Taxas futuras de juros sobem no Brasil com IPCA-15 e discurso de Powell

Por Fabricio de Castro

SÃO PAULO (Reuters) - As taxas dos contratos futuros de juros fecharam em alta nesta sexta-feira, após três sessões de queda, reagindo a dados de inflação no Brasil acima do esperado e a comentários cautelosos do chair do Federal Reserve, Jerome Powell, sobre o controle de preços nos EUA.

No início do dia, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) informou que o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo-15 (IPCA-15) registrou alta de 0,28% em agosto. A leitura do indicador considerado prévia da inflação oficial, medida pelo IPCA, ficou bem acima da expectativa em pesquisa da Reuters, de avanço de 0,17%.

Uma das leituras no mercado foi de que uma inflação mais acelerada que o esperado reduz as chances de o Banco Central aumentar o ritmo de cortes da taxa básica Selic, atualmente em 13,25% ao ano.

Além do IPCA-15, a curva de juros brasileira reagiu ao discurso de Powell no simpósio de Jackson Hole, após as 11h. Ele afirmou que o banco central dos EUA pode precisar aumentar ainda mais a taxa de juros para garantir que a inflação seja contida nos EUA.

Powell disse ainda que as autoridades do Fed "procederão com cuidado ao decidirmos se devemos apertar mais" a política monetária, mas também deixou claro que a instituição ainda não concluiu que sua taxa básica de juros está alta o suficiente para garantir que a inflação retorne à meta de 2%.

Os comentários de Powell deram certo suporte aos rendimentos dos Treasuries entre o fim da manhã e o início da tarde, o que também se refletiu na alta das taxas dos DIs (Depósitos Interfinanceiros) no Brasil.

“Para a taxa do DI cair mais aqui no Brasil, o Fed também teria que começar a cortar (juros). Ou o diferencial (de juros) ficaria pequeno e o dólar subiria, pegando na inflação. Na prática, talvez o BC brasileiro não acelere o corte da Selic para 0,75 ponto percentual”, comentou o diretor da consultoria Wagner Investimentos, José Faria Júnior, ao avaliar o cenário norte-americano e seus efeitos sobre o Brasil.

As apostas para o encontro do Comitê de Política Monetária (Copom) do BC em setembro embutidas na curva seguiram mostrando maior probabilidade de um corte de meio ponto percentual da taxa básica Selic -- como vem sendo sinalizado pelo próprio BC.

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Perto do fechamento desta sexta-feira, a curva a termo precificava 9% de chances de o corte da Selic em setembro ser de 0,75 ponto percentual. Já as chances de corte de 0,50 ponto percentual eram precificadas em 91%.

No fim da tarde, a taxa do DI para janeiro de 2024 estava em 12,415%, ante 12,39% do ajuste anterior, enquanto a taxa do DI para janeiro de 2025 estava em 10,525%, ante 10,392% do ajuste anterior. Na ponta longa, a taxa para janeiro de 2026 estava em 10,08%, ante 9,943% do ajuste anterior, e a taxa para janeiro de 2027 estava em 10,24%, ante 10,133%.

As taxas dos Treasuries no fim da tarde seguiam em alta entre os contratos mais curtos e oscilavam próximas da estabilidade entre os longos. No mercado norte-americano, a avaliação era de que Powell deixou a porta aberta tanto para elevar mais os juros quanto para mantê-los no atual patamar.

Às 16:37 (de Brasília), o rendimento do Treasury de dois anos --que reflete apostas para os rumos das taxas de juros de curto prazo-- subia 4,60 pontos-base, a 5,0649%.

O rendimento do Treasury de dez anos --referência global para decisões de investimento-- subia 0,40 ponto-base, a 4,2393%.

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