Juros futuros sobem em meio a receios com área fiscal e virada dos Treasuries

Por Fabricio de Castro

SÃO PAULO (Reuters) - As taxas dos contratos de DI fecharam a terça-feira em alta, pela segunda sessão consecutiva, em meio aos temores em torno do equilíbrio fiscal no Brasil e à virada, para o positivo, dos rendimentos dos Treasuries, em dia de divulgação da ata do último encontro de política monetária do Federal Reserve.

Na segunda-feira, quando várias praças de negócios permaneceram fechadas em função do Dia da Consciência Negra, as taxas dos Depósitos Interfinanceiros (DIs) haviam subido no Brasil, após uma sequência de três sessões de queda.

Nesta terça-feira, o movimento de alta das taxas continuou, ainda que os yields dos títulos norte-americanos cedessem durante a manhã. Profissionais ouvidos pela Reuters afirmaram que os receios dos investidores sobre a área fiscal traziam certa cautela para os negócios, o que dava sustentação às taxas dos DIs.

“A preocupação maior gira em torno da discussão da meta fiscal de 2024", pontuou Eduardo Moutinho, analista de mercado da Ebury. “Os nervos dos investidores estão à flor da pele e qualquer notícia acaba tendo impacto significativo nas taxas de juros.”

Durante a tarde, surgiu a notícia de que a Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado adiou a votação do projeto que muda a forma de tributação de fundos exclusivos e offshore para quarta-feira, após um pedido de vista da oposição.

O projeto, que faz parte dos esforços do governo para melhorar a arrecadação, teve seu parecer apresentado nesta terça-feira na CAE pelo senador Alessandro Vieira (MDB-SE), relator da proposta. Logo depois, o líder da oposição, Rogério Marinho (PL-RN), pediu vista.

A intenção da oposição era que a votação da matéria ficasse para a semana que vem, mas os líderes do governo no Senado, Jaques Wagner (PT-BA), e no Congresso, Randolfe Rodrigues (sem partido-AP), alertaram que, pelo regimento, a vista teria de ser de apenas 24 horas, porque a proposta tramita sob regime de urgência.

Ainda que seja de apenas 24 horas, o adiamento repercutiu mal no mercado.

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“A votação na CAE foi adiada. Isso ajuda a elevar um pouco o prêmio na curva de juros e penaliza um pouco o real”, comentou o estrategista-chefe do Banco Mizuho, Luciano Rostagno.

Também no âmbito fiscal, seis Estados anunciaram a elevação da alíquota de ICMS, argumentando que isso é necessário para que eles não sejam prejudicados na distribuição de recursos após a entrada em vigor da reforma tributária. O movimento indica que a reforma tributária -- ainda em tramitação no Congresso -- está longe de uma definição.

Nos EUA, os rendimentos dos Treasuries cediam pela manhã, com investidores à espera da divulgação da ata do Fed, marcada para as 16h. Mas antes mesmo deste horário os yields dos títulos de dez anos migraram para o território positivo, o que deu novo suporte às taxas dos DIs no Brasil.

No documento, o Fed registrou que suas autoridades poderão adotar uma abordagem cautelosa para a taxa básica de juros dos EUA e que só precisarão aumentá-la "se" as informações recebidas mostrarem progresso insuficiente na redução da inflação.

Após a ata, os yieds de dez anos seguiram em alta, assim como as taxas dos contratos futuros de juros no Brasil.

No fim da tarde a taxa do DI para janeiro de 2025 estava em 10,55%, ante 10,481% do ajuste anterior, enquanto a taxa do DI para janeiro de 2026 estava em 10,3%, ante 10,196% do ajuste anterior.

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Entre os contratos mais longos, a taxa para janeiro de 2027 estava em 10,43%, ante 10,315%, enquanto a taxa para janeiro de 2028 estava em 10,665%, ante 10,555%. O contrato para janeiro de 2031 marcava 11,03%, ante 10,928%.

Perto do fechamento a curva a termo precificava em 97% as chances de o corte da Selic em dezembro ser de 0,50 ponto percentual. Já as chances de corte de 0,75 ponto percentual eram precificadas em 3%. Atualmente, a Selic está em 12,25% ao ano.

Às 16:44 (de Brasília), o rendimento do Treasury de dez anos -- referência global para decisões de investimento -- subia 0,40 ponto-base, a 4,4256%.

(Edição de Pedro Fonseca)

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