Investidores argentinos mostram cautela enquanto Milei decide quem colocará na berlinda econômica

Por Jorgelina do Rosario

BUENOS AIRES (Reuters) - O presidente eleito da Argentina, o libertário Javier Milei, terá que anunciar um presidente para o um banco central que ele prometeu fechar anteriormente e escolher um ministro para cuidar de uma das economias sob maior pressão do mundo. Os investidores estão de olho.

A equipe de Milei supervisionará a política econômica da segunda maior economia da América do Sul nos próximos anos, e ele lidará com uma inflação acima dos 140%, reservas negativas e uma série de controles de capital. A nação, na qual quatro de cada dez pessoas vivem na pobreza, também é a maior devedora do Fundo Monetário Internacional.

Embora Milei esteja cercado por um pequeno grupo de assessores econômicos, a recente aliança com o bloco conservador tradicional que o ajudou a vencer no segundo turno provavelmente o fará negociar cargos importantes.

A vitória com 56% dos votos, mais elástica do que o esperado, pode dar força a Milei, que prometeu acabar rapidamente com os controles de capital, cortar os gastos governamentais e dolarizar a economia.

“Milei recebeu um mandato forte, para mudar o atual modelo econômico”, afirmou Armando Armenta, analista de renda fixa para América Latina e mercados cambiais na AllianceBernstein.

“Quem será escolhido... como presidente do banco central e ministro da Economia e os detalhes de um plano urgente de estabilização econômica sem maioria no Congresso serão fatores cruciais para os preços dos ativos nos próximos dias”, afirmou.

O Ministério da Economia sempre será sempre um cargo chave, sendo a Argentina uma nação que já deu default nove vezes e está há décadas em um ciclo de expansão e recessão. O país, que é um importante exportador de grãos, está enfrentando uma de suas piores crises, com uma recessão batendo à porta.

Milei assumirá o cargo em 10 de dezembro, após derrotar a coalizão peronista encabeçada pelo ministro da Economia, Sergio Massa.

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Hans Humes, chefe de investimentos na Greylock Capital Management, que detém títulos da dívida argentina, defende que Milei realize mais do que as pessoas estão esperando: “Muitos acham que a dolarização pode funcionar. Acho que ele vai fazer e que vai dar um pouco de trabalho”, disse. “Acho que sua equipe já está formada.”

INCERTEZA À FRENTE

Milei, cuja surpreendente vitória nas primárias de agosto perturbou os mercados, tem entre seus assessores o ex-vice-ministro Carlos Rodríguez, o ex-presidente do banco central Roque Fernández e Dario Epstein, chefe de uma empresa financeira.

Emilio Ocampo, que trabalhou em Wall Street por mais de duas décadas, tornou-se seu principal assessor para a dolarização.

Mas o recente apoio do magnata e ex-presidente Mauricio Macri pode significar a presença de alguns nomes amigáveis ao mercado financeiro em seu gabinete. Juan Manuel Pazos, economista-chefe da TPCG, em Buenos Aires, afirmou que o primeiro discurso do presidente-eleito teve o “tom certo” e a “mensagem correta”, na direção de aumentar seu arco de alianças.

“Milei afirmou que vai reorganizar o banco central, em vez de implodi-lo ou fechá-lo. Esse detalhe é importante”, afirmou Pazos, acrescentando que os títulos da dívida argentina devem ter boa performance após a vitória mais ampla do que o esperado.

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O novo ministro da Economia terá que renegociar um novo programa com o FMI “relativamente rápido” para evitar atrasos com o fundo, afirmou o Morgan Stanley nesta segunda-feira. O país tem um programa de 44 bilhões de dólares com o Fundo, acordado no começo de 2022 para refinanciar um fracassado empréstimo de 2018.

“Ambos os lados podem argumentar um recomeço e esquecer as atuais políticas, que desviaram o atual programa do seu curso”, escreveu o economista Fernando Sedano, do Morgan Stanley.

Massa, que só venceu Milei em Buenos Aires e nas províncias de Santiago del Estero e Formosa, disse no domingo que é responsabilidade do eleito oferecer algum grau de clareza “a partir de amanhã”: “E esperamos que ele o faça”.

Os mercados financeiros locais estão fechados nesta segunda-feira, devido a um feriado nacional.

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