Campos Neto evita apontar Selic terminal em 2 dígitos e cita piora externa
Por Fabricio de Castro
SÃO PAULO (Reuters) - O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, reconheceu nesta terça-feira que atualmente o mercado projeta uma Selic terminal mais elevada em função do movimento global de reprecificação de ativos, mas procurou não se comprometer com o nível da taxa básica de juros no fim do atual ciclo de cortes.
Questionado, em entrevista à CNN Brasil, sobre o fato de parte do mercado projetar atualmente uma Selic terminal de dois dígitos -- e não mais abaixo dos 10% --, Campos Neto afirmou que "hoje o mercado acha que a taxa terminal brasileira é um pouco mais alta, mas a gente precisa ver o que vai acontecer nas próximas semanas e meses".
Os comentários de Campos Neto surgem a uma semana da reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) do BC, que decidirá sobre a taxa básica Selic, atualmente em 10,75% ao ano.
No último encontro do colegiado, em março, o BC havia estabelecido um "forward guidance" de corte de 50 pontos-base da Selic neste mês de maio, mas a piora do cenário fiscal no Brasil e a expectativa de manutenção dos juros norte-americanos em patamares mais elevados mudou boa parte das apostas no mercado.
"Teve um movimento de reprecificação, de ajuste de expectativas de preço, com componente forte do externo", citou Campos Neto na entrevista.
Apesar de afirmar que a inflação brasileira está em um "processo de convergência" à meta, "mais ou menos dentro do que o BC vinha enxergando", Campos Neto ressaltou que a "situação piorou lá fora".
Sobre o Brasil, o presidente do BC voltou a citar a preocupação com o mercado de trabalho aquecido, que pode impactar a inflação e a própria política monetária.
"O BC adora quando temos um regime de emprego pleno. A preocupação vem quando empresas não conseguem contratar e precisam subir salários", afirmou.
FISCAL
Campos Neto também voltou a demonstrar preocupação com o equilíbrio fiscal dos países e a defender maior coordenação global entre as políticas monetária e fiscal.
Em relação ao Brasil, a avaliação foi de que o país tem dificuldades para cortar gastos e que o atual governo aumentou as despesas, ainda que o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, esteja atuando para "segurar" o fiscal.
O presidente do BC ponderou que países que realizam o ajuste das contas públicas a partir do aumento da receita -- e não do corte de gastos -- têm mais dificuldades para atingir o equilíbrio fiscal.
No mercado, uma das principais críticas ao arcabouço fiscal do governo Lula é justamente que o ajuste se daria pela arrecadação, e não pelo corte de despesas.
"Quando você coloca gastos indexados ao crescimento, você diminui a percepção de melhorar a trajetória da dívida", disse Campos Neto.
Ao mesmo tempo, ele pontuou que, se o Brasil realmente conseguir sair de um crescimento anual de 2% para 3%, a dinâmica fiscal começará a mudar.
Campos Neto afirmou ainda que o país precisa passar por uma "travessia" e disse que as políticas públicas "são ótimas", mas o fiscal "está quase exaurido".
Deixe seu comentário
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Leia as Regras de Uso do UOL.