Jornalista da Reuters depõe como testemunha na CPMI do 8 de janeiro

(Reuters) - O jornalista da Reuters Adriano Machado testemunhou nesta terça-feira perante a Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI)sobre os distúrbios em Brasília em 8 de janeiro, quando as fotos feitas por ele para a agência de notícias mostraram vândalos depredando o interior do Palácio do Planalto.

Machado, convocado como testemunha, fez um relato em primeira pessoa daquela tarde de domingo, descrevendo como um protesto contra o resultado da eleição de outubro evoluiu para a invasão do Congresso, do Supremo Tribunal Federal (STF) e do palácio presidencial.

Centenas de apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro foram presos durante os distúrbios, ocorridos apenas uma semana após a posse de seu adversário na eleição, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

O Congresso abriu uma CPMI sobre o assunto, que eventualmente resultará em um relatório e pode sugerir indiciamentos de envolvidos.

A comissão tem convocado ex-assessores de Bolsonaro para depor sobre uma suposta conspiração para anular resultados eleitorais. Parlamentares da oposição tentam encontrar evidências de que o governo foi o culpado pelos tumultos porque falhou em fornecer segurança adequada na capital.

Machado foi um dos poucos fotojornalistas a tirar fotos dentro do Planalto enquanto invasores quebravam as portas, janelas e móveis do palácio presidencial. Alguns parlamentares da oposição aproveitaram vídeos de câmeras de segurança que mostram Machado tirando fotos para sugerir que as imagens foram encenadas.

A Reuters News divulgou um comunicado nesta terça-feira reiterando seu apoio a Machado. A agência de notícias afirmou: “Nós apoiamos sua cobertura, que foi imparcial e de interesse público. Os jornalistas devem ser livres para reportar as notícias sem medo de assédio ou dano, onde quer que estejam”.

“Exerci meu trabalho corretamente, com integridade, independência e isenção de viés”, disse Machado à CPMI, após reproduzir imagens de câmeras do circuito interno de segurança divulgadas pelos assessores de segurança da Presidência da República.

Nas imagens, os manifestantes apontam para Machado, o cercam e examinam sua câmera. O fotojornalista descreveu a intimidação que sofreu. Para amenizar as tensões, ele disse que atendeu à exigência de um manifestante de apagar algumas fotos e depois apertou a mão estendida do homem.

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“Eu não conheço essas pessoas e, naquele momento e circunstância, eu não poderia deixar de retribuir o cumprimento, até mesmo por temer pela minha segurança”, disse Machado. “Eu não fiz nada de irregular, e as imagens divulgadas deixam claro que eu estava somente trabalhando e tirando fotos."

Vários parlamentares de oposição que convocaram Machado para testemunhar disseram que entendiam que ele estava no local como jornalista fazendo seu trabalho. Mas alguns insistiram que ele era cúmplice do vandalismo.

“O que nós percebemos claramente é que o senhor auxiliou, influenciou, participou, inclusive dirigiu uma cena de dano a patrimônio público”, disse o deputado da oposição Alexandre Ramagem (PL-RJ), que dirigiu a agência de inteligência brasileira Abin durante o governo Bolsonaro.

Outros parlamentares rejeitaram essa ideia e questionaram por que Machado havia sido chamado para testemunhar.

“Hoje nós estamos aqui, presidente, no anticlímax, escutando um repórter trabalhador que estava fotografando”, disse o parlamentar governista Rogério Correia (PT-MG).

“Sabe a imagem que eu fico?", questionou Correia. "O mundo está pegando fogo, o senhor vai lá e tira uma foto, uma foto do incêndio, e o senhor é responsabilizado porque tirou a foto do incêndio", e não quem botou fogo no mundo.

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A Reuters publicou mais de 100 fotografias tiradas por Machado dentro e ao redor do Palácio do Planalto em 8 de janeiro.

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