Curva de juros reduz inclinação com queda das taxas longas e precifica corte de 0,25 pp da Selic em maio

Por Fabricio de Castro

SÃO PAULO (Reuters) - Em mais uma sessão de forte volatilidade, as taxas dos DIs de curtíssimo prazo fecharam perto da estabilidade nesta quinta-feira, enquanto as taxas mais longas tiveram baixa firme em continuidade ao movimento da véspera, com investidores ainda ajustando posições frente à perspectiva de juros mais altos no curto prazo no Brasil do que o previsto anteriormente.

No fim da tarde a taxa do DI (Depósito Interfinanceiro) para janeiro de 2025 estava em 10,435%, ante 10,43% do ajuste anterior, enquanto a taxa do DI para janeiro de 2026 estava em 10,735%, ante 10,768% do ajuste anterior.

Já a taxa para janeiro de 2027 estava em 11,02%, ante 11,049%, enquanto a taxa para janeiro de 2028 estava em 11,24%, ante 11,296%. O contrato para janeiro de 2031 marcava 11,405%, ante 11,671%.

Na quarta-feira a curva de juros brasileira já havia passado por um movimento de desinclinação, com as taxas curtas em alta firme e as longas em baixa. O movimento era resultado do reposicionamento de investidores ao novo cenário de risco fiscal maior no Brasil e perspectiva de cortes de juros mais à frente nos EUA.

Nesta quinta-feira o reposicionamento continuou.

“A curva brasileira tem uma questão particular, que tem sido a desinclinação, que vem da forte leitura que vemos do curtíssimo prazo. Ontem (quarta) as taxas curtas subiram bem e as longas caíram, com o mercado focado no reposicionamento local”, comentou o gerente da mesa de Derivativos Financeiros da Commcor DTVM, Cleber Alessie Machado.

Segundo ele, este movimento continuou nesta quinta-feira no Brasil, a despeito de no exterior os rendimentos dos Treasuries estarem sustentando ganhos em toda a curva.

Na prática, o mercado seguiu elevando as apostas de que o BC cortará a taxa básica Selic em apenas 25 pontos-base em maio -- e não em 50 pontos-base, como vinha sendo sinalizado pela instituição. Atualmente a Selic está em 10,75% ao ano.

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“E se você tem juros mais altos agora, há uma tendência de maior controle da inflação e de alívio maior (na política monetária) no futuro. Então, faz sentido a taxa curta subir e a longa cair”, comentou Machado.

Com o movimento na ponta curta, que abriu em vários momentos da sessão, a curva brasileira chegou a precificar durante a tarde 100% de chances de o BC cortar a Selic em apenas 25 pontos-base em maio. Perto do fechamento a precificação estava em 93% para corte de 25 pontos-base e 7% para corte de 50 pontos-base.

Ao mesmo tempo, profissionais ouvidos pela Reuters ponderaram que a volatilidade foi alta durante a sessão, com as taxas reagindo ora ao exterior, ora a fatores técnicos internos.

A alta do dólar, que colocou a moeda norte-americana à vista em 5,2800 reais (+0,68%) durante a tarde, foi citada como um fator que travava a queda das taxas dos DIs.

Sobre esta questão, o presidente do BC, Roberto Campos Neto, ponderou à tarde, durante evento em Washington, que um cenário com dólar forte “é sempre um problema” e pode gerar reação de bancos centrais pelo mundo.

"No caso do Brasil, o dólar é flutuante. O que é relevante para nós é o impacto do dólar na nossa função de reação, no que fazemos no BC, mas entendo que o Brasil tem uma situação diferente porque nossas contas externas são muito fortes", afirmou Campos Neto.

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No exterior, os rendimentos dos Treasuries se mantinham em alta no fim da tarde, com investidores ponderando novos dados econômicos divulgados pela manhã e declarações de dirigentes do Federal Reserve.

O presidente do Fed de Nova York, John Williams, disse que não há motivos urgentes para reduzir os juros neste momento, enquanto o presidente do Fed de Atlanta, Raphael Bostic, afirmou que não está com “muita pressa” para cortar as taxas.

Às 16h39, o rendimento do Treasury de dez anos -- referência global para decisões de investimento -- subia 5 pontos-base, a 4,637%.

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