil cresceu 1,9% no primeiro trimestre na comparação com os três meses anteriores, de acordo com dados divulgados nesta quinta-feira pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Isso representa uma forte retomada depois de a economia ter contraído 0,1% nos três últimos meses de 2022, em dado revisado pelo IBGE de retração de 0,2% informada antes.
O resultado da atividade econômica ainda ficou acima da expectativa em pesquisa de Reuters de um avanço de 1,3%, marcando o nível mais elevado desde o quarto trimestre de 2020.
Na comparação com o primeiro trimestre de 2022, o PIB teve expansão de 4,0%, ante expectativa de 3,0% nessa base de comparação.
"O PIB está 6,4% acima do pré-pandemia. Dos grandes setores, agro e serviços se encontram no maior patamar da série iniciada em 1996. Pela ótica da produção, apenas a indústria não atingiu esse pico e segue sendo o do fim de 2013", afirmou a coordenadora de Contas Nacionais do IBGE, Rebeca Palis.
Na semana passada, o governo melhorou a projeção oficial para o desempenho da atividade econômica neste ano, passando a prever um crescimento de 1,91%, e o Ministério da Fazenda avaliou nesta quinta que o resultado do PIB elevou o viés positivo para essa projeção.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou em uma rede social que os resultados "comprovam que nosso país já está melhorando". "E vamos seguir trabalhando para distribuir esse crescimento com o povo brasileiro", disse.
A ministra do Planejamento, Simone Tebet, previu que o PIB poderá crescer até 2,3% este ano. A mais recente pesquisa Focus realizada pelo Banco Central mostra que a expectativa do mercado é de uma expansão de 1,26% do PIB este ano, mas economistas passaram a revisar para cima suas projeções nesta quinta-feira, após os dados do IBGE, com várias instituições vendo crescimento de mais de 2%.
SAFRAS RECORDES
O principal motor da economia no primeiro trimestre deste ano foi a agropecuária, com safras recordes que acabam tendo impactos positivos, ainda que pontuais, em outros setores que se relacionam à agropecuária, como indústria e serviços.
O setor, que tem peso de aproximadamente 8% da economia do país, registrou no primeiro trimestre um crescimento de 21,6% sobre os três meses anteriores, o melhor resultado desde o quarto trimestre de 1996.
“Problemas climáticos impactaram negativamente a agropecuária ano passado e esse ano estamos com previsão de safra recorde de soja, que representa aproximadamente 70% da lavoura no trimestre, com crescimento de mais de 24% de produção", disse Palis. "Tem esse efeito recorde e a comparação com o quarto trimestre também favorece."
No entanto, esses efeitos positivos da agropecuária devem ficar restritos ao período da safra, com Palis ressaltando que a safra da soja é concentrada no primeiro semestre do ano.
SERVIÇOS
Ainda sob a ótica da produção, os serviços, que têm o maior peso no indicador, também se destacaram neste início de ano, com expansão de 0,6% no primeiro trimestre sobre os últimos três meses de 2022.
Segundo o IBGE, esse resultado foi puxado, principalmente, pelas altas nos setores de transportes e atividades financeiras, ambos com crescimento de 1,2%.
Por outro lado a indústria recuou 0,1%, marcando o segundo trimestre seguido no vermelho.
Sob a perspectiva da demanda, as despesas das famílias aumentaram 0,2% e as do governo cresceram 0,3%. Mas a Formação Bruta de Capital Fixo, uma medida de investimento, teve queda de 3,4%, no segundo resultado trimestral negativo e o mais intenso desde o segundo trimestre de 2021.
"Os mais afetados no PIB foram impactados pela política monetária restritiva e oferta de crédito", disse Palis, destacando tanto o consumo das famílias quanto as indústrias de transformação e construção.
Em relação ao setor externo, houve contribuição positiva já que as exportações de bens e serviços recuaram 0,4%, enquanto as importações despencaram 7,1%, também marcando o segundo trimestre de retração, a mais forte desde o terceiro trimestre de 2020.
"O detalhamento dos dados sugere que a economia não está tão forte quanto a alta de 1,9% sugere. Ainda assim, o forte aumento nos levou a revisar para cima nossa estimativa de crescimento do PIB para este anos a 2,3% (1,0% antes)", afirmou em nota o economista chefe de mercados emergentes da Capital Economics, William Jackson.
O ritmo do PIB no primeiro trimestre soma-se a uma desinflação em curso no país para compor o quebra-cabeças diante do Banco Central na condução da política monetária, foco de intensas críticas do governo.
A avaliação de analistas, no entanto, é de que a economia deve sentir ainda ao longo do ano os impactos do encarecimento dos custos de empréstimo, com setores industriais ligados ao crédito mais fortemente atingidos e endividamento elevado no país, além de uma desaceleração global.
"Para o restante do ano, a expectativa é de uma maior estabilidade do PIB, sentindo os efeitos do aperto monetário do Banco Central, a dissipação dos efeitos do agro, que são mais concentrados no primeiro trimestre, e o cenário externo de menor crescimento", avaliou Rafael Perez, economista da Suno.
Por outro lado, novas medidas de transferência de renda pelo governo, como aumento do salário mínimo e do Bolsa Família e reajuste dos salários dos servidores, além de um mercado de trabalho ainda aquecido, devem fornecer algum fôlego, ajudando a evitar uma desaceleração mais intensa do PIB.
(Reportagem adicional de Luana Maria Benedito)
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