Dólar avança frente ao real com menor otimismo sobre Fed após comentários de Powell

Por Luana Maria Benedito

SÃO PAULO (Reuters) - O dólar subia em relação ao real nesta quinta-feira, com investidores repercutindo as decisões de política monetária da véspera de Brasil e Estados Unidos e comentários cautelosos do chefe do Federal Reserve, enquanto aguardavam um importante relatório de emprego norte-americano.

Às 10:28 (horário de Brasília), o dólar à vista avançava 0,19%, a 4,9480 reais na venda.

Na B3, às 10:28 (horário de Brasília), o contrato de dólar futuro de primeiro vencimento caía 0,01%, a 4,9605 reais.

Na quarta-feira, o Federal Reserve deixou a taxa básica de juros inalterada, mas deu um passo importante para reduzi-la nos meses à frente em uma declaração de política monetária que contrabalançou preocupações com a inflação com outros riscos para a economia norte-americana e retirou uma referência de longa data a possíveis novos aumentos nos custos de empréstimos.

Por outro lado, moderando as expectativas, o chair do banco central dos Estados Unidos, Jerome Powell, disse que o Fed precisará ver mais dados favoráveis para ter certeza de que é hora de reduzir a taxa básica de juros, e afirmou que ainda não é possível declarar vitória.

"Após o discurso de Jerome Powell, reforçando que não pretende iniciar a flexibilização de juros agora em março, tanto os índices dos Treasuries subiram quanto (houve) força do dólar globalmente, o que acaba interferindo diretamente nos mercados emergentes, considerados ativos mais arriscados", disse Márcio Riauba, gerente da mesa de operações da StoneX.

Na esteira dos comentários de Powell, os mercados passaram a ver apenas 35% de chance de um primeiro corte de juros em março --cenário que no final do ano passado chegou a ser visto como o mais provável. Agora, mais operadores veem maio como um início plausível para o afrouxamento monetário.

Enquanto isso, "estamos na véspera da divulgação do 'payroll' americano, que vai ser o outro fator bem importante para a definição dos rumos ou até para ancorar as expectativas do mercado referente ao direcionamento do Fed", acrescentou Riauba.

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No relatório de criação de empregos fora do setor agrícola do Departamento do Trabalho dos EUA, a ser divulgado na sexta-feira, leituras mais fortes tendem a jogar a favor de uma postura dura por mais tempo, enquanto surpresas para baixo poderiam resgatar as esperanças de um afrouxamento monetário mais cedo.

No Brasil, o Banco Central decidiu na véspera fazer um novo corte de 0,50 ponto percentual na taxa Selic, a 11,25% ao ano, e afirmou, em comunicado sem surpresas para analistas de mercado, que sua diretoria antevê cortes na mesma intensidade nas próximas reuniões.

"Nossa avaliação é que o comunicado veio em linha com o esperado pelo mercado, diante da manutenção do ritmo de afrouxamento monetário, refletindo a necessidade de manter uma postura cautelosa, em função das incertezas externas e domésticas, sobretudo do risco de repique da inflação de serviços subjacentes brasileira em um contexto de expressiva expansão fiscal", disse a Genial Investimentos em relatório a clientes.

A manutenção do ritmo de queda da Selic, sem espaço para aceleração do afrouxamento, sugere que os juros seguirão em patamar restritivo por algum tempo, o que deve manter a atratividade do real para uso em estratégias de "carry trade". Estas consistem na tomada de empréstimo em país de taxas baixas e investimento desse dinheiro em mercados mais rentáveis, de forma que se lucra com o diferencial de juros.

Na véspera, o dólar à vista fechou o dia cotado a 4,9384 reais na venda, em baixa de 0,16%. Em janeiro, no entanto, a moeda norte-americana acumulou elevação de 1,79%, em grande parte pela redução do otimismo em relação aos próximos passos do Fed.

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